Crise e luta sindical: não temer perigo nenhum
Apesar de estar sofrendo uma grande pressão, o sindicalismo é crucial para a classe trabalhadora, pois é na luta que se conquista direitos
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Com a crise mundial do capitalismo, após quase quatro décadas de destruição neoliberal, uma pandemia, e todo o estrago feito a partir dos últimos anos, a situação no Brasil beira ao insuportável. A polarização política existente no País, que vigora nos últimos anos, não caiu do céu, mas é fruto dessa brutal crise econômica, política e social. Com o golpe de 2016, os direitos sociais e o que restava de soberania, foram quase exterminados. O golpe foi engendrado e operado pela direita tradicional, “civilizada”, sob coordenação dos EUA, que deu golpes em praticamente toda a América Latina.
É relevante listar alguns dos principais problemas que tornam a situação presente uma das mais graves da história (a lista poderia ser muito mais extensa, claro):
1. Baixo crescimento da economia: entre 2016 e 2021, a economia cresceu meros 0,23% ao ano. O que significa que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, decresceu. Possivelmente, é o pior período de evolução do PIB da história do Brasil, que se tem registro;
2. Pobreza e retorno da fome: cerca de 40% dos domicílios brasileiros convivem com algum tipo de insegurança alimentar, equivalente a cerca de 125,2 milhões de pessoas, mais da metade da população do país. Cerca de 15% da população, equivalente a 33 milhões de pessoas, estão passando fome, das quais 14 milhões entraram nessa condição, em 2021;
3. Deterioração da infraestrutura: não há obras públicas importantes no País, o que compromete o próprio futuro da nação. Com a entrega da Eletrobrás, como investimentos em infraestrutura são realizados pelo setor público, o país corre o risco de apagões, por exemplo. Por outro lado, se tomarmos apenas o que o Brasil pagou de juros da dívida pública entre 2015 e 2021, chega a R$ 2,8 trilhões, equivalente a 32% do PIB brasileiro. Nenhum país do mundo gasta tanto dinheiro com juros da dívida. De forma metafórica, o pagamento dos juros da dívida equivale a como se o Brasil caminhasse com uma imensa bola de ferro presa ao tornozelo;
4. Destruição do mercado consumidor interno: feita através da liquidação da renda dos trabalhadores, não reposição das perdas salariais, ausência de crescimento, do fim dos aumentos do salário mínimo, da elevação da taxa de desemprego, etc., todas políticas que reduzem o tamanho do mercado consumidor interno. Essa é uma receita para o País nunca ser potência econômica de primeira grandeza;
5. Política Fiscal: a lei que estabeleceu o Teto de Gastos, uma das primeiras medidas do governo golpista de Michel Temer, em 2016, quase que inviabiliza o crescimento, e especialmente investimentos nas áreas estratégicas e de caráter social. Ao par disso, a estrutura tributária brasileira é extremamente regressiva, cobrando mais impostos de quem menos pode pagar;
6. Inflação alta: principalmente a dos alimentos, combustíveis e de eletricidade. A inflação é um problema mundial atualmente, mas o Brasil tem o agravante da classe trabalhadora estar em um dos mais brutais ciclos de empobrecimento de sua história;
7. Taxas de juros estratosféricas: os juros reais, ou seja, juros nominais menos taxa de inflação, superam 8% ao ano, o mais elevado do mundo. Essa política não resolve o problema inflacionário (porque a inflação não decorre de excesso de demanda), mas enche os cofres dos especuladores e banqueiros (que é o verdadeiro objetivo). Durante o governo Bolsonaro o Banco Central se tornou independente, ou seja, literalmente as raposas estão administrando o galinheiro;
8. Política de preços dos derivados do petróleo: é um mecanismo de assalto à população brasileira. Com essa política, mesmo sendo o Brasil uma potência petrolífera, a população é roubada em benefício de dividendos fabulosos aos especuladores e rentistas, muitos dos quais, mal sabem onde fica o Brasil;
9. Desindustrialização e ausência de investimentos em inovação: a economia nacional vem se desindustrializando desde a década de 1980. Sem indústria não existe nação e nem soberania. Exterminar a indústria brasileira é o sonho de Paulo Guedes e Bolsonaro, ou seja, o de tornar definitivamente o País um mero provedor de matérias-primas para o desenvolvimento dos países ricos;
10. Insegurança hídrica: no país com o maior volume de água doce do mundo, uma parte substancial da população não tem acesso regular à água potável e suas inúmeras utilizações;
11. Privatizações e entrega do patrimônio público: do golpe para cá foram feitas várias privatizações na Petrobrás e na Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), todas lesivas aos interesses nacionais. Há pouco, entregaram a Eletrobras. maior empresa de geração de energia elétrica da América Latina, por cerca de 10% do seu valor (sem contar a importância estratégica da companhia). Se o governo Bolsonaro se reeleger, o Brasil entra definitivamente em temporada de “queima de estoques”;
12. Risco de perda da Amazônia: não existe região em qualquer parte do globo terrestre que disponha de mais recursos naturais do que a Amazônia. O potencial de existência de grandes quantidades de minerais raros, gás, petróleo, naquela região, é muito grande. Nesse contexto, o atual debate sobre gestão internacional da Amazônia, obviamente, está sendo fomentado pelos grandes capitais internacionais, que querem simplesmente roubar os recursos da área. A Amazônia compreende nada menos que 67% das florestas tropicais do mundo e equivale à metade do território brasileiro. Se fosse um país, como querem alguns, a Amazônia Legal seria o 6º maior do mundo em extensão territorial.
