De Chico Buarque para os fascistas, com carinho

Os especialistas em vagabundagem que ousaram abordar um intelectual do porte de Chico são produto de um massacre midiático diário, que tem como pilares o antipetismo mais tosco, o antiesquerdismo mais visceral e a criminalização da atividade política

Os especialistas em vagabundagem que ousaram abordar um intelectual do porte de Chico são produto de um massacre midiático diário, que tem como pilares o antipetismo mais tosco, o antiesquerdismo mais visceral e a criminalização da atividade política
Os especialistas em vagabundagem que ousaram abordar um intelectual do porte de Chico são produto de um massacre midiático diário, que tem como pilares o antipetismo mais tosco, o antiesquerdismo mais visceral e a criminalização da atividade política (Foto: Bepe Damasco)


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Quando disse para os coxinhas fascistas e desocupados que o cercaram na saída de um restaurante no Leblon que "ninguém pode se achar informado lendo a Veja", Chico Buarque, o genial artista brasileiro pôs o dedo na ferida. A serpente que choca os ovos da intolerância, do ódio e do fascismo no Brasil é o monopólio da mídia.
 
Os especialistas em vagabundagem que ousaram abordar um intelectual do porte de Chico são produto de um massacre midiático diário, que tem como pilares o antipetismo mais tosco, o antiesquerdismo mais visceral e a criminalização da atividade política.
 
Como não conseguem enxergar um palmo além dos seus interesses políticos e comerciais mais sombrios, Veja, Globo, Folha e Estadão seguem na sua toada de envenenamento do espírito da nação sem exibir o menor constrangimento. E divulgam episódios como as agressões sofridas por Chico, Padilha, Haddad, Mantega e João Pedro Stédile com o maior naturalidade. Não se vê nem mesmo uma miserável crítica de pé de página a comportamentos tão abjetos e antidemocráticos.
 
Dia desses durante uma fracassada manifestação de golpistas em Copacabana um menino de menos de dez anos foi agredido por um bando de covardes, incluindo senhores de cabelos brancos, e por pouco não acabou linchado pela turba de foras da lei travestidos de patriotas à la CBF. Contudo, se não fossem as redes sociais, o caso teria passado batido, pois a mídia velhaca simplesmente o ignorou.
 
Não nos iludamos. Há centenas de milhares de analfabetos políticos e imbecis, tais como o rapper Túlio Dek e o playboy Alvarinho, espalhados por aí. Eles se concentram especialmente nos elegantes bairros da Zona Sul do Rio e nos endereços mais nobres de São Paulo e outras capitais. O jornalismo de esgoto da mídia é sua fonte de inspiração permanente.
 
Essa gente, por ter sedimentado um déficit insanável de consciência democrática, não tolera quem pensa diferente dela. Nas cabeças deformadas desses caras, passam coisas do tipo "como pode alguém não concordar que a corrupção nasceu com o PT?", "quem não apoia o impeachment ou a intervenção militar deve ser esculachado" ou "temos que atacar todos os defensores do bolivarianismo."
 
Quanta ignorância ! Seria o caso de sentir pena se essa indigência intelectual não fizesse tão mal ao país. Por isso, a praga da intolerância que nos assola deve ser creditada ao ódio de classe que tomou conta de bem-nascidos que não suportam ver os pobres nos aeroportos, nas universidades e as empregadas domésticas com direitos. Situar, portanto, o fenômeno do ódio fascista no âmbito da velha luta de classes é a melhor forma de combatê-lo.
 
Da minha parte, no entanto, confesso meu espanto. Sempre soube que boa parte da nossa classe média prima pela ignorância, embora tenha cursado as melhores escolas. Mas não imaginava  que seu nível cultural fosse tão baixo. Há muito notei também que o egoísmo e o desprezo pelos pobres são sentimentos comuns entre os abastados. O grande Darcy Ribeiro já dizia que elite brasileira é a mais tacanha e medíocre do planeta. Mas não podia supor que nesse estrato da população fosse tão expressivo o número de pessoas que não vale porra nenhuma. 

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