Crítica e censura à imprensa

Os limites da democracia já foram ultrapassados há tempos pela família de milicianos no poder e os rompantes de censura à Folha e à Globo e a ameaça de um novo AI-5 são apenas a faceta fascista da semana

(Foto: Antonio Cruz - ABR)


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Uma defesa maniqueísta da imprensa seria tão nefasta quanto são nefastos os ataques que explicitamente ela está sofrendo nesses dias. São algumas reflexões sobre os fatos, exaradas à luz do que nos chega pelos próprios meios de comunicação.

No que pese a necessidade da constância da investigação jornalística de casos pretéritos, a revista Veja não fez uso de boas práticas ao trazer matéria sem novidade sobre o assassinato de Celso Daniel, cujo conteúdo foi contestado por vários envolvidos. A paixão pela condenação de alguém é explicada no âmbito humano, mas a imprensa deve ponderar o impacto de ilações em momento tão delicado no País, com governo à deriva atolado em laranjal podre, e a Constituição sendo ameaçada até por quem tem obrigação de defendê-la.

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Por outro lado, o destempero a que chegou Bolsonaro em suas críticas à Globo mostra que o conteúdo da reportagem da emissora está bem perto da solução dos assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes. Por muito menos tal desgovernante já teria sido alijado do poder. Cabe agora ao STF cumprir seu papel de julgar o mandatário da nação e colocar um fim a esse momento sombrio de nossa história.

Assim, os limites da democracia já foram ultrapassados há tempos pela família de milicianos no poder e os rompantes de censura à Folha e à Globo e a ameaça de um novo AI-5 são apenas a faceta fascista da semana. O perigo já deixou de ser iminente para se transformar em realidade e não há o que o impeça, em face de um Congresso muito fraco que pondera seus ganhos e perdas pessoais, antes de atuar em prol da liberdade duramente conquistada pela sociedade.

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Por fim, a melhor resposta aos tresloucados ataques à imprensa de Bolsonaro é fazer o bom jornalismo. No caso específico da Folha de S. Paulo, editorial e coluna de sua Ombudsman alertam para esse risco à democracia. O jornal, por seu turno deve ser cada vez mais preciso, por exemplo, incluindo Anderson Gomes como vítima de assassinato junto com Marielle Franco e assumindo posições políticas, deixando de propalar a inexistente isenção absoluta da notícia. Isso dará mais vigor aos veículos, como acontece nos Estados Unidos, porém não impedindo os ataques oficiais que são ditatoriais na origem, o que já sabíamos bem antes das eleições de 2018.

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas

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