Criacionismo. 'Osso de costela: faça-se em mulher!'

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Imperioso foi o comando divino: "Faça-se a luz, faça-se uma mulher", e Deus foi assim criando o universo conhecido, galáxias distantes milênios-luz e tudo o mais.

O criacionismo, a crença na criação divina da matéria, e mesmo do espírito, por um ente etéreo inexplicável, é crença propalada aos quatro ventos mundo afora, desde que a Humanidade passou ao monoteísmo, ou antes até.

Diga-se que agrupamentos politeístas também acreditam em um ente arquiteto construtor, vide povos primitivos ancestrais em solo original nosso, Tupã o construtor-mor pré-colombiano. Por aí vai.

Ateus e agnósticos, alguns, acreditam em visitantes extraterrestres pretéritos manipulando códigos genéticos para tornar o homem mais bem preparado a um salto evolutivo artificial desde os seus primos macacos. Teoria, diga-se de passagem, que não é assim tão implausível. Ou é. Aqui algo pessoal. Crença, foro íntimo, sempre é de difícil discussão. Geralmente a crítica mais contundente, ainda que pacífica, soa ofensiva, uma ridicularização.

A questão de constatarmos que uma grande parcela da população brasileira acredita na teoria bíblica do criacionismo vai além, diz muito. Diz que, em termos de ciência, concatenação de dados e argumentos verificáveis em amostragens até então, não há diferença entre o criacionismo e, por exemplo, o terraplanismo.

Dados científicos até então, que fique bem claro. Muita coisa que já foi considerada charlatanismo sobrenatural no passado resultou em comprovação científica posterior. A homeopatia medicinal ainda hoje, século XXI, é considerada por alguns profissionais médicos mais conservadores quase como um curandeirismo, um papel já ocupado, ou ainda, por outras teorias e práticas orientais milenares, tais quais acupuntura e a medicina ayurveda.

O criacionismo é tão difundido no Brasil, há décadas, que virou quase um lugar-comum. Lê-se: propaga-se, respeita-se, ou talvez melhor, na verdade teme-se o que há de escrito em ditas sagradas escrituras. "Temeis ao Senhor!". Medo sobretudo, o medo faz a pessoa rezar. Uma blasfêmia contradizê-las, inquestionáveis escrituras sacralíssimas.

Há algumas apelações que são mais dispensáveis, dentre tantas outras. Dizer que os ossos fossilizados de dinossauros de milhões de anos foram colocados na Terra por Deus traquina para nos ludibriar. Haja argumento apelativo, tal engodo pueril, soa hilário.

O planeta Terra teria pois uns seis mil anos ou algo assim, a idade que está lá atestada ou inferida no Antigo Testamento, tanto quanto lá estão dados e fatos de uma excelente, bem ambientada, instigante, criativa, uma obra-prima de mais pura e divagante ficção científica, das boas.

Dizem serem metáforas, capítulos e versículos postos em papel após uma comunicação oralizada sujeita a erros, também algo de uma linguