Cúpula de Brasília: Lula e Maduro relançam a integração regional

A cúpula é uma forte reafirmação da soberania coletiva da região - todos fatores de enorme importância estratégica

Presidentes da Venezuela, Nicolas Maduro, do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva
Presidentes da Venezuela, Nicolas Maduro, do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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Em um golpe contra a hegemonia dos EUA, o renascimento da Unasul em uma cúpula de 13 líderes latino-americanos demonstra a mudança da região de volta para a esquerda e a reabilitação da Venezuela, escreve Francisco Dominguez.

 O presidente do Brasil, Lula, convidou todos os 13 presidentes da América do Sul para uma cúpula em 30 de maio com o objetivo de desenvolver uma visão coletiva e comum e relançar ações decisivas para o desenvolvimento sustentável, a paz e o bem-estar de nossos povos.

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Lula apresentou 10 propostas para promover a reaproximação da região - uma abordagem consensual para questões econômicas, sociais e culturais.

A governante de fato do Peru, Dina Boluarte, não estava presente porque o congresso de direita do Peru não a autorizou a comparecer.

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Entre as propostas, Lula apresentou a realização de investimentos regionais para ajudar no desenvolvimento social e econômico, mobilizando os recursos de bancos como o Banco do Sul, um banco de desenvolvimento criado pela Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai (Fonplata) e o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social da Venezuela (Bandes).

Lula também fez um forte apelo para aprofundar a independência e a soberania da América do Sul em questões monetárias por meio de mecanismos de compensação e da criação de uma moeda de referência comum para o comércio, a fim de reduzir a dependência da região de moedas como o dólar.

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Ele enfatizou a necessidade de colaborar no nível de planejamento regional, para o qual pediu a atualização do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan), enfatizando a integração física e digital.

Ele também enfatizou a necessidade de reativar a cooperação regional em saúde, especialmente em vacinação e infraestrutura de saúde.

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Em seguida, ele se concentrou na colaboração regional em duas áreas estratégicas importantes, energia e defesa.

As nações sul-americanas já haviam estabelecido o Conselho de Defesa do Sul (Codesur), que não estava funcionando devido à contraofensiva reacionária dos EUA, que levou governos de direita a assumirem o poder na região entre 2009 e 2019.

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A colaboração na área da energia, já que muitos países sul-americanos são produtores de petróleo, aumentaria enormemente a força econômica e a posição de barganha da região em nível internacional, especialmente no atual clima geopolítico mundial.

Lula propôs a criação de uma estrutura de alto nível composta por representantes de todos os presidentes envolvidos para relançar um processo renovado de integração regional na América do Sul, enfatizando a urgência dessas tarefas - algo que foi repetido com entusiasmo por Nicolas Maduro, da Venezuela.

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Durante a cúpula, o presidente Maduro reuniu-se com vários presidentes com o objetivo de fortalecer os laços bilaterais estratégicos com essas nações para consolidar caminhos de cooperação e integração.

Os presidentes Maduro e Lula se reuniram no palácio presidencial do Brasil, onde comemoraram o restabelecimento das relações diplomáticas, incluindo a reabertura de embaixadas após quatro anos de ruptura total do Brasil com a Venezuela, realizada pelo presidente de extrema direita Jair Bolsonaro.

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Um memorando de entendimento sobre questões agroalimentares foi assinado por representantes dos dois países com o objetivo de fortalecer o intercâmbio sobre pecuária, soberania e segurança alimentar.

Além disso, Lula e Maduro discutiram a possibilidade de a Venezuela aderir à coalizão do Brics (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que Lula apoia fortemente, abrindo a possibilidade de os dois países fazerem uso da moeda comum que o Brics pretende emitir.

Maduro também realizou uma reunião com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, no Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que resultou na assinatura do Acordo para a Criação da Comissão de Vizinhança e Integração para coordenar a cooperação em sua extensa fronteira comum.

A fronteira tem sido a área de operações favorita dos paramilitares do narcotráfico, bem como uma base para operações paramilitares patrocinadas pela Colômbia e outras operações contra a Venezuela.

