Crise econômica derrota kirchnerismo

O resultado das primárias na Argentina "foi negativo para o governo", diz o sociólogo Emir Sader. "Colocando para o kirchnerismo o grande desafio de reverter o resultado em dois meses, com o risco de comprometer o resto do mandato de Alberto Fernandez, sua reeleição e a continuidade de um modelo anti-neoliberal, com o eventual retorno da direita na Argentina"

Presidente da Argentina, Alberto Fernandez, e sua vice, Cristina Kirchner
Presidente da Argentina, Alberto Fernandez, e sua vice, Cristina Kirchner (Foto: Divulgação)


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No seu primeiro teste eleitoral, o governo de Alberto Fernandeznerismo-Cristina Kirchner sofreu uma grande derrota nas eleições primárias. A oposição venceu em 17 estados, entre eles os principais estados do país.

A principal derrota se deu no estado de Buenos Aires, historicamente o bastião do peronismo, porque ali vive grande parte da classe trabalhadora. O peronismo costumava sofrer derrota na cidade de Buenos Aires – com população basicamente de classe média e na maior parte dos estados -, mas se recuperava com vitória com pelo menos 10% de vantagem, no estado que concentra 40% dos eleitores do país.

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Os candidatos kirchneristas foram derrotados com 5% de vantagem para a direita. Ao que, somados aos resultados da capital e dos estados, levou o governo de Alberto Fernandez a ter uma grande e inesperada derrota.

O apoio a Alberto Fernandez vinha baixando, desde a sua grande vitória sobre Mauricio Macri, em 2019. Mas se mantinha ainda majoritário.

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A crise econômica levou o PIB a baixar 9% no ano passado, no primeiro trimestre deste ano cresceu 2,5%, dado insuficiente ainda para recuperar 3 anos seguidos de recessão. A inflação foi sendo contida, mas ainda se mantém na casa dos 50%, com os desgastes respectivos nos salários, que não conseguem recuperar as perdas e com inflação por volta de 10%.

O governo teve intensificada a campanha dos produtores de carne contra ele, quando decidiu proibir a exportação, enquanto não diminuísse o preço da carne para o mercado interno. Esses produtores ameaçam boicotar o abastecimento de carne para o consumo interno, com todos os efeitos de desgaste com a população, pelo peso consumo de carne.

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Os efeitos sociais dessa crise foram determinantes para os desgastes do apoio ao governo. A isso se somou uma campanha midiática contra Alberto Fernandez, pelo aniversário da sua mulher, com fotos de 12 pessoas reunidas sem máscaras. Tema explorado longamente pela oposição, que acabou se somando ao desgaste do governo.

Mantidos os resultados dessa eleição, o governo perderia a maioria no Congresso, fazendo muito mais difícil a continuidade do governo. Há dois meses ainda até as eleições de novembro, para que Alberto Fernandez, Cristina, Kicilloff – governador do estado de Buenos Aires – e outros dirigentes kirchneristas tratarem de reverter esses resultados.

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A economia argentina tinha se recuperado da maior crise da sua história, quando explodiu a política suicida de Carlos Menem de partida entre a moeda argentina e o dólar, nas mãos já de um governo do Partido Radical. Entre 2001 e 2002 o país viveu a maior instabilidade política que jamais havia vivido, com uma sucessão de vários presidentes em pouco espaço de tempo.    Até que os governos de Nestor e Cristina Kirchner conseguiram recuperar a economia da Argentina, inclusive conseguindo pagar a enorme dívida externa acumulada. O governo da Cristina foi reeleito, mas sofreu uma dura campanha dos produtores de soja, quando o governo tentou aumentar os impostos de exportação, mas teve que recuar, quando ficou sem maioria no Congresso, pelo voto decisivo do seu vice-presidente à oposição.

A derrota do candidato da Cristina, Daniel Scioli (atual embaixador da Argentina no Brasil), em 2015, para Mauricio Macri representou a retomada do modelo neoliberal e a contração de nova dívida externa. Um governo que perdeu rapidamente apoios, porque essa política econômica não atende as necessidades da massa da população, mas apenas do capital financeiro dos bancos privados.

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Até que Alberto Fernandez venceu a Mauricio Macri, em 2019, mas recebeu a pesada herança de uma economia novamente em recessão e com a enorme dívida contraída pelo governo de Macri. Essa situação condiciona fortemente o governo de Alberto Fernandez, além do fato de que, tendo recém assumido a presidência, veio a crise do Covid, que volta a afetar a economia.

Por esse conjunto de fatores, o resultado eleitoral das primárias, de forma surpreendente, foi negativo para o governo. Colocando para o kirchnerismo o grande desafio de reverter o resultado em dois meses, com o risco de comprometer o resto do mandato de Alberto Fernandez, sua reeleição e a continuidade de um modelo anti-neoliberal, com o eventual retorno da direita na Argentina.

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