Crise institucional ou caos planejado?
"Não há hoje no Brasil uma crise institucional no sentido clássico da expressão", acredita Jeferson Miola. "Assistimos, isso sim, à fabricação de um clima caótico e instável para justificar atentados terroristas à democracia e à Constituição. O 7 de setembro é mais um ensaio desta estratégia"
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A ideia de que há uma crise institucional no Brasil é uma invenção diversionista do próprio governo para forjar um clima de tensão.
O que existe é algo pior: é um cenário planejado de caos; é a fabricação, pelo próprio governo, de um ambiente de tumulto e confusão.
O contexto de caos planejado é pior que uma crise circunstancial porque revela a existência de uma escolha consciente, pensada e deliberada, para jogar o país no abismo.
Crise institucional pressupõe conflito e impasse entre os poderes da República. Para que se instale efetivamente uma crise entre as instituições, é preciso que duas ou mais partes se digladiem. Como ensinam os argentinos, “para dançar um tango são precisos dois dançarinos”.
Não é isso, contudo, o que se observa no Brasil.
Os poderes da República não estão se digladiando. O que está ocorrendo, na verdade, são investidas unilaterais, metódicas e sistemáticas do Bolsonaro e dos generais contra o STF, sobretudo.
É bastante sintomático que o próprio presidente e dirigentes militares promovam este caos. Fazem isso porque pretendem deixar o país permanentemente em suspense e em modo pânico.
Em termos racionais e lógicos, todo governante almeja paz e tranquilidade para poder concretizar ao máximo seu programa de governo e, assim, aumentar as chances de reeleição. O governo militar, porém, opta por fazer exatamente o contrário disso.
Bolsonaro não governa. Ele só tumultua, gera instabilidade e conflitos permanentes.
Em quase três anos de mandato, não existe um único registro de Bolsonaro compenetrado, sério, trabalhando ao redor de uma mesa e reunido com técnicos e especialistas para analisar problemas e construir soluções. Isso não aconteceu – pasme! – nem mesmo em relação à pandemia.
De outra parte, entretanto, abundam situações de Bolsonaro liderando e promovendo arruaça e balbúrdia no país afora. E inclusive durante o horário de trabalho, usando estrutura estatal e dinheiro público.
As catástrofes econômica e humanitária, o morticínio de quase 600 mil pessoas; a pobreza, o desemprego e a fome que acometem mais de 100 milhões de brasileiros; a inflação maior que 10% em algumas capitais, o litro da gasolina acima de R$ 7, o botijão de gás a R$ 120 etc, não fazem parte das preocupações centrais do governo.
O clima de caos é funcional à estratégia de poder dos militares, porque assim eles desviam a atenção desta realidade trágica e os militares continuam sendo poupados de cobranças pela responsabilidade de deixar o país em destroços.
Além disso, o caos fornece o “caldo de cultura” instrumental ao pretexto de intervenção deles como o “poder moderador” que “garante” a lei e a ordem ante o ambiente de baderna, violência e tumulto produzido, ironicamente, por eles mesmos.
Não há hoje no Brasil uma crise institucional no sentido clássico da expressão.
Assistimos, isso sim, à fabricação de um clima caótico e instável para justificar atentados terroristas à democracia e à Constituição. O 7 de setembro é mais um ensaio desta estratégia.
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