De maio de 1938 ao Natal de 2019

A primeira coisa é “dar nome aos bois”. Bolsonaro, seus filhos e os militantes bolsonaristas não são “loucos” ou antidemocráticos, eles são fascistas e ponto

(Foto: Reprodução)


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"É um Natal triste, um Natal de guerra. Tenham um grande coração" (Papa Francisco)

“O dom precioso do Natal é a paz, e Cristo é a nossa paz verdadeira. Cristo bate à porta dos nossos corações para nos conceder a paz, a paz da alma. Abramos as portas a Cristo!” (Papa Francisco - Angelus, 21 de dezembro de 2014)

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Vou escrever sobre o Natal e os valores da Igreja Católica: (a) fidelidade à doutrina cristã e às diretrizes da Igreja; (b) promoção da dignidade humana, do bem comum e compromisso com a inclusão social; (c) formação solidária, interdisciplinar e humanística, orientada por uma perspectiva ética, cristã e católica, respeitada a liberdade de crença, por uma perspectiva diferente.

É impossível não falar da guerra terrível que ocorre na Ucrânia; da fome e da miséria – que se tornam realidade estrutural e sistêmica -; mas vou me ater à escalada de ódio, intolerância, violência e desrespeito às ideias e às instituições. 

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Vou ilustrar essa reflexão com dois fatos.

Primeiro fato. Na madrugada de 11 de maio de 1938 integralistas erigiram a violência e o ódio faccioso em ação. Invadiram residências para trucidar seus moradores, eram, como escrito à época: “meros sicários sem qualificação social e profissão conhecida. Os chefes e seus prepostos imediatos fugiram acovardados; os mandantes e instigadores negam as responsabilidades e lavam na bacia de Pilatos, as mãos tintas do sangue que fizeram derramar”.

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As vítimas? Trabalhadores que se opunham ao fascismo tropical de Plinio Salgado e que denunciavam o odioso totalitarismo contido na retórica sedutora dos integralistas.

Segundo fato. Oitenta e um anos depois, na madrugada de 24 de dezembro de 2019, a sede da produtora “Porta dos Fundos” foi alvo de um atentado e segundo a assessoria de imprensa do grupo, dois coquetéis molotov foram jogados na fachada do imóvel. 

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Pelas redes sociais, três homens assumiram a responsabilidade, identificaram-se como integralistas e justificaram o ato terrorista dizendo que o “Porta dos Fundos” retratou Jesus no especial de Natal daquele ano, como um jovem que teve uma experiência homossexual após passar 40 dias no deserto. 

O argumento do especial pode ser avaliado como de mau gosto e desrespeitoso aos cristãos, mas não autoriza atos terroristas. 

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Em setembro de 2020 um dos terroristas que atacou o “Porta dos Fundos” foi preso na Rússia por agentes da Interpol; na sua casa foram encontrados, dentre outros itens de inspiração fascista, os livros “O Pensamento revolucionário”, de Plinio Salgado e “O imbecil coletivo”, de Olavo de Carvalho, teóricos do fascismo no Brasil.

O terrorista preso na Rússia era membro da “Frente Integralista Brasileira”, movimento político de cunho neofascista. 

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O mais triste é que o atentado de 1938 e o de 2019 não são casos isolados, se repetem com frequência no país e tem origem no movimento criado em 1932 por Plinio Salgado: o integralismo.

Com um discurso forte e autoritário – em contraponto à democracia -, religioso e anticomunista, o fascismo brasileiro e o seu slogan “Deus, Pátria e Família” iludem muita gente ainda. Outra característica do fascismo é o ultranacionalismo, em contraponto ao liberalismo. 

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O bolsonarismo - ou Olavobolsonarismo, como prefiro nominar - nega as instituições, a legitimidade do Legislativo e do Judiciário – tem origem no integralismo de Plinio Salgado, que bebeu da fonte, do fascismo de Mussolini. 

O fato é que o Olavobolsonarismo é uma espécie de credo político que disfarça os seus apetites de sinistro predomínio com as invocações mais caras e arraigadas no coração do povo brasileiro: “Deus, Pátria e Família”, mas a impostura e hipocrisia dos líderes dessa seita foram desmascaradas. 

Em nome de Deus e da liberdade. Bolsonaro e seu estado maior são fascistas, impostores e hipócritas, tanto que, em nome de Deus - que ordena o amor e o perdão aos próprios inimigos -, estão, direta ou indiretamente, ligados aos assassinatos da vereadora Daniele Franco, seu assessor Anderson Gomes e são corresponsáveis pela morte de dezenas de milhares de pessoas durante a pandemia de COVID19.

Não se pode esquecer da relação da família Bolsonaro com milicianos como: Adriano da Nobrega, Ronald Paulo Alves, Roni Lessa e Élcio Queiroz - membros do conhecido “Escritório do crime” e homenageados pelo então Deputado Estadual Flávio Bolsonaro -, nem da ligação deles com a extrema-direita mundial, como já escrevi aqui no CORREIO.

A pátria dos Olavobolsonaristas não é a pátria da união e da construção da nação, mas a do desrespeito às diferenças, da desigualdade, da crueldade, do autoritarismo e do totalitarismo.

E a família dos fascistas? Em 1938 os integralistas invadiram residências para trucidar seus moradores, enquanto isso “os mandantes e instigadores negam as responsabilidades e lavam na bacia de Pilatos, as mãos tintas do sangue que fizeram derramar”, Bolsonaro, seus filhos e seu “estado maior”, covardes, fazem o mesmo. .

É triste que essas ideias totalitárias encontram eco ainda hoje em setores da sociedade, noventa anos depois da fundação do movimento integralista brasileiro. 

O que fazer? 

Bem, a primeira coisa é “dar nome aos bois”. Bolsonaro, seus filhos e os militantes bolsonaristas não são “loucos” ou antidemocráticos, eles são fascistas e ponto.

Em segundo lugar é fundamental o debate político, público, paciente e respeitoso com os incautos e as pessoas de boa-fé que se deixaram levar pelo discurso raso, mas sedutor do fascismo.

Essas pessoas, como todos nós, apesar de cansadas da democracia representativa ou liberal – que é servil aos interesses privados e pouco republicanos; cansadas dos malfeitos, da corrupção e das promessas não cumpridas por todo espectro político – tem que compreender que não há atalhos e que, mesmo sendo a democracia representativa cheia de falhas, não há nada melhor. Tem de compreender que o caminhar em direção à sociedade ideal é permanente, por isso o que importa é mantermos vivos os valores da promoção da dignidade humana, do bem comum e compromisso com a inclusão social e a construção de uma sociedade solidária. Essas são as reflexões. 

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