Curtas na corrida pelo Oscar do real

Quatro dos cinco curtas-metragens indicados ao Oscar podem ser vistos com legendas em português no streaming

"Três Canções para Benazir"
"Três Canções para Benazir" (Foto: Divulgação)


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Dos cinco curtas indicados ao Oscar de documentário este ano, três estão disponíveis na Netflix e um está no Youtube. A meu ver, o melhor deles é The Queen of Basketball (A Rainha do Basquete). O curta de Ben Proudfoot é tão simples quanto efetivo. É uma autobiografia compacta de Lucy Harris, uma gigante do basquete nos EUA dos anos 1970.

Em falas diretas e simpáticas para uma câmera em close fechado no seu rosto, a senhora Lucy relembra sem qualquer afetação suas façanhas nas quadras, quando foi tri-campeã nacional, medalha de prata nas Olimpíadas e a primeira mulher a ser convocada pela masculiníssima NBA, a super liga do basquete. 

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Um material de arquivo usado de maneira vibrante vai ilustrando seu relato até o ponto em que uma revelação grave altera completamente o clima do filme. Só então compreendemos por que Lucy recusou o convite da NBA e passou à esfera do esquecimento. Quando o filme foi feito, pouca gente sabia dizer quem foi Lucy Harris. O quadro se abre e percebemos que a agilíssima jovem de quase dois metros de altura já não dispunha mais plenamente do seu corpo.

Antes mesmo que a indicação do curta fosse anunciada, Lucy faleceu em janeiro último, aos 66 anos. Ficaram a imagem de um sorriso farto, uma franqueza frontal e um laivo de tragicidade. Imagino que esse curta não será o escolhido, mas se eu fosse votante do Oscar, meu voto iria para ele.    

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>> The Queen of Basketball pode ser visto no Youtube com a alternativa de acionar as legendas automáticas em português:

Também interessante é o afegão Três Canções para Benazir, dirigido pelo casal Elizabeth e Gulistan Mirzaei (afegãos radicados atualmente na Califórnia). O curta trabalha bem com a síntese para mostrar um momento definidor na vida de Shaista, jovem habitante de um campo de refugiados nas cercanias de Cabul.

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Recém-casado, ele prefere se alistar no exército a trabalhar colhendo ópio nos campos de papoula, destino de grande parte da juventude afegã. O pai e os líderes de sua tribo se opõem, tanto pelo ineditismo do fato, quanto por medo de represálias do Talibã (o filme se passa antes da volta destes ao poder). 

Ainda que resuma com eficiência a situação, saltando para uma inesperada mudança quatro anos depois, o curta deixa a impressão de que havia muito mais por contar. A inocência de Shaista e sua mulher Benazir cria momentos cativantes diante da câmera, que vão se contrapor às cenas finais. A abordagem visual é expressiva, embora tudo transpire uma espécie de realidade encenada de maneira a comunicar sucintamente a história de um pequeno sonho em meio às adversidades. 

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Onde Eu Moro (Lead Me Home) tem DNA brasileiro. Foi dirigido pelo carioca Pedro Kos e o estadunidense Jon Shenk. Aborda moradores de rua em grandes cidades dos EUA, mas parece um grande trailer de um filme que ainda iríamos ver.
As imagens são poderosas, com tomadas aéreas que revelam a presença maciça de homeless nas cidades de Los Angeles, San Francisco e Seattle, e muitos planos adquiridos em bancos de imagens. Há quatro personagens centrais fortes que enfrentam, cada um a sua maneira, a falta de moradia. Mas tudo é submetido a uma tal fragmentação e superficialidade que resulta quase sensacionalista.

A ênfase está no sofrimento e fragilidade de alguns e na fibra de outros. O que faltou foi um propósito além da simples exposição e de um paralelismo óbvio com uma classe média que tem casa, se alimenta decentemente e toma banho todo dia. 

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Audible (Audível) é o mais convencional dos três. Baseia-se na fórmula desvantagem-superação/mágoa-reconciliação. Com os ingredientes de praxe: discriminação, bullying, trauma, disputa, resiliência, vitória.

Amaree tem 17 anos e frequenta uma escola para surdos em Maryland. É o único surdo na família e foi abandonado pelo pai na infância. Como todos na escola, ficou abalado pelo suicídio recente de um colega. Joga no time de futebol americano da escola e paquera uma coleguinha. Tem pela frente um jogo e um baile importantes, metas absolutas da dramaturgia juvenil estadunidense. 

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Tudo se desenrola de acordo com um modelo previsível, que não deixa brechas para a realidade atrapalhar o roteiro. A direção de Matthew Ogens, um especialista em filmes sobre esportes, apoia-se em situações quase sempre encenadas e falas diretas para a câmera. O estilo é fortemente sensorial, como de hábito em filmes sobre deficiências auditivas ou visuais. A montagem célere e a edição de som elaborada tentam fornecer na forma o que falta ao filme em termos de material dramático e originalidade. 

>> Três Canções para Benazir, Onde Eu Moro e Audible estão na Netflix.

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>> Leia sobre o quinto curta indicado, When We Were Bullies, que ainda não está acessível no Brasil.

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