Crônica de uma condenação anunciada

"Quase ninguém, a não ser os que desejam impedi-lo de ser candidato,  acredita que a Justiça reformará a sentença do juiz Sergio Moro e absolverá Lula no caso do triplex do Guarujá.  A razão é simples: o ex-presidente operário já estava condenado desde o início da Operação Lava-Jato, muito antes da sua vida ser devassada em mais de dois anos de investigações, porque a sua eliminação do cenário político fez parte do projeto do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff", diz o colunista Ribamar Fonseca; "E como o objetivo era varrer os petistas do mapa, até porque o golpe também atendia a interesses externos, obviamente não poderiam deixar Lula livre, conscientes de que ele poderia retomar o poder"

13/07/2017- São Paulo- SP, Brasil- Ex-presidente Lula dá entrevista coletiva na sede do PT Nacional, em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert
13/07/2017- São Paulo- SP, Brasil- Ex-presidente Lula dá entrevista coletiva na sede do PT Nacional, em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert (Foto: Ribamar Fonseca)


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Quase ninguém, a não ser os que desejam impedi-lo de ser candidato,  acredita que a Justiça reformará a sentença do juiz Sergio Moro e absolverá Lula no caso do triplex do Guarujá.  A razão é simples: o ex-presidente operário já estava condenado desde o início da Operação Lava-Jato, muito antes da sua vida ser devassada em mais de dois anos de investigações, porque a sua eliminação do cenário político fez parte do projeto do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff.  Foi quando perceberam que não conseguiriam arrancar o petismo do poder em eleições livres e limpas, logo após a derrota do seu candidato Aécio Neves em 2014, que as forças da Direita decidiram executar o golpe. E como o objetivo era varrer os petistas do mapa, até porque o golpe também atendia a interesses externos, obviamente não poderiam deixar Lula livre, conscientes de que ele poderia retomar o poder. Para execução do projeto montaram um gigantesco esquema com a participação do próprio vice-presidente da República, de ministros do  governo Dilma, da mídia, do Congresso Nacional e de parte do Judiciário, além de organizações mercenárias que atuaram decisivamente nas redes sociais para mobilizar o povo, disseminando criminosamente pela internet o ódio que a mídia plantou. Só depois de decidida a destituição de Dilma é que buscaram uma justificativa para o impeachment: as cínicas pedaladas fiscais. 

O processo,  na verdade,  começou a ser desenhado no julgamento do chamado “mensalão”,  com a sistemática campanha de ódio da mídia contra o PT, apontado como  partido de corruptos. O Judiciário, a essa altura, já ensaiava a sua participação no processo, criminalizando apenas petistas e deixando de fora o “mensalão tucano”. Por seu protagonismo na época o ministro Joaquim Barbosa ganhou fama e se tornou ídolo da Grande Imprensa, chegando a ser visto pela revista “Veja” como “o menino pobre que mudou o Brasil”. Se isso fosse verdade ele teria mudado o pais para pior. Com o prosseguimento da execução do projeto golpista o Supremo Tribunal Federal sinalizou a sua participação quando o ministro Ricardo Lewandowski declarou que era preciso “aguentar” mais três anos de Dilma. Depois, o ministro Celso de Mello, o mesmo que manifestou sua admiração pelo “constitucionalista” Michel Temer, criticou o que chamou de “crise moral” do governo, mesmo sem nenhuma acusação contra Dilma. E até hoje não disse nada sobre o atual governo, cujo presidente é acusado formalmente de corrupção passiva pelo Procurador Geral da República. 

