Curió aparece para insultar o país

"A visita de Curió ao Planalto marca uma impensável novidade a respeito da tortura e dos torturadores,"escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela democracia. "Se nenhum deles pagou por seus crimes, o governo Bolsonaro começa a tratá-los como heróis"

Coronel Sebastião Curió e Jair Bolsonaro
Coronel Sebastião Curió e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Facebook)


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A presença do coronel Sebastião Curió no Planalto para um encontro com Jair Bolsonaro representa um novo sinal perigo para a democracia no país e um insulto à nossa memória.   

Para quem não se lembra, Curió foi o oficial que comandou a repressão e a tortura contra a Guerrilha do Araguaia, onde pelo menos 60 brasileiros perderam a vida, caçados por uma força militar estimada em 5.000 homens.

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Ainda que a visita tenha sido uma oportunidade para uma foto e um aperto de mão,  a coreografia faz parte da escalada autoritária de Bolsonaro.

Desta vez, a tentativa foi glorificar um oficial acusado pelo Ministério Público por dois assassinatos e ocultamento de dezenas de cadáveres, sem falar em suas responsabilidades como comandante de uma das operações mais violentas ocorridas sob a ditadura militar.

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Pela perversidade, pelas execuções a frio de militantes capturados e desarmados, a operação no Araguaia foi marco na eliminação de adversários político, homens e mulheres, em sua maioria jovens, que, num país onde a liberdade política fora extinta, resolveram lutar por suas ideias de armas na mão.

Curió foi uma espécie de Carlos Alberto Brilhante Ustra -- o ídolo urbano de Bolsonaro -- na selva. Num caso típico do Brasil, único país da América do Sul que não conduziu responsáveis pelos crimes de tortura e assassinato ao banco dos réu, nunca levado a julgamento.  A novidade surpreendente é ser recebido em palácio presidencial, como numa homenagem.   

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A visita marca uma impensável novidade a respeito da tortura e dos torturadores.

Acobertada por uma censura feroz, protegida por oficiais superiores e autorizada até por presidentes da República, como confirmam documentos recentemente divulgados pelo Departamento de Estado norte-americano, a verdade sobre os crimes do porão permaneceu escondida da maioria dos brasileiros por muitos anos.

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Só pode se impor a consciência do país após a democratização e o fim da censura, que permitiu a divulgação dos crimes mais violentos e o conhecimento das torturas mais bárbaras. Mesmo livres de julgamento, a   existência desses personagens parecia coberta de constrangimento e vergonha.

A novidade é que, em 2020, a publicidade oficial do governo Bolsonaro pretende transformar seus crimes do porão em motivo de alarde. Em vez de esconder o que ocorreu, a proposta é reapresentá-los sob nova fantasia.

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Enquanto Curió atravessava os salões do Planalto, o site oficial da Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicava uma nota na qual definia os responsáveis pela repressão como "heróis do Brasil". Dando livre curso às fake news como método de interpretação histórica, a SECOM ainda argumentou:  "a guerrilha do Araguaia tentou tomar o Brasil via luta armada. A dedicação deste e de outros heróis ajudou a livrar o país de um dos maiores flagelos da história da humanidade."

Protegidos por uma lei de anistia que, em 1979 perdoou seus crimes por antecipação, os responsáveis pelo porão militar puderam usufruir de um anonimato  sempre mais confortável  do que uma sala de julgamento.  

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Imaginar que possam ser tratados como heróis  é nada menos que um insulto e um crime com a história. 

Alguma dúvida? 

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