Dalai Lama, um gesto fora da curva

Líder espiritual tibetano Dalai Lama chega para visita ao Institito do Tibete em Rikon, na Suíça 21/09/2018
Líder espiritual tibetano Dalai Lama chega para visita ao Institito do Tibete em Rikon, na Suíça 21/09/2018 (Foto: Reprodução/Twitter)


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Os antigos gregos e romanos tinham um panteão de deuses à sua escolha. Todos eles representavam alguma fraqueza humana. Por quê? Ora, porque somos fracos mesmo. Porque muitas vezes não resistimos a pulsões e tentações. É o que nos faz humanos, afinal.

Logo após o gesto do líder espiritual tibetano, Dalai Lama, de pedir a um menino de dez anos para que chupasse sua língua, uma enxurrada de críticas surgiu nas redes sociais. Não faltou também quem o defendesse ardentemente, pois alguns acharam que críticas não podem ser feitas a quem ganhou o Prêmio Nobel e costuma falar de paz.

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Provavelmente, após a publicação deste texto, choverão comentários contrários à minha tese, mas quem se esquiva de manifestar opiniões sobre assuntos polêmicos e se acovarda talvez não mereça ser escriba.

Em primeiro lugar, circula nas redes a informação de que mostrar a língua no Tibete faz parte da tradição e é bastante comum. Meia verdade.

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Com medo da reencarnação do rei Lang Darma, que tinha a língua preta e era um tirano, os tibetanos passaram a mostrar as suas para provar que não tinham eles o espírito maligno.

Esse costume antigo já não é mais comumente praticado.

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É preciso pontuar que o Lama não se contentou em mostrar o órgão gustativo para o garoto, mas pediu que ele o sugasse.

Neste ponto devemos considerar que em toda a Ásia o contato físico entre as pessoas em público é raro. Não é comum abraço e muito menos beijo porque se trata de civilizações que desde muito antigamente se preocuparam com a contaminação de bactérias e vírus. Mesmo em países avançados e já um tanto ocidentalizados como Japão e Coreia do Sul ainda é raríssimo ver um casal se beijando, mesmo que um selinho, em público. Adultos beijando crianças na boca é simplesmente impensável, a menos que se trate de pedofilia.

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Dalai Lama vive há 60 anos na Índia, onde o costume de pedir uma sorvida não existe, pelo que pesquisei.

Outra coisa que os que tentam justificar o injustificável sustentam é que o líder espiritual não fala inglês e, portanto, trocou o verbo “see” pelo “suck”. Há, porém vídeo no YouTube em que ele concede entrevista à BBC em inglês fluente, embora com sotaque.

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Dizem também que ele está senil, demente, mas se isso for verdade, seus assessores já deveriam tomar providências para evitar aparições em público. Além disso, é no mínimo estranho que alguém reencarnado de Buda esteja com demência.

Outra informação que trago aqui é que sua assessoria divulgou um pedido de desculpas à família do menino, provando duas coisas: criança chupar língua de adulto não é costume na Índia; o pedido de desculpas só é feito por alguém que enxergou um erro em sua atitude. Se não foi um erro, deveria esclarecer o motivo do pedido.

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A pergunta provocativa que faço é se alguém, em sã consciência, permitiria que um filho pequeno chupasse a língua de um adulto. Observem que, em nenhum momento, cravo nele o rótulo de pedófilo, pois é preciso aguardar maiores informações e explicações.

Dalai Lama, apesar de líder espiritual é um ser humano como qualquer outro e, portanto, sujeito a pulsões humanas. Embora haja anos-luz de distância entre um e outro, podemos dizer que Edir Macedo, um inteiramente movido pela ganância, também é um líder espiritual para milhões de pessoas.

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Por fim, sem querer destruir a reputação do Prêmio Nobel da Paz, é preciso lembrar que ele já errou algumas vezes quando manifestou preconceito e racismo contra negros e muçulmanos que imigram para a Europa, por exemplo. 

Devemos ainda esclarecer que, embora o Lama seja a autoridade máxima do budismo tibetano, seu gesto em nada deve ser confundido como uma corrupção da religião (ou filosofia) criada por Buda. Muito menos um ataque a ela, afinal, aqueles que têm a fé devem ser respeitados.

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