Diante desse panorama é rematada tolice imaginar que o Supremo possa anular o golpe, como querem alguns mais otimistas. Apesar das  acusações de que o impeachment teria sido comprado, o que pode vir a ser confirmado na delação do ex-deputado Eduardo Cunha e seria motivo suficiente para anula-lo, a força que impulsionou o golpe é muito maior do que se pensa, com origem no exterior.  Ocorre, também,  que essa compra de votos parece ter se tornado um  procedimento normal na política brasileira desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, acusado de ter realizado essa prática para a aprovação da emenda da reeleição, que lhe assegurou oito anos de mandato. Entre os que denunciaram na época esse comércio vergonhoso  estão a CNBB e os deputados acreanos  que venderam o seu voto por R$ 200 mil, segundo revelações do livro “O príncipe da privataria”, do jornalista Palmério Dória. Essa prática foi escandalosamente realizada agora por Temer que, segundo o jornal “O Globo”, torrou R$ 15 bilhões na compra de votos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados para rejeitar a denúncia de corrupção passiva, feita contra ele pelo Procurador Rodrigo Janot. E o Supremo continua fingindo que não vê nada disso, fazendo cara de paisagem. 

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Se o nosso país tivesse uma Justiça  realmente séria o juiz Sergio Moro não teria coragem de condenar alguém sem provas, muito menos um ex-presidente da República. Por mais que se queira, fica difícil acreditar numa Justiça que age politicamente, com um dos membros da mais alta Corte declarando-se admirador do senador Aécio Neves que, entre outros deslizes, foi flagrado pedindo dinheiro  a um empresário, que o classificou como um “chato” cobrador de propina. A cada dia o Poder Judiciário mais se parece com um partido político, o que aprofunda o seu descrédito junto à população e, sobretudo, junto a juristas nacionais e internacionais. Apesar disso, a defesa de Lula tem o dever de recorrer contra todas as decisões judiciais desfavoráveis ao ex-presidente operário mas, infelizmente, parece perda de tempo, porque até hoje ele não ganhou nenhum recurso. Alguém tem dúvidas de que o juiz Sergio Moro irá negar o embargo à sua própria sentença condenando o líder petista? Os advogados do ex-presidente devem recorrer à segunda instância, no caso o Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, onde também, a julgar por alguns sinais, a sua condenação deverá ser confirmada. Um dos membros daquela Corte, o desembargador João Pedro Gebran Neto, que é ali o relator da Lava-Jato,  tem negado sistematicamente todos os recursos de petistas, enquanto o presidente, desembargador Carlos Eduardo Thompson, em entrevista ao “Jornal Nacional”, fez elogios ao texto de Moro na sentença que condenou Lula. 

Todas as ações na órbita da Justiça destinadas a eliminar o ex-torneiro mecânico da sucessão presidencial estão sendo tomadas de maneira cronometrada, de modo a produzir o efeito desejado a tempo de torná-lo inelegível. Não  foi por  acaso que o magistrado de Curitiba divulgou a sua sentença agora, com prazo para que o TRF-4 tome a sua decisão justo no período das convenções para escolha dos candidatos às eleições de 2018, em julho do próximo ano. Na verdade, já surgiram suspeitas de que a sentença de Moro já estaria pronta há muito tempo, mas agora é que era a época adequada para a sua divulgação. Além disso, admitindo-se a possibilidade remota de que o TRF-4 absolva Lula, considerando a escandalosa ausência de provas contra ele, foram instalados estrategicamente mais quatro inquéritos que o transformam em réu, o que significa que o líder petista poderá ser tornado inelegível em qualquer um deles.  Na realidade, será muito difícil reverter a situação, porque o  golpe destinado a tirar o PT do poder tem, entre seus principais objetivos, o controle da Petrobras, sobretudo do pré-sal, pelos Estados Unidos.  Não foi por acaso que os norte-americanos espionaram a presidenta Dilma Roussef e a estatal do petróleo. E não querem Lula de volta porque no seu governo  o Brasil se tornou independente demais, saindo do domínio do Tio Sam e passando a integrar um bloco de países fortes como a Russia,  China,  India e a África do Sul. Os golpistas, sem nenhum constrangimento, já  estão esfacelando a Petrobras para privatizá-la e conduzindo o Brasil de volta à coleira dos Estados Unidos. É por isso que defender Lula significa defender a nossa pátria, um dever de todo patriota. 

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