CSN mantém produção e ameaça Sul Fluminense
"Em meio à pandemia do novo coronavírus, a Companhia Siderúrgica Nacional, comandada pelo vice-presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, não reduziu sua produção em Volta Redonda", revela o jornalista Marcelo Auler. Segundo ele, cerca de 15 mil trabalhadores da CSN e empresas terceirizadas frequentam a usina em três turnos
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Por Marcelo Auler, em seu Blog e para o Jornalistas pela Democracia
Apesar de todo o surto de coronavírus que tem gerado no mundo inteiro a redução das jornadas de trabalho, e mesmo já tendo ocorrido a morte de um morador de Volta Redonda e a confirmação da infecção de outros 44 com a COVID-19, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), responsável pela Usina Siderúrgica Presidente Vargas (UPV), naquele município, não reduziu sua linha de produção. Ela apenas dispensou, em férias coletivas de 15 dias, cerca de dois mil empregados, os que estão no chamado grupo de risco – maiores de 60 anos ou com alguma comorbidade -. estagiários e aprendizes.
Com isto, diariamente cerca de nove mil empregados diretos da CSN e outros de cinco a seis mil trabalhadores terceirizados estão frequentando a UPV em três turnos de oito horas cada um. Para a Oposição Sindical dos Metalúrgicos no Sul Fluminense, que fala em um maior número de trabalhadores dentro da usina, a manutenção da produção provocará uma explosão de infectados pelo coronavírus não apenas em Volta Redonda, mas também nas cidades vizinhas. Diversos trabalhadores residem em Barra Mansa, Resende e Itatiaia, entre outros municípios.
Oficialmente a CSN, controlada pelo empresário Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), não quis se manifestar sobre a situação. Ou seja, entende que não deve satisfações, mesmo estando de forma aparentemente irresponsável colocando em risco a vida de milhares de moradores do Sul do Estado do Rio.
Questionada, a prefeitura municipal de Volta Redonda não respondeu a nosso e-mail. Mas o prefeito Samuca Silva, que já até limitou o número de pessoas dentro de supermercado e farmácias – uma a cada dez metros quadrados -, na terça-feira (31/03), proibiu a entrada de veículos da região metropolitana do Rio e de outros estados na cidade. Os ônibus e aplicativos de passageiros já estavam proibidos há mais tempo.
Prefeito fala em apreensão na cidade
A Voz da Cidade, jornal de Volta Redonda, na edição do dia 24 de março informou que em uma live, o prefeito “reforçou que a manutenção das atividades na Usina Presidente Vargas (UPV), no momento em que o mundo inteiro está tomando medidas para evitar que o coronavírus se espalhe, vem gerando muitas críticas na cidade”. Na versão do prefeito, a empresa garantiu que “os empregados estão manuseando ferramentas higienizadas”.
Para a Oposição Sindical, porém, tudo isso é pouco. Como mostra no vídeo abaixo Sandra Mayrink Veiga, da coordenação da oposição, os trabalhadores da Usina fazem suas refeições em restaurantes coletivos e são transportados de casa para o trabalho (e vice-versa) em ônibus que os levam de forma aglomerada, muitos deles de pé. Ela conclui: “Essa cidade vai ter uma explosão de coronavírus, pois na medida em que esses homens vão se contaminando uns com os outros, vão levando o vírus para dentro de suas casas e para a cidade toda”.
A Oposição Sindical defende as férias coletivas antecipada para todos os trabalhadores, paralisando aos poucos a fábrica e deixando na usina apenas aqueles necessários para os serviços essenciais, como a manutenção dos fornos, que não podem ser desligados. Tal e qual aconteceu diversas vezes nos anos 80, quando os metalúrgicos entravam em greve que marcaram a história da cidade.
Ainda segunda a Oposição Sindical, “a CSN, ano passado, teve R$ 7 bilhões de lucro líquido o que permite que ela possa pagar dois meses de salários para seus funcionários”.
Também contestam a informação de que não pode haver redução da produção de folhas de flandres, utilizada na fabricação de latas usadas para acondicionar alimentos. Segundo a Oposição, o estoque existente na CSN permite cobrir até 40 dias da demanda do mercado. Alegam ainda que com o baixo consumo provocado pelo isolamento social que está sendo cumprido pela sociedade, esse estoque poderá durar por mais tempo. Como a CSN não quis se manifestar, não foi possível confirmar estes dados junto à empresa.
Ouvido pelo Blog, o Ministério Público do Trabalho em Volta Redonda disse desconhecer tais fatos, mas já nesta quinta-feira (02/04) abrirá um procedimento a respeito.
Ouça um dos vídedos da Oposição Sindical dos Metalúrgicos no Sul Fluminense:
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