Debate da Band: um balanço
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No debate da Band de ontem à noite (28 de agosto), cada um de nós, apoiadores de Lula, ficou com a sensação de que faltou alguma coisa no desempenho do ex-presidente. Pareceu que ele não estava bem. Estava apático, contido demais, parecia engessado. Quando muito, foi como se estivesse dando voltas de apresentação antes da largada, reconhecendo a pista, estudando os adversários, aquecendo o motor. Por isso, concluímos, Lula perdeu. Ou pelo menos deixou de ganhar, sobretudo diante do desempenho surpreendente da candidata do MDB.
Eu, por exemplo, acho que Lula poderia ter sido mais enfático ao responder ao questionamento sobre a paridade entre homens e mulheres na composição de seu ministério. Ele se recusou a assumir o compromisso de estabelecer cinquenta por cento de cada sexo.
Errou? Tenho para mim que não. Um ex-presidente na iminência de retornar ao poder não pode permitir-se esse tipo de irresponsabilidade.
Poderia, sim, ter qualificado a resposta (eis-me aqui, mais um brasileiro mediano metido a ensinar a Lula como deveria comportar-se! Tsc, tsc), esclarecendo os motivos pelos quais não poderia comprometer-se com números, nem com nomes, sexo, etnias, estados de origem, partidos, mas tranquilizar acerca de seu efetivo compromisso em ter mulheres em número expressivo em seu governo. Sua garantia, seu legado. Poderia ter invocado sua própria experiência e lembrado nomes como Dilma Rousseff, Teresa Campelo, Eleonora Menecucci, Marta Suplicy, Matilde Ribeiro, Miriam Belchior (CEF), Teresa Cruvinel (EBC), Marina Silva, Ana de Holanda, um batalhão de mulheres que foram suas ministras ou dirigentes de estatais.
Lula tem uma dimensão político-pessoal tão extraordinária que nem mesmo seus admiradores conseguem compreender e alcançar. O ex-presidente tem um legado fantástico, rico. Tem muito a relembrar e a propor. Tem tanto a dizer que não cabe em três ou quatro minutos. Ora, por que haveria de desperdiçar seu tempo defendendo-se das diatribes de um sujeito limítrofe e grosseiro que acidentalmente hoje responde pela presidência da República? Por que haveria de revidar os golpes baixos atacando o mentecapto?
Lula optou por deixar-se bater pelo maluco do pedaço, por não revidar e por limitar-se a falar das boas lembranças de seu governo.
O populacho condói-se com quem apanha, como foi com o próprio Lula em 2006, vítima de duros e surpreendentes ataques em debate de segundo turno sofridos de ninguém menos que o sempre sereno Geraldo Alckmin, hoje seu candidato a vice. Como foi com Dilma, em 2014, alvo de pesada artilharia de Aécio Neves. Imagine agora um Lula ex-presidente, respeitado internacionalmente, castigado pela história, pela prisão ilegal e injusta que lhe custou 580 dias de sua vida, pelas perdas pessoais que sofreu, hoje um senhor de 76 anos, a despeito de seu tesão de vinte e forma física melhor do que a minha (vinte anos mais novo) ou a do barrigudo Ciro Gomes. Melhor, como disse Cristóvão Buarque, que a saúde mental do candidato pedetista.
É possível que Lula tenha deixado de ganhar. Para quem está na confortável condição de líder das intenções de voto, o que importa no balanço não são os ganhos e, sim, as perdas. Perdeu? Penso que não. Ninguém deixará de votar em Lula porque o desempenho dele não foi o que cada um de nós esperava.
Quem perdeu, efetivamente, foi BolsoNero, que expôs às inteiras seu caráter misógino, seu ódio contra as mulheres, expressado ao vivo e em rede nacional contra a candidata Simone Tebet e a jornalista Vera Magalhães.
Tendo de avançar, retrocedeu várias casas. Pôs abaixo todo esforço que vinha sendo feito por sua esposa Michele no sentido de melhorar sua imagem junto ao eleitorado feminino. Só não perdeu mais porque o debate foi ao ar num horário em que a maioria do eleitorado brasileiro já estava descansando para a dura jornada do dia seguinte. A propósito, as emissoras de TV poderiam considerar a realização de debates nos sábados à noite.
Ciro ganhou? Perdeu, também - e deve estar furibundo pelo desempenho superior de Simone Tebet. Perdeu por sua demonstração de profundo desrespeito em relação a Lula, que lhe fez reiterados afagos. Mostrou-se ingrato, insensível aos acenos do ex-presidente e incoerente com sua própria trajetória de esquerda, sobretudo sua longa passagem por ministério de seu hoje adversário. Respondeu com ódio a quem sempre lhe estendeu a mão, ódio que fez questão de reforçar no dia seguinte pelo Twitter.
Não vejo razões para desânimo e considero injustas as críticas a Lula. Ele sabe o que faz. Não errou. Manteve-se sereno, elegante, responsável - e deixou que os outros se matassem. Não ter vencido o debate nada significa., não tem importância real.
Visto por outro ângulo, nada ter perdido já foi um ganho considerável.
(Luís Antônio Albiero, em Jacareí, SP, aos 29 de agosto de 2022)
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