Nesse quadro gravíssimo se destaca a importância dos sindicatos. Na condição de primeira e mais importante linha de defesa do trabalhador, os sindicatos se movem, historicamente, sob violento fogo cerrado. Além dos ataques patronais, há inúmeras outras dificuldades no trabalho de sindicalização e de organização de pessoas para o trabalho coletivo. No mundo todo há uma mobilização dos trabalhadores que pode ser considerada de baixa intensidade, fator que impacta bastante o trabalho de sindicalização e ação geral do sindicato. Essa é uma situação que deve começar a mudar (como estamos vendo agora na Europa), mas, por enquanto, os sindicatos estão sendo obrigados a “remar contra a correnteza”.
A sistemática desqualificação dos sindicatos pelo patronado em geral torna muito difícil os trabalhadores perceberem a importância que exerce o sindicato nas suas vidas. É complicado para a maioria dos trabalhadores entender que a existência do salário-mínimo é uma conquista fundamental numa sociedade na qual quase 60% da população vive com renda domiciliar per capita igual ou inferior ao valor do salário-mínimo, e 33 milhões de pessoas, estão passando fome. A conquista do salário-mínimo, que se estende, direta ou indiretamente, a 70% da população, é fruto de décadas de lutas organizadas dos trabalhadores. Ou seja, da luta sindical.
A cultura de valorização do indivíduo, tão cultivada no ideário neoliberal, leva os trabalhadores em geral a achar que conseguem resolver seus problemas solitariamente, sem a ajuda do sindicato ou de outras formas de organização coletiva. Uma parcela dos trabalhadores imagina que se trabalhar muito mais do que a média conseguirá ser reconhecida pela empresa e subir profissionalmente, sem precisar da ação coletiva do sindicato. E isso é verdade. O problema é que a fórmula funciona para um trabalhador em milhares. Analisada a história com atenção, constataremos que todos os direitos existentes são frutos das lutas coletivas dos trabalhadores.
A vida duríssima do trabalhador (desemprego, baixos salários, péssimas condições de trabalho etc.), dificulta que ele pare para refletir sobre questões de importância vital. A situação é tão desfavorável que o trabalhador nem quer parar para ouvir os argumentos dos sindicalistas, independentemente do assunto. Dessa forma, textos e materiais em geral produzidos pelo sindicato não são lidos pela maioria dos trabalhadores. Ou por falta de tempo, medo, desinteresse, falta de curiosidade etc.
Também o assédio moral e a superexploração dificultam muito o trabalho dos sindicatos. O trabalhador, pressionado pelo conjunto de dificuldades (e, neste momento, em rápido processo de empobrecimento), muitas vezes espera do sindicato vantagens de caráter assistencialista, as quais a entidade não consegue oferecer pelas crescentes limitações financeiras.
Uma grave dificuldade da ação sindical é que, historicamente, há uma sonegação à população em geral e à juventude, da história dos direitos e dos sindicatos. Isso ocorre na escola tradicional, nas instituições, nas empresas, nos meios de comunicação etc. A história em geral é desconhecida, principalmente a história dos trabalhadores, que são a esmagadora maioria. Em consequência, uma parcela significativa da população, especialmente a juventude, supõe que os direitos existentes “caíram do céu”, ao invés de serem frutos de décadas de muita luta. Essa visão a-histórica dos direitos, por ironia, está sendo violentamente negada pela história recente, a partir do golpe de 2016, e agora mais ainda com o atual governo, quando os direitos estão sendo destruídos em escala e velocidade industriais.
Um fenômeno que dificulta a sindicalização também é a política antissindical das empresas, com a disseminação de calúnias, associação do sindicato com desemprego, com corrupção, ou coisas do tipo. Isso dificulta muito porque a empresa exerce grande influência sobre o trabalhador, na medida em que a vida deste e de sua família dependem do emprego.
Na luta sindical, vale mencionar o ensinamento do velho general chinês: “por mais críticas que sejam a situação e as circunstâncias, não aceite o desespero. Nas ocasiões em que tudo leva ao medo, não se deve ter medo de nada; quando se está rodeado de perigos, não se deve temer perigo nenhum; quando se esgotaram os recursos, deve-se contar com todos os recursos; quando se é surpreendido, deve-se surpreender o inimigo” (Sun Tzu, A arte da guerra).
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