Das conferências nacionais ao sistema de planejamento democrático

Democracia participativa é a renovação permanente do pacto social entre os períodos eleitorais, o acordo do passo-a-passo da implementação da estratégia de desenvolvimento e do projeto político sufragado



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

"Entre várias reformas do Estado necessárias, o PT aponta três, como medidas imediatas (...) A primeira consiste na reorganização administrativa e institucional (...) Enquanto o Estado funciona na forma de caixinhas setoriais (educação, saúde, trabalho, entre outros) e regionais, os problemas atuais tornam-se cada vez mais complexos e totalizantes, incapazes de serem superados pela lógica de organização pública em partes que não se comunicam, quando concorrentes entre si. A fonte disso encontra-se centrada na recuperação do sistema de planejamento democrático e transparente de médio e longo prazos". (Carta de Salvador, resolução do V Congresso do PT)

Com a mesma alegria militante que recebi a Carta de Salvador e a resolução da última executiva nacional do PT, vi, em meu e-mail, a "Circular de Mobilização para as Conferências de Políticas Públicas", assinada pelo presidente Rui Falcão, e os respectivos secretários de Mobilização, Movimentos Populares, Mulheres, Juventude e Agrário do partido. É um chamado não só aos filiados do PT, mas à sociedade em geral para que se engaje nas 16 conferências nacionais a se realizarem entre 2015 e 2016, nos três níveis de governo, sempre sendo município e estado etapas para a plenária nacional. Os temas versarão sobre Saúde, Assistência Social, Juventude, Mulheres, entre outras.

Será importante que os respectivos setoriais partidários dos estados e municípios articulem reuniões locais para planejar a participação nas etapas municipais e estaduais das conferências em diálogo com os movimentos sociais com quem têm relação, se coordenem com os órgãos de políticas públicas de governos dirigidos e/ou com participação do PT e demais forças de esquerda e da base aliada, onde for possível. Isso pode ser um recomeço para a concertação político-social para este segundo mandato da presidenta Dilma. Por outro lado, a circular faz questão de destacar que "Historicamente, a democracia participativa sempre foi uma das pautas prioritárias do Partido dos Trabalhadores". Não à toa, segue, que "Nos últimos doze anos são incomparáveis os avanços na área, o Estado brasileiro tornou-se mais poroso às demandas, visões e perspectivas da sociedade civil e dos movimentos sociais", que "Conselhos e Conferências tornaram-se presentes e decisivos em diferentes espaços de construção de políticas públicas". É nesta direção que pergunto: iniciado o segundo mandato da presidenta Dilma, num contexto de aguda luta política, o que queremos projetar para 2018? Só um balanço com mais dezenas de conferências realizadas?

continua após o anúncio

Imagino que o trecho a seguir guarde as razões pela qual a circular foi elaborada e enviada a todo o país: "Há uma crise do sistema político e das formas tradicionais de participação e representação política, e diante desse quadro é preciso que consigamos ao mesmo tempo renovar e pensar novas formas de participação social e, também, continuarmos sendo o referencial e paradigma de representação da luta e dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.". Segundo se extrai do documento, avalia-se que a participação social foi um pilar para mudarmos o país em nível local, que foi decisiva para a conquista da credibilidade para dirigir a presidência da República e, nesta instalados, promover as grandes transformações nacionais dos últimos 13 anos.

O que diz a circular é que a participação social é também a base, na verdade a ponte, para o dia seguinte a estes dias confusos.

continua após o anúncio

Vamos seguir a tendência de aprofundar a participação social, via conselhos nacionais, nas expressões das escolhas estratégicas de governo? A essa pergunta, a continuidade do Fórum Interconselhos, agora chamado de Fórum "Dialoga Brasil", disse "sim". Mas, qual o universo dessa participação é fundamental para os nossos dias?

Vamos manter o diálogo com representantes das direções dos movimentos sociais que se articulam nos conselhos e no próprio Fórum Interconselhos ou, para além, vamos envolver as bases destes movimentos, num amplo processo de acordo, onde se enxerguem na agenda pública central como protagonistas e não apenas por um sentimento de pertencimento por outras questões relacionadas às lutas populares históricas?

continua após o anúncio

Vamos seguir apenas realizando mais conferências nacionais ou, definitivamente, vamos dar um passo adiante vinculando suas resoluções, agendas e plataformas a estas expressões de escolhas estratégicas, fortalecendo a sinergia participação-planificação-orçamentação-controle social e dando a ela um caráter de massas, que significa construir a transição entre o calendário previsto das conferências para uma efetiva convergência do ciclo destas com o de instrumentos como o PPA, LDO e LOA?

Vamos nos contentar com isso ou ousar um passo ainda maior, alcançando os milhões beneficiados pelos programas sociais que conformam a nova base social do projeto político em curso no país, superando o já frágil reconhecimento de que somos seus aliados pela mudança de vida?

continua após o anúncio

Em casos mesmo como o da Cúpula Social do Mercosul, que acontece em Brasília esta semana, vamos articular a participação social como um momento de encontro de direções de movimentos sociais e suas seções especializadas em integração regional para uma discussão geral ou estruturar o debate de um projeto de desenvolvimento regional, do Cone Sul, da Pátria Grande, por dentro dos canais de diálogo e participação social brasileiros?

Passados 13 anos de governos liderados pelo PT e mais tantos das conquistas constituintes ou da resistência anti-neoliberal, o caminho não pode ser mais nem o da sociedade x Estado e nem mais só o de tornar o Estado permeável à sociedade. É a hora da cooperação estratégica. A circular mostra o partido que é referência da maior parte dos movimentos sociais se preparando para esta tarefa. Cabe ao Estado, liderado pelo mesmo partido, construir os meios para a estratégia comum.

continua após o anúncio

Os caminhos para o governo foram plantados: constituir organismos para os beneficiários dos programas sociais, nos estados e municípios, representados em nível nacional, discutirem e avaliarem a Dimensão Estratégica do PPA; pactuar com os ministérios e conselhos relacionados às conferências a serem realizadas um calendário para que as próximas ocorram vinculadas ao monitoramento deste Plano 16-19, em fase de elaboração, para já convergirem com o ciclo 20-23 no processo de elaboração, assim como pré-pactuar com os temas que não estão previstos ainda para que já se organizem neste rumo; fazer dos conselhos nacionais os espaços de consulta para a elaboração da LDO e LOA, superando o próprio Fórum Interconselhos (ou "Dialoga Brasil") como o locus desta construção.

Democracia participativa é a renovação permanente do pacto social entre os períodos eleitorais, o acordo do passo-a-passo da implementação da estratégia de desenvolvimento e do projeto político sufragado. Vamos resistir e lutar para manter a democracia liberal ou oferecer como o "sacrifício" de nossa vitória a construção de uma democracia de massas no Brasil?

continua após o anúncio
continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247