Crise de moralidade

Além da crise política fabricada pelos derrotados nas últimas eleições presidenciais, o Brasil vive hoje, também, uma crise de moralidade, em que o cinismo e a hipocrisia se tornaram marcas de uma oposição ávida de poder e de uma imprensa familiar ávida de dinheiro



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Além da crise política fabricada pelos derrotados nas últimas eleições presidenciais, o Brasil vive hoje, também, uma crise de moralidade, em que o cinismo e a hipocrisia se tornaram marcas de uma oposição ávida de poder e de uma imprensa familiar ávida de dinheiro. As instituições, não há dúvida, estão funcionando plenamente, o que aparentemente assegura a preservação da democracia, mas algumas das suas engrenagens, especialmente no Judiciário e no Ministério Público, sofrem a ação deletéria das paixões políticas, comprometendo a sua isenção, fundamental para a sua confiabilidade. Os exemplos são muitos, mas basta citar o mais recente, da juíza Célia Regina Ody Bernardes, que determinou a busca e apreensão no escritório do filho de Lula, mudando o rumo da Operação Zelotes.

A decisão, comemorada pelo jornal "O Globo", parece não deixar dúvidas quanto à sua conotação política, pois o verdadeiro foco da Zelotes é a sonegação de impostos e não se tem conhecimento de alguma ação sobre as grandes empresas acusadas, talvez porque entre elas estão grupos de comunicação. O jornalão carioca publicou reportagem sob o título de "A juíza que deu novo fôlego à Operação Zelotes", destacando a coragem (?) dela. A exemplo do que fez com o ministro Joaquim Barbosa e com o juiz Sérgio Moro, o jornal da família Marinho também quer transformar a magistrada em celebridade por sua decisão, que atende aos interesses da direita. Como é substituta, porém, ao deixar o cargo ela será esquecida, como o ministro aposentado do STF, porque não servirá mais aos interesses deles.

Constata-se que as ações direcionadas contra o ex-presidente, antes mais sutis, hoje são evidentes até para um cego. Embora há mais de quatro anos ele não exerça nenhum cargo público, resolveram investigar até suas viagens, como se a Constituição não garantisse a qualquer cidadão o direito de ir e vir. Em maio, por exemplo, a procuradora Mirella de Aguiar mandou apurar suas andanças pelo mundo para "aferir se encontram adequação típica no ordenamento jurídico nacional, caso em que poderá ser instaurada ou requisitada investigação". Em julho o procurador Valtan Timbó Martins Furtado, do 1° Ofício do MPF de Brasília, fez andar despacho sobre uma Noticia de Fato solicitada pelo procurador Anselmo Lopes, do 4° Ofício, que recolheu material de imprensa sobre as viagens de Lula, como se viajar fosse crime. Qualquer justificativa serve para caçá-lo. Como acreditar na isenção de quem adota posições visivelmente políticas?

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Todas as ações destinadas a encontrar algo que possa incriminá-lo e, desse modo, afastá-lo da sucessão presidencial, têm sido inspiradas e alimentadas pela mídia partidária, com destaque para a revista "Veja", cuja falta de ética e escrúpulos já o vestiu até de presidiário em sua mais recente capa. Desta vez, no entanto, Lula, cansado de ser saco de pancada sem ter nada que possa incriminá-lo, decidiu processar, por danos morais, a publicação, que vem perdendo leitores e já agoniza justamente porque perdeu credibilidade. O ex-presidente tem recebido sentenças desfavoráveis em ações que impetra na Justiça, sobretudo contra veículos de comunicação, mas a atitude da "Veja" foi tão escandalosa que parece difícil desta vez ele receber uma decisão contrária.

De qualquer modo, vale transcrever despacho do juiz Raposo Filho, que condenou a revista "Carta Capital" a indenizar o ministro Gilmar Mendes em R$ 500 mil por danos morais, por conta de uma reportagem considerada ofensiva pelo magistrado. Depois de lembrar que as matérias devem se pautar por princípios éticos, fiel à informação e dando oportunidade à manifestação dos envolvidos, o juiz sentenciou: "O autor (Gilmar Mendes), na verdade, foi acusado, julgado e condenado pelas matérias e viu sua imagem pública manchada pela pecha de beneficiário de uma suposta organização criminosa, sem que haja notícia até hoje de seu indiciamento ou denúncia criminal propriamente dita em seu desfavor, mostrando-se evidente a lesão de ordem moral como resultado da conduta imprópria dos réus". Esse despacho cabe como uma luva na ação de Lula contra a "Veja".

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Ao mesmo tempo em que os inimigos de Lula intensificam a sua perseguição, com a valiosa cumplicidade da mídia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avaliza a caçada escrevendo artigos ou dando declarações acusatórias ao líder petista, como na recente entrevista ao jornal argentino "La Nacion". Depois de lamentar que o seu sucessor tenha sido "absorvido pela política brasileira tradicional, clientelista, corporativista e ideológica" (parece até que está falando de si mesmo), FHC disse que "é muito penoso ver no que Lula se converteu". Na verdade, penoso para ele, FHC, pois o torneiro mecânico se tornou o maior líder político deste país e o mais respeitado e prestigiado no exterior por sua atuação em favor dos mais pobres.

As bochechas do guru tucano, no entanto, não coraram nem tremeram quando ele disse que não sabe se Lula é culpado de todas as acusações que lhe são feitas. E acrescentou: "Quando, em 2005, ocorreu o escândalo do mensalão, eu me opus ao seu impeachment porque não me parecia bom para o país que seu primeiro presidente operário terminasse perdendo o poder. Mas hoje me parece também muito ruim para o país que Lula tenha perdido tanta credibilidade". Como é possível a alguém que perdeu credibilidade continuar liderando as pesquisas de intenção de votos? No final da entrevista ao jornal argentino, o ex-presidente sugeriu mais uma vez que a presidenta Dilma Renunciasse ao mandato, colocando-se, inclusive, à disposição dela, para ajudá-la a encontrar uma saída para a crise.

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Em matéria de hipocrisia e cinismo não pode haver exemplo melhor, sobretudo se lembrarmos o desastroso governo dele, quando foi acusado de comprar votos para garantir a sua reeleição e ter dilapidado o patrimônio do Brasil, deixando praticamente só o pau da bandeira, conforme disse o ex-presidente Itamar Franco, tudo com o valioso apoio da mesma mídia que hoje estimula a caçada a Lula. Será que alguém que deixou o governo com os mais baixos índices de popularidade, tornou o país refém do FMI, multiplicou as suas dívidas e esvaziou as suas reservas tem autoridade moral para falar dos outros? O problema de FHC, na verdade, é a dor na vaidade, pois apesar de todos os seus títulos acadêmicos não conseguiu conquistar no exterior metade do prestígio do torneiro mecânico.

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