Daniel Dantas sai da toca para mudar imagem de homem mau
Eu queria entender porque Daniel Dantas resolveu reaparecer publicamente justamente agora, sem mais nem menos, e justamente nesse Festival de Jornalismo. Quase me enganei achando que era um evento do Piauí Herald, eu já tinha visto festival de cinema, festival de música, mas festival de jornalismo, nunca. Mas era na verdade promovido pela revista Piauí e pela Globo News
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Eu fui até o Colégio Dante Alighieri sabendo de antemão que os ingressos estavam esgotados, mas fui assim mesmo, apostando na possibilidade de liberarem para jornalistas.
A mocinha da recepção, muito simpática por sinal, disse que infelizmente não, não havia credenciamento para essa mesa, para as outras, tudo bem, mas não para essa, só entra quem pagou 200 reais (com direito a marmitex). E a sala está lotada, disse ela, é só para 50 pessoas. “Posso ficar na fila de espera”? arrisquei. “Não”. “Está lotado”. “Posso ficar em pé” insisti. Gentilmente ela disse não.
Eu fui embora, mas logo ao subir a Alameda Casa Branca vi do outro lado da rua uma cara conhecida andando em direção à Rua Estados Unidos. Reconheci imediatamente meu companheiro de imprensa alternativa dos anos 70, ele dirigia o “Movimento”, eu escrevia no “ex-“. “Raimundo Pereira”! gritei. Ele me olhou, atravessei a rua em sua direção e disparei: “Veio ver o Daniel Dantas”? “Sim, onde é”? Apontei à esquerda e então caminhei ao seu lado.
Como ele sabe e eu sei que ele não investiria 200 reais para ver uma entrevista, pois é isso que haveria, ele foi logo justificando: “Ganhei convite de uma amiga... a Maria Amália... sócia minoritária do Opportunity”.
Acompanhei Raimundo até às catracas e me despedi. Ele entrou, mas eu resolvi ficar. Pude observar, momentos depois Daniel Dantas rumando em direção ao anfiteatro. Reconheci pelo terno preto – ele sempre usa terno preto e camisa branca.
Resolvi esperar do lado de fora, eu queria entender porque Daniel Dantas resolveu reaparecer publicamente justamente agora, sem mais nem menos, e justamente nesse Festival de Jornalismo. Quase me enganei achando que era um evento do Piauí Herald, eu já tinha visto festival de cinema, festival de música, mas festival de jornalismo, nunca. Mas era na verdade promovido pela revista Piauí e pela Globo News.
Fiquei esperando do lado de fora, como já disse, e depois de uma hora e meia reencontrei meu amigo Raimundo Pereira. “E então, o que ele disse”? perguntei de chofre.
Eu não tinha entendido até então porque ele tinha sido convidado e como se tornara amigo de uma sócia de Daniel Dantas, ainda que minúscula, mas ele explicou, no táxi em que me deu carona até em casa.
Além de falar longamente sobre os furos da Operação Satiagraha, contou meu amigo, Dantas se ocupou em exaltar a liberdade de imprensa e citou o próprio Raimundo Pereira, que escreveu um livro a seu respeito, do qual gostou, ou seja, um livro no qual não aparece no papel de vilão – e que o também jornalista Elio Gaspari elogiou.
Então eu compreendi que o talentoso Daniel Dantas convidou meu amigo Raimundo Pereira para limpar a sua barra e não poderia ter escolhido um jornalista melhor para convidar, não para escrever o livro, que fique bem, claro, o livro do meu amigo é uma grande reportagem. Eu quero dizer convidar para o evento.
Raimundo Pereira é, além de competente, incorruptível. Mora até hoje numa casa modesta da Freguesia do Ó, que os paulistanos sabem onde fica. É inconcebível supor que tenha escrito um livro sobre Dantas do qual o Dantas gostou por dinheiro. Foi por convicção. Tenho certeza absoluta.
Também compreendi porque Dantas atendeu ao convite para participar do Festival, em vez de ficar quietinho em casa. O dono da revista Piauí, João Moreira Salles é seu amigo e rodou um filme, “Santiago” com sua inestimável ajuda financeira. Dantas sabia que estaria num ambiente amigável e controlado.
Tão amigável que depois de uma hora e meia de entrevista, na qual a jornalista fez três perguntas e ele falou o tempo todo o que quis, ele foi aplaudido pela seleta plateia de cinquenta pessoas.
É a primeira vez que se tem notícia de uma entrevista coletiva que termina em aplausos.
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