Demissão de Janio é a vitória da direita radical na Folha

'O jornal não é mais capaz de encarnar a pluralidade que surgiu durante a ditadura militar e atravessou cinco décadas', escreve o colunista Mario Vitor Santos

Janio de Freitas
Janio de Freitas (Foto: Reprodução (Youtube))


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A demissão de Janio de Freitas, o colunista político que mais expressava as aspirações democráticas de uma parcela relevante dos leitores da Folha, suscitou protestos e  cancelamento de subscrições. Janio era uma voz única na Folha.

Estava em geral desassociado da linha editorial cada vez mais direitista do jornal. Encravado nas páginas da editoria de política, fazia sempre um contraponto à tendência moralista e criminalizadora da política que dominou o jornal nas últimas décadas.

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Era a voz de uma parcela dos leitores que toleravam a marcha do jornal ao conservadorismo. Agora, essa tolerância vai acabando. Resistência inabalável às pressões foi a marca de Janio, que, por suas convicções nunca ao longo das décadas se dobrou, ali onde a maioria teria cedido.

Ele precedeu o justamente elogiado projeto Folha, a quem ele foi mais valioso até do que o contrário. Janio sozinho, aliás, vale como a afirmação de um projeto. Manteve seu rumo mesmo quando aquele projeto maior foi sendo dilacerado.

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Só veio agora a ser excluído, o remanescente maior das fases mais iluministas do jornal. Foi colhido, alega-se, por dificuldades econômicas, mas na verdade o que ocorre é que o jornal vem sendo dominado por uma direita viciosa e intolerante. Esta elimina colunistas dissidentes da visão que ganhou espaço no jornal desde quando vivia Otavio Frias Filho, o próprio iniciador do Projeto Folha, que migrou para a direita com a ascensão do PT ao poder no primeiro governo Lula. Essa transição se tornou ainda mais radical com a morte de Frias Filho e a ascensão do irmão menor e banqueiro Luiz Frias.

Na disputa entre facções no Redação, venceu a direita da ditabranda. Esta é mais simpática aos olhos do Frias remanescente. Não à toa é vista como mais apropriada ao combate ao Lula 3, num jornal que não tolera mais uma voz dissidente forte como a de Janio de Freitas.

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Mais do que este, porém, perde a própria narrativa da Folha sobre si mesma. Não apenas por Janio, mas sobretudo por sua saída, o jornal não é mais capaz de encarnar a pluralidade que surgiu durante a ditadura militar e atravessou cinco décadas. Um pedaço do Brasil está órfão, em busca de uma alternativa.

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