Damares Alves e a bandeira queimada na Esplanada

O fogo que desejo a profissionais políticos do ódio não é aquele nas bandeiras, mas o fogo da vergonha histórica e nesse Damares Alves já está queimada

Damares Alves
Damares Alves (Foto: Reprodução/Facebook)


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Por Sara York

Essa semana Damares Alves, recém eleita senadora pelo Distrito Federal, anunciou a entrevistadora do Metrópoles: "Você não viu um movimento na Esplanada queimando bandeira contra Damares!". A noção de desconforto e repúdio da ex-ministra perpassa por atos violentos ou nenhum pouco civilizados, e nós entendemos porque a pessoa que profere a abordagem é a mesma que em suas redes, inflamou multidões contra uma criança em 2020 após ser estuprada e não podendo ser imediatamente atendida por políticas públicas como Aborto Legal - que atendia mulheres e/ou crianças, segundo lei federal que data de 1940. O Sexuality Policy Watch - SPW, observatório liderado pela pesquisadora Sônia Correa, já trazia alguns indícios dessas atuações, tanto no micro, quanto na cena internacional. 

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Na cena nacional há um escalonamento benevolente e caritativo que muito nos remete as políticas assistencialistas recorrentes aos iletrados do/no cenário político e no campo internacional houve um afastamento (quase) proposital dos discursos religiosos, trazendo uma identificação que beira a consistência secular oposta a sua dinâmica interna. Em 2019 o SPW afirmou que "o giro que o governo está fazendo não é de repúdio, mas sim de “depuração” dos direitos humanos, que livra daquilo que os “contaminam”."

Ao apresentar-se como pessoas que luta "pelos travestis há mais de 35 anos", observamos que a tentativa de manuseio dos atores da sigla LGBTI+ são pouco conhecidos por ela, e torna-se perceptível ao produzir um grande bojo unificado de pessoas cuja orientação sexual, identidade de gênero e práticas sexuais, pouco ou em nada se diferenciam. Desde 2018, a partir da ADI 4275, mulheres trans e travestis são consideradas mulheres de mesmo teor quanto qualquer outra que ocupe a condição nata. Aliás, a palavra "nata" que significa de nascimento é útil aqueles que acionam cromossomas na defesa do binarismo sexual, mesmo sabendo tão pouco das muitas (algo acima de 40) possibilidades de forma e/ou estrutura Intersexo. 

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Sim, existe a letra "I" que não é de ignorada, nem de ignorante, na sigla que tantos usam!

Para as pesquisadoras do SPW existe "um movimento de reconversão da linguagem e dos parâmetros de direitos humanos em instrumentos voltados quase que exclusivamente para a tutela e a proteção de “vulneráveis”". Tornando assim a vulnerabilidade e a violência algo a ser combatido "com amor". O que implica segundo a mesma publicação, em "uma reinterpretação substantiva do paradigma de direitos humanos que emana dos parâmetros internacionais de integralidade e indivisibilidade adotados em Viena em 1993. Embora esse paradigma contemple a proteção contra a violência dos corpos e sujeitos em contexto de vulnerabilidade, a sua espinha dorsal é dupla, assegurando também a garantia da liberdade e autonomia política e pessoal dos sujeitos de direitos para associar-se, expressar suas opiniões e visões de mundo e decidir sobre suas vidas e seus corpos.

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De todo modo, o carácter político democrático assiste construções ao longo das discussões históricas que deveriam contar com um mínimo de rigor, afastando os atrasos e relicários às secções da memória a ser consultada. E não mais ao retorno daquilo que, por falta de informação e debruçado em oportunismo, apresenta-se como avanço nas pleiades dos insucessos. Eu poderia queimar a bandeira, se soubesse que seria um sinal contestatório atendido. Felizmente, sem falar com "jesus na goiabeira" recorri a minha voz de travesti nunca ouvida pela, agora, senadora que diz trabalhar para mim ou comigo há mais de 35 anos. Sobre por fogo, pergunto, quantas bruxas morreram em nome de "Deus"? O fogo que desejo a profissionais políticos do ódio não é aquele nas bandeiras (como dito por ela), mas o fogo da vergonha histórica e nesse Damares Alves já está queimada.

Referências:

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Damares Alves entrevistada no Metrópoles: 

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Não é a primeira vez que lutamos pelo nosso amor, filme de Luis Carlos de Alencar (2022) 

Observatório de políticas da Sexualidade: acesse aqui

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