Cunha, quanto mais irritado, melhor

A história nos mostra que a saída para as grandes crises, por mais que não representem solução real, é eleger alguém para ser lançado como alimento à arena dos leões. A multidão descontente se acalma ao ver o sangue derramado. Por um lado, assim funcionou com Dilma. O próximo passo da direita agora é incriminar Lula

A história nos mostra que a saída para as grandes crises, por mais que não representem solução real, é eleger alguém para ser lançado como alimento à arena dos leões. A multidão descontente se acalma ao ver o sangue derramado. Por um lado, assim funcionou com Dilma. O próximo passo da direita agora é incriminar Lula
A história nos mostra que a saída para as grandes crises, por mais que não representem solução real, é eleger alguém para ser lançado como alimento à arena dos leões. A multidão descontente se acalma ao ver o sangue derramado. Por um lado, assim funcionou com Dilma. O próximo passo da direita agora é incriminar Lula (Foto: Chico Vigilante)


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"Quem julga será julgado", estamparam os jornais na boca de Eduardo Cunha, na segunda, 12 de setembro.

Não importa o tom bíblico do recado do parlamentar enviado a seus pares no dia da votação de seu pedido de cassação na Câmara Federal.

Tratava-se de mais uma de suas ameaças para amedrontá-los, tentar manter seu mandato e se livrar das garras da República de Curitiba.

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Ao citar palavras de um dos 12 discípulos de Cristo, Cunha quis lembrar a integridade do versículo 7:1-2 de Mateus que diz: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós."

A era da vitória da chantagem de Cunha, no entanto, acabou. Ele perdeu o mandato por 450 votos sim, dez não e nove abstenções, pesar da insistente defesa de Cunha feita durante a sessão pelo deputado Carlos Marun, do PMDB do Mato Grosso do Sul.

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Silvio Costa, do PTdo B de Pernambuco, que assim como a maioria votou pela cassação de Cunha, chegou a elogiar a coragem de Marun por manter-se ao lado de Cunha mesmo contra a maré.

Costa chamou de canalhas e traidores deputados do DEM, do PMDB e do PSDB que segundo ele, "outro dia estavam na Rússia com Eduardo Cunha tomando vodca e tramando o impeachment de Dilma e hoje eles não tem a coragem nem de se aproximar para cumprimentá-lo aqui no plenário".

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A história nos mostra que a saída para as grandes crises, por mais que não representem solução real, é eleger alguém para ser lançado como alimento à arena dos leões. A multidão descontente se acalma ao ver o sangue derramado.

Por um lado, assim funcionou com Dilma. O próximo passo da direita agora é incriminar Lula. Com isso esperam anular as possibilidades do PT em 2018 e talvez, para sempre.

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No seio da direita o governo golpista necessitava de alguém para levar ao sacrifício, a fim de convencer à multidão de que - ao contrário do que diz a imprensa internacional e a esquerda - os golpistas não fazem corrupção mas sim lutam contra ela.

Ninguém melhor do que Cunha que já cumpriu seu papel e tem, inegavelmente, o nome sujo da praça, inclusive no exterior, em mais de um episódio de sonegação fiscal, evasão de divisas, corrupção, enriquecimento ilícito, etc.

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Cunha, no entanto, nunca aceitou fazer papel de alimento. Negocia e ameaça. Ameaça e negocia. Seu último recado antes da guilhotina foi lembrar aos mais de duzentos deputados cujo financiamento de campanhas passou por suas mãos que se resolver abrir a boca eles podem acabar tendo fim semelhante ao seu.

O ex-presidente da Câmara está obviamente informado sobre a montagem e o andamento no Congresso do projeto de anistia para beneficiar deputados que fizeram uso do Caixa Dois em campanhas eleitorais.

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Se tudo der certo muitos se livram por aí. Mas e os demais, aqueles que como Cunha se utilizaram de dinheiro de propina para o enriquecimento ilícito? E aqueles que fizeram uso dos dois tipos de expedientes?

A quem caberá listar a todos e separar o joio do trigo? Cunha certamente é um homem que detém importantíssimas informações para dirimir dúvidas a respeito, quando se trata de bandidos do Congresso Nacional.

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Seu discurso na imprensa de que sua cassação vai representar o fortalecimento da ideia de que houve um golpe contra Dilma é uma total inversão de valores e demonstração de seu desespero.

Houve um golpe sim contra Dilma, contra a Constituição e contra o Brasil. Mas caçá-lo não fortalece nem enfraquece esta verdade.

Golpe seria não caçá-lo e permitir que ele guarde pra si o que sabe da fábula Temer, Cunha e os mais de 200 ladrões.

Para o bem do Brasil, quanto mais irritado Cunha ficar melhor, assim ele dará o mapa da mina da corrupção no Congresso Nacional.

Resultado dessa irritação, esperemos não escapem Temer e a turma de tucanos que diz não apoiar o governo golpista mas mama em suas tetas e impõe sua visão desastrada em setores estratégicos, como na nossa política externa.

Na memória de muitos de nós a figura de Cunha representou o pavor de vermos aprovadas no Congresso leis que colocariam o Brasil na contra mão da história.

O que significaria para a nossos filhos e netos a aprovação de projetos da pauta de Cunha como a redução da maioridade penal; a possibilidade de igrejas contestarem o STF; a instituição de um Estatuto da Família, cujo conceito de família perante o Estado seria formada única e exclusivamente por um homem, uma mulher e seus filhos?

Após 11 meses de processo na Câmara, o arrogante, agressivo, truculento e clientelista, Eduardo Cunha, dono de uma agenda negativa para os trabalhadores e para a sociedade em geral, já vai tarde.

Ficou mais do que provado pelo Conselho de Ética da Casa que ele mentiu na CPI e tem contas, patrimônio e bens no exterior. Para o Banco Central brasileiro os recursos são dele. Para o Banco suíço e o governo suíço também e todos os ministros do Supremo concordam com o fato.

Depois de se manter toda a sessão de costas para a mesa diretora o ex-presidente da Câmara deixou o plenário sob gritos de Fora Cunha.
Nos últimos tempos nunca me senti tão aliviado e estou certo de que os brasileiros e brasileiras vão comemorar muito a vitória de vê-lo expulso do Congresso.

O que Cunha representa, no entanto, ainda se mantém como um câncer na política brasileira.

Esta batalha não chegou ao fim. Ocuparemos ruas e praças deste país até que o STF julgue Cunha, e todos os outros que se lambuzaram com ele na corrupção, condene-os e determine que devolvam aos cofres públicos os resultados de seus atos ilícitos.

Fora Temer e seu governo golpista!

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