Cunha e o choro sem lágrimas
Cunha fez um muxoxo, embargou a voz e continuou lendo suas alegações mentirosas com a voz mais normal do mundo. Teatro puro. E teatro ruim, o ator não verteu lágrimas
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Cunha chorou, você viu? - perguntou-me o sujeito na fila da lotérica.
que dia? - redargui de volta.
ué, agora pouco, quando pediu a renúncia. - respondeu-me, dando-me uma olhada crítica de desaprovação, como se eu fosse um analfabeto político desinformado.
dei de ombros e continuei marcando meus seis números no boleto da mega: data do meu niver, niver da minha mãe, quantos dedos tenho em uma mão, quantos dentes tenho na boca...
sempre marco os mesmos números, há décadas, e sempre perco.
quer dizer, minto, o palpite sofreu uma pequena alteração quando extraí os sisos.
confesso que fiquei com vontade de extrair, à força, os sisos daquele apostador midiotizado.
ora, Cunha chorou. onde já se viu?
pros diabos com essas falsas imagens, com essas construções artificiais, seu midiota. disse pra mim mesmo enquanto marcava, mecanicamente, os números mágicos, como se dissesse a meu interlocutor.
o midiota está por toda parte, no face, na fila do banco, no açougue, na padaria, no bar...
o midiota sempre estufa o peito para compartilhar "as últimas", as novidades, as "notícias quentes", os furos da grande mídia.
e sempre o faz instantaneamente, para dizer que tem timing, que está atualizado.
e sempre o faz de forma afobada e acrítica.
aprendi na Grande Ordem da Cafunagem que há sempre que se analisar o discurso midiático, tem sempre alguma coisa ali, oculta.
Mestre Cafuna trata a midiotia como o mal do século, por isso trata os midiotas com sua uma terapêutica profilática e heterodoxa.
ele sempre diz que o maior entrave para se erradicar essa pandemia é o seu contágio.
notei que da direita à esquerda todos falaram no choro de Cunha, como se estivessem todos contagiados, intoxicados com aquela imagem agendada pela mídia velha.
quem tem ouvidos para ouvir que ouça, o choro de Cunha é somente mais uma imagem que a mídia velha plantou na sua mente.
taqui o vídeo, em close. dê uma olhada nos olhos deste cabra, mostre-me uma lágrima.
Cunha fez um muxoxo, embargou a voz e continuou lendo suas alegações mentirosas com a voz mais normal do mundo.
teatro puro.
e teatro ruim, o ator não verteu lágrimas.
só os bebês, e isso ali pelos oito nove meses de vida, choram sem verter lágrimas.
na verdade, na maioria das vezes os bebês nem estão a chorar, estão apenas a emitir ganidos de desespero como forma de conseguir ajuda.
quase todas as vezes que o bebê emite esse choro sem lágrimas ele quer alguma coisa.
Cunha estava ali, frente às câmeras, esperneando como um bebê adulto, pedindo "pelo amor de deus alguém me ajuda".
ato contínuo a mamãe midiazona apareceu. afinal, que pariu Cunha que o embale. e já surgiu naturalizando o Choro.
se quisesse era só mostrar esse vídeo em close e dizer: vejam, senhoras e senhores, essa é somente mais uma farsa do velho farsante, não há lágrimas, portanto choro não há.
eu li Marcel Mauss e sou apaixonado por sua obra L'expression Obligatoire des Sentiments, eu sei o que é o choro, o que ele significa, quais são os seus códigos.
dizer que Cunha chorou foi uma forma que encontraram de humanizar um dos últimos atos infames daquele canalha.
com o apoio dos colegas da mídia velha, a farsa instantaneamente virou fato.
um segundo após a renúncia, só se falava naquela imagem.
Cunha chorou.
chorou o cacete. há que chorar, com lágrimas e tudo quando ele, esposa e filha estiverem no cárcere pagando pelo mal que fizeram ao país ao surrupiarem a grana do povo.
e digo mais, meu caro midiota:
não basta a renúncia de Cunha, sua cassação não basta. Cunha precisa ser preso. basta!
palavra da salvação.
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