De vítima da Unimed Paulistana: “Plano de saúde pra quê? Viva o SUS!”
Funciona assim: quando são consultas e exames – e até alguma internação mais simples e rápida –, o plano cobre. Mas quando o problema se agrava, os planos recusam atendimento e o cliente acaba no SUS
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Como todos sabem (?), os mais de 740 mil clientes da Unimed Paulistana terão de ser transferidos para outros planos de saúde por determinação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A medida foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no segundo dia de setembro.
Como a operadora de planos de saúde não conseguiu sanear os problemas de mau atendimento aos clientes, a ANS determinou que negociasse a transferência de toda a sua carteira de clientes.
Em tese, a empresa deveria manter o atendimento até que se concretizasse a venda de sua carteira de clientes a outra operadora. Contudo, não é o que está acontecendo. A empresa simplesmente deixou todo mundo na mão.
A vítima da Unimed de que trata o título deste texto é este blogueiro que vos fala – ou melhor, que vos escreve.
Para poder manter para nossa quarta filha, que é especial (tem paralisia cerebral), um plano da Sul América caríssimo – que por isso, e graças a uma ação na Justiça, funciona –, eu e minha mulher compramos um desses planos tabajara: o da Unimed Paulistana.
Apesar de eu ter sido contra fazermos essa besteira, o preconceito da família contra o sistema público de saúde convenceu minha mulher de que seria melhor assim e, desse modo, fechamos o negócio.
Parece mentira, mas, como previ, foi só precisar dessa porcaria que ficamos na mão.
Há algumas semanas, minha mulher começou a sentir dores, foi ao médico e descobriu-se com cálculos na vesícula. Diagnóstico: havia que operar, pois ela emagreceu sem nem ter o que emagrecer, pois é uma mulher esbelta, e vem sendo acometida de desconfortos cada vez maiores na região abdominal, náuseas etc.
Ainda conseguimos consulta com um gastroenterologista pelo plano, o que não resolveu muita coisa porque a consulta custa barato; o que custa caro são os exames e a cirurgia que minha mulher terá que fazer, o que acrescenta à conta internação hospitalar, equipe cirúrgica etc.
Foi aí que descobrimos que pagamos o plano de saúde à toa. Para começar, a vítima da Unimed precisava de exames. Sabe que laboratórios atendem clientes da Unimed Paulistana? NENHUM! Todos se recusam a atendê-los por medo de não serem ressarcidos pela operadora falimentar de planos de saúde.
Na prática, não temos plano de saúde algum. Temos, porém, o boleto para pagamento do plano, o qual chegou-nos pelo correio absolutamente em dia.
Foi nesse momento que convenci mulher e filhos de que deveríamos ir ao SUS. Eis que recorremos ao Hospital das Clínicas de São Paulo – que, por sinal, fica a uns quatro quilômetros de casa.
Por sorte, a instituição está promovendo um mutirão para operações de retirada da vesícula – que é o caso de minha mulher. Desse modo, em algumas semanas ela terá feito todos os exames e será operada sem gastar um puto!, enquanto que o plano de saúde não nos dá nem bom dia pelos quase mil reais que cobra só da Cristina – a mulher que amo perdidamente pelo simples fato de que me atura há mais de 30 anos, descontadas a beleza, a bondade e a coragem de uma Valquíria.
Claro que o HC não tem sofás confortáveis, carpete macio e música ambiente. E a quantidade de pessoas esperando algumas horas para ser atendidas também espanta muito classe média – apesar de que, nos hospitais “de ponta” dos planos de saúde tabajara, a espera anda igual ou pior.
Mas decoração não cura as pessoas, o que cura é medicina, equipamentos hospitalares e profissionais. E isso o SUS – tão demonizado por essa classe média babaca e otária que paga fortunas para essas arapucas – tem, sim. Pode até haver demora, mas todo mundo é atendido.
Aliás, para quem não sabe, mesmo quem paga caro por esses planos picaretas a tendência é a de que, se o problema for grave, o incauto pagador desses planos acabe mesmo é no SUS.
É pouquíssimo divulgado, mas o governo federal está apertando o cerco às operadoras de planos de saúde para que paguem o valor do atendimento crescente a seus clientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Funciona assim: quando são consultas e exames – e até alguma internação mais simples e rápida –, o plano cobre. Mas quando o problema se agrava, os planos recusam atendimento e o cliente acaba no SUS.
Como de cada dez casos de descumprimento de obrigações pelos planos de saúde nem 1/5 das vítimas apela à Justiça, eles vão negando procedimentos que têm obrigação de cobrir e o cliente lesado, sem saber, acaba aceitando ir se tratar no SUS.
Por isso, em maio deste ano o ministro da Saúde, Arthur Chioro, e a diretora-presidente substituta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Martha Oliveira, determinaram que as empresas também tenham que ressarcir o SUS por exames e terapias ambulatoriais de alta e média complexidade, como quimioterapia e hemodiálise.
Até então, só as internações eram pagas.
Ou seja, você compra plano de saúde para fugir do “terrível” SUS e, otário, acaba exatamente onde pretendeu evitar: no SUS, companheiro (a).
Concluo este texto manifestando alegria, apesar do golpe de que fui vítima mesmo sabendo que ele aconteceria – como já disse, comprei o plano da Unimed Paulista por pressão familiar. Afinal, minha amada terá tratamento e, assim, continuará me aturando por muito tempo, pois se ficar doente correrei para o sistema público de saúde e sei que salvarão minha vida, se for possível.
É por essas e por outras que esta vítima dos planos de saúde – e, mais especificamente, da Unimed Paulista – exorta o leitor a bradar consigo: Viva o SUS! E abaixo os planos de saúde.
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