Dalben, Lula, Boulos e a Vila Soma
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A moradia é para mim um direito essencial, a dignidade de toda família começa com ela. O exercício necessário da convivência e do afeto dá-se ao redor da mesa da sala ou da cozinha, é na nossa cada que a alegria nos enche de esperança e a tristeza encontra genuína solidariedade.
O primeiro contato que tive com a realidade de favelas, ocupações de áreas públicas e privadas foi no extinto DUF, Departamento de Urbanização de Favelas, dirigido pela arquiteta Gisela, na gestão do Jacó Bittar.
De lá para cá outras experiências fortaleceram a minha convicção da essencialidade da moradia digna; fui desde advogado de ocupantes, até presidente da Cohab Campinas e Secretário de Habitação do querido Chico Amaral, foi um período pequeno, mas muito rico; fui também secretário de Habitação em Sumaré, no primeiro mandato do prefeito Luiz Dalben, jovem brilhante e filho do meu querido amigo Dirceu Dalben, ex-prefeito e hoje deputado estadual, e da Dona Mara, uma mulher devotada aos trabalhos sociais.
Um dos compromissos dos Dalben é com a urbanização e regularização fundiária de áreas de ocupação, tendo no centro da preocupação a dignidade das pessoas, especificamente da ocupação conhecida como Vila SOMA lá em Sumaré e por conta disso precisávamos de uma reunião com o líder do MTST, Guilherme Boulos, que para quem não sabe é, além de ativista, professor, bacharel em filosofia, psicanalista e escritor.
Por que com Boulos? Porque a ocupação era coordenada pelo MTST e novas famílias chegavam com frequência, o que tornava muito difícil o necessário planejamento da regularização na forma autorizada pelo prefeito. Era preciso que famílias não mais fossem alocadas na área pelo movimento.
O vereador Willian, outra jovem liderança de Sumaré, conseguiu a agenda com Boulos, o local escolhido foi o Instituto Lula.
A reunião prometia ser tensa, dada a desconfiança de Boulos em relação às intenções do jovem prefeito e, por conta disso, acreditávamos que a mediação do ex-presidente Lula seria fundamental.
Saímos de Sumaré em direção a São Paulo cheios de esperança e confiança na nossa boa-fé e honestidade.
Fomos recebidos com enorme carinho por todos do instituto e por Lula, mas Boulos estava de “cara feia”.
Lula nos contou o carinho que a D. Mariza tinha pela população da Vila Soma; sobre a alegria deles em ver as famílias dos assentamentos do MST trabalhando, estudando, sobre a produção do arroz agroecológico e sobre o fato, pouco divulgado, de o MST liderar a maior produção de arroz orgânico da América Latina.
Eu lembrei dessa história quando li sobre a “Festa da Colheita do Arroz Agroecológico”, que ocorreu na sede da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita, em Santa Rita no Rio Grande do Sul.
Bem, voltemos à reunião.
O prefeito, sempre cheio de entusiasmo, apresentou o projeto a Boulos e aos demais presentes, assim como o modelo possível de regularização fundiária e das obras de infraestrutura; falou da importância de não ocorrerem novas ocupações naquela área.
Houve, como esperado, reação de Boulos, que afirmou, categoricamente: “Não acredito em nada disso”. A tensão entre eles começava a tomar contornos indesejados, quando Lula perguntou ao Boulos: “Guilherme, qual a solução que você propõe? O prefeito trouxe uma. Qual a sua ideia de solução? Pense bem, o tempo do ‘não’ como proposta política acabou, temos que dizer o ‘sim’ que acreditamos e o ‘por que’ dele. Temos que ser propositivos, não podemos brincar com a possibilidade de solução, estamos falando de pessoas, trabalhadores...”E voltando-se para o prefeito Lula perguntou: “Você dá a sua palavra?”, a que Luiz Dalben respondeu afirmativamente. Voltou-se para o Vereador e perguntou: “Willian, você confia na palavra do prefeito?”, a resposta também foi afirmativa.
Depois disse fez-se silêncio divino, ao qual seguiu-se o aperto de mão entre todos.
Participei, muito modestamente desse capítulo da história de Sumaré, da Vila Soma e ainda ganhei um abraço do Lula, uma das pessoas mais iluminadas que conheci em toda a minha vida (ele perde apenas para a minha mãe).
Fato é que a mediação de Lula possibilitou o acordo.
Boulos cumpriu sua palavra e a Vila Soma, seus moradores compraram a área e as obras de infraestrutura também foram contratadas.
Em 2021 cerca de 1,3 mil famílias tiveram acesso aos documentos que garantem a posse. Um fato histórico na luta por moradia.
Viva o diálogo!
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