Crueldade e absurdo

A crueldade do governo Temer avança a tal ponto que populações mais vulneráveis, sem renda suficiente, começam a substituir o gás de cozinha pelo fogão a lenha. O presente das famílias vai sendo sacrificado pela lógica econômica excludente deste governo, mas não só. O futuro de seus filhos também vai sendo comprometido

Michel Temer 
Michel Temer  (Foto: Alencar Santana Braga)


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Na semana iniciada em 13 de novembro, os desmaios (três sucessivos) por fome de um aluno de 8 anos da escola pública do Distrito Federal, em plena capital da República, chocou as consciências e os corações de quem viu a notícia na grande mídia e nas redes sociais. Na semana anterior, em 4 de novembro, a Petrobras anunciou o sexto reajuste consecutivo do preço do botijão de gás de cozinha, em sua nova política de revisão mensal de preços nas refinarias, conforme a variação das cotações do produto nos mercados a vista da Europa. Assim, só no acumulado deste ano, o preço do gás pago pelas famílias superou 15%, ante uma inflação anual de menos de 3%.

A crueldade do governo Temer avança a tal ponto que populações mais vulneráveis, sem renda suficiente, começam a substituir o gás de cozinha pelo fogão a lenha. O presente das famílias vai sendo sacrificado pela lógica econômica excludente deste governo, mas não só. O futuro de seus filhos também vai sendo comprometido.

Estatística recente do IBGE sobre o desemprego, que continua em número assustador, acima de 13 milhões de pessoas, dá conta de que os mais afetados são os jovens. Nada menos do que 30% de meninos e meninas até 24 anos de idade estão sem emprego. Inúmeros, também estão fora das escolas em que deveriam estar.

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Esse quadro desolador tem relação direta com o agravamento da recessão econômica em 2015 e 2016, causada pelo golpe que impôs o governo Temer. O PIB do primeiro semestre deste ano foi nulo, em comparação com o mesmo período de 2016. E a taxa de investimento, de 15,5%, foi a pior desde 1996, no início da série do IBGE.

Se não tem dinheiro no comércio, na feira, na pequena empresa, no mercado ou na padaria é porque o governo foi colocado no poder para apresentar a conta da crise aos que mais precisam do salário mínimo, da saúde, da previdência e da educação públicas, dos programas sociais e da assistência social. O povo já não pega o avião para visitar a família distante, corta o lazer e cancela o próprio plano de saúde.

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Mas o dinheiro não desaparece da economia por mágica. Os empregos que desaparecem, os salários que não são reajustados, o crediário que mingua, a conta que deixa de ser paga e as empresas que entram em recuperação resultam da decisão do governo de arrochar a massa do povo e poupar os ganhos dos bancos, dos ricos e dos super-ricos. Os governos do presidente Lula colocaram o povo dentro do orçamento federal; o governo Temer corta programas sociais e retira o pobre do Orçamento. É uma inversão total de prioridades. A realidade é que o dinheiro só desapareceu para os trabalhadores e para a classe média, que se beneficiaram nos governos Lula e Dilma.

Para que a roda da economia volte a girar, a conta de sacrifícios deve ser redistribuída. Os que têm o dinheiro na mão não podem só ganhar. Se têm renda maior, mais eles têm que contribuir para reequilibrar as contas nacionais.

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A agenda de Temer não tem nenhum compromisso com o povo e o País. O governo paga juros reais de quatro a cinco vezes maiores do que nos Estados Unidos e na Europa. Temer joga por terra o regime de partilha do Pré Sal e entrega blocos de petróleo de graça para multinacionais. Planeja privatizar a Eletrobras e usa uma argumentação cínica: a de que isso vai evitar a alta de tarifas de energia no futuro. Entretanto, todo mundo sabe que o Brasil tinha a energia mais barata do mundo, antes das privatizações, e passou a ter uma das tarifas mais caras após a venda de estatais.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin segue à risca esse mesmo figurino. Quer vender a CESP, a companhia de saneamento estatal, a Sabesp, e o metrô, como é o caso da concessão das linhas 5 e 17 barrada no Tribunal de Contas do Estado.

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No afã de se credenciar como candidato presidencial, em meio a um PSDB rachado, Alckmin tenta dissimular o apoio a Temer. Entretanto, o Projeto de Lei 920 que tramita na Assembleia Legislativa aplica a São Paulo o mesmo congelamento de gastos do governo federal pelos próximos dois anos. Congelamento que ele não quer que valha para a alta burocracia judiciária do Estado, a quem quer agradar com mais aumentos.

Esse é o teatro de absurdo do País e do Estado. O absurdo de um funil social em que as desigualdades de renda e de oportunidades para os que mais necessitam só tendem a aumentar, caso eles prevaleçam. É o que não podemos deixar acontecer.

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