O Presidente Petro tornou-se uma figura importante no diálogo persistentemente defendido pelo Presidente Maduro entre Caracas e a oposição de extrema direita na Venezuela.

Petro organizou uma conferência internacional sobre a Venezuela, realizada em Bogotá, para incentivar as conversas entre eles.

Maduro também se reuniu com o presidente da Bolívia, Luis Arce, também no Itamaraty, buscando fortalecer os laços estratégicos entre as duas nações. Enquanto a Venezuela é rica em recursos petrolíferos, a Bolívia é rica em gás natural.

A reunião ocorreu dentro da estrutura de 13 acordos de cooperação assinados em abril passado entre os dois presidentes como parte da Comissão Conjunta de Integração Venezuela-Bolívia.

Após o incentivo de Lula e Maduro para fortalecer a Unasul, Petro anunciou a reintegração da Colômbia à organização regional.

Talvez o mais importante seja que Lula confirmou a legitimidade política do governo de Maduro: em uma coletiva de imprensa conjunta com Maduro, o presidente do Brasil expressou alegria ao dizer que “a Venezuela está de volta!”

Ele enfatizou que a Venezuela é uma democracia e que qualquer opinião em contrário é resultado de uma falsa “narrativa política” de “autoritarismo e anti-democracia” dos inimigos da Venezuela.

Ele acrescentou: “Já discuti muito com social-democratas europeus que defendem a democracia e não entendem que a Venezuela é uma democracia”.

Lula afirmou ainda que é incrível que a nação tenha sido submetida a mais de 900 sanções só porque os EUA não gostam dela.

Ele continuou dizendo que negar que Maduro seja o presidente da Venezuela e reconhecer Juan Guaido em seu lugar era a “coisa mais absurda do mundo”.

Lula também expressou seu forte desejo de que a Venezuela volte a ser uma nação totalmente soberana, onde “somente seu povo, por meio do voto livre, decida quem governará a nação”.

Em contraste com a Europa “civilizada”, o presidente recentemente eleito do Paraguai, Santiago Pena, um direitista, declarou em uma entrevista à BBC: “Há apenas um presidente na Venezuela e seu nome é Nicolas Maduro”.

Sobre as 31 toneladas de ouro venezuelano mantidas no Banco da Inglaterra, Lula foi inequívoco: “Essa reserva de ouro, em vez de ser colocada sob a custódia de Guaido, deve ser colocada sob a custódia do governo venezuelano.”

Lula acrescentou que o relacionamento do Brasil com a Venezuela não deve ser apenas comercial; ele precisa ser político, cultural, econômico e tecnológico.

Ele disse que isso poderia ser feito em torno de parcerias universitárias e até mesmo com suas forças armadas, trabalhando juntos em sua fronteira comum “para combater o narcotráfico”.

A proposta de Lula para que a Venezuela se junte à coalizão do Brics e a disposição entusiasmada da Venezuela em fazê-lo foram imediatamente bem recebidas pela China e pela Rússia.

Isso ocorre no contexto do fato de a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que foi deposta por maquinações complicadas da direita em 2016, ter sido nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics.

Com a cúpula de Lula, a integração regional da América do Sul deu um salto qualitativo. Ela enfrenta sérias complexidades no legado neoliberal deixado pelas administrações de direita que destruíram várias economias nacionais em um período muito curto.

A política de Washington combina o intervencionismo pesado para promover a mudança de regime, especialmente contra a Venezuela, com uma política de “dividir para reinar” que foi bem-sucedida em levar ao poder líderes como Bolsonaro, Mauricio Macri, Ivan Duque e muitos outros líderes de direita.

A cúpula é uma forte reafirmação da soberania coletiva da região - todos fatores de enorme importância estratégica. É também uma vitória para a multipolaridade e, objetivamente, um retrocesso substancial para os EUA e seus cúmplices.  

(Artigo traduzido por Franklin Frederick)

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