Dalai Lama, um gesto fora da curva
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Os antigos gregos e romanos tinham um panteão de deuses à sua escolha. Todos eles representavam alguma fraqueza humana. Por quê? Ora, porque somos fracos mesmo. Porque muitas vezes não resistimos a pulsões e tentações. É o que nos faz humanos, afinal.
Logo após o gesto do líder espiritual tibetano, Dalai Lama, de pedir a um menino de dez anos para que chupasse sua língua, uma enxurrada de críticas surgiu nas redes sociais. Não faltou também quem o defendesse ardentemente, pois alguns acharam que críticas não podem ser feitas a quem ganhou o Prêmio Nobel e costuma falar de paz.
Provavelmente, após a publicação deste texto, choverão comentários contrários à minha tese, mas quem se esquiva de manifestar opiniões sobre assuntos polêmicos e se acovarda talvez não mereça ser escriba.
Em primeiro lugar, circula nas redes a informação de que mostrar a língua no Tibete faz parte da tradição e é bastante comum. Meia verdade.
Com medo da reencarnação do rei Lang Darma, que tinha a língua preta e era um tirano, os tibetanos passaram a mostrar as suas para provar que não tinham eles o espírito maligno.
Esse costume antigo já não é mais comumente praticado.
É preciso pontuar que o Lama não se contentou em mostrar o órgão gustativo para o garoto, mas pediu que ele o sugasse.
Neste ponto devemos considerar que em toda a Ásia o contato físico entre as pessoas em público é raro. Não é comum abraço e muito menos beijo porque se trata de civilizações que desde muito antigamente se preocuparam com a contaminação de bactérias e vírus. Mesmo em países avançados e já um tanto ocidentalizados como Japão e Coreia do Sul ainda é raríssimo ver um casal se beijando, mesmo que um selinho, em público. Adultos beijando crianças na boca é simplesmente impensável, a menos que se trate de pedofilia.
Dalai Lama vive há 60 anos na Índia, onde o costume de pedir uma sorvida não existe, pelo que pesquisei.
Outra coisa que os que tentam justificar o injustificável sustentam é que o líder espiritual não fala inglês e, portanto, trocou o verbo “see” pelo “suck”. Há, porém vídeo no YouTube em que ele concede entrevista à BBC em inglês fluente, embora com sotaque.
Dizem também que ele está senil, demente, mas se isso for verdade, seus assessores já deveriam tomar providências para evitar aparições em público. Além disso, é no mínimo estranho que alguém reencarnado de Buda esteja com demência.
Outra informação que trago aqui é que sua assessoria divulgou um pedido de desculpas à família do menino, provando duas coisas: criança chupar língua de adulto não é costume na Índia; o pedido de desculpas só é feito por alguém que enxergou um erro em sua atitude. Se não foi um erro, deveria esclarecer o motivo do pedido.
A pergunta provocativa que faço é se alguém, em sã consciência, permitiria que um filho pequeno chupasse a língua de um adulto. Observem que, em nenhum momento, cravo nele o rótulo de pedófilo, pois é preciso aguardar maiores informações e explicações.
Dalai Lama, apesar de líder espiritual é um ser humano como qualquer outro e, portanto, sujeito a pulsões humanas. Embora haja anos-luz de distância entre um e outro, podemos dizer que Edir Macedo, um inteiramente movido pela ganância, também é um líder espiritual para milhões de pessoas.
Por fim, sem querer destruir a reputação do Prêmio Nobel da Paz, é preciso lembrar que ele já errou algumas vezes quando manifestou preconceito e racismo contra negros e muçulmanos que imigram para a Europa, por exemplo.
Devemos ainda esclarecer que, embora o Lama seja a autoridade máxima do budismo tibetano, seu gesto em nada deve ser confundido como uma corrupção da religião (ou filosofia) criada por Buda. Muito menos um ataque a ela, afinal, aqueles que têm a fé devem ser respeitados.
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