DEM joga pôquer com Bolsonaro
"Da mesma forma que Bolsonaro, o DEM também joga. Só que o jogo desse pessoal não é pelada de várzea, é pôquer. Sabem que o presidente precisa muito de seu apoio, já têm três ministros — embora não os tenha nomeado — e, como qualquer partido que viveu tempos difíceis de jejum do poder, consideram que, entrar no governo e ser uma de suas principais sustentações seria mais ou menos como chegar ao Nirvana", escreve Helena Chagas para o Jornalista para a Democracia, lembrando que o partido, ao saber que Bolsonaro não quer apoiar Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, tirou a carta do apoio imediato ao governo
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Por Helena Chagas, para o Divergentes e os Jornalistas pela Democracia – O DEM não nasceu ontem. É filho do antigo PFL, que foi governo com Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique, e que, por sua vez, nasceu da divisão do PDS na redemocratização do país. O bisavô do DEM é a Arena, "o maior partido do ocidente", como definiu certa vez seu então presidente, Francelino Pereira, e que serviu como braço civil e político do regime militar. É muito natural, portanto, que, com esse DNA, o DEM venha a oficializar esse apoio ao governo de Jair Bolsonaro.
Com seu discurso de acabar com o toma-lá-dá-cá, o presidente eleito esnoba as estruturas partidárias e seus caciques, preferindo nomear ministros indicados pelas bancadas temáticas e fazer reuniões com as bancadas partidárias de baciada, falando para toda a galera — o que reduz a importância de seus líderes e dirigentes. No fundo, porém, Bolsonaro sabe que vai precisar muito delas — e não há outra explicação para a penca de reuniões que fez esta semana com as bancadas da centro-direita da Câmara. Nessa rodada, saiu com o apoio oficial apenas do PR, que somado ao PSL, dá pouco mais de 90 deputados. Falta muito para chegar a uma maioria minimamente segura.
Da mesma forma que Bolsonaro, o DEM também joga. Só que o jogo desse pessoal não é pelada de várzea, é pôquer. Sabem que o presidente precisa muito de seu apoio, já têm três ministros — embora não os tenha nomeado — e, como qualquer partido que viveu tempos difíceis de jejum do poder, consideram que, entrar no governo e ser uma de suas principais sustentações seria mais ou menos como chegar ao Nirvana.
Mas não podem se humilhar perante Bolsonaro. E conhecem bem a cartilha do poder, que manda que se aproveite essas ocasiões para obter o máximo possível — até porque a fase às vezes não dura muito. E o que seria o máximo, para o DEM, nesse instável governo que se avizinha? A presidência da Câmara, muito mais importante politicamente do que três ministérios nas mãos de quem a cúpula partidária não indicou.
Ao perceberem que Bolsonaro e os seus — sobretudo os filhos — não têm a menor simpatia pela candidatura do deputado Rodrigo Maia à reeleição, os dirigentes do DEM tiraram temporariamente da mesa a carta do apoio imediato ao governo. Ficou para janeiro. Na reunião da bancada com Bolsonaro nesta quarta, no CCBB, trataram de arrancar do presidente a promessa de não-interferência na eleição na Câmara.
Bolsonaro, meio encurralado, prometeu porque começou a ver os problemas que terá pela frente para votar reformas no Congresso. Se vai cumprir, não se sabe. Mas, no mínimo, vai inibir os companheiros do PSL e seus meninos de sair batendo em Maia e trabalhando contra ele na campanha que já começou.
E o apoio do neto do PDS ao governo? Ficou para outra rodada. O DEM promete, em janeiro, reunir sua executiva para tratar do assunto. Até lá, vai observar o comportamento do presidente e dos que o cercam em relação a Maia. Jogadores profissionais esperam sempre a rodada certa para baixar as cartas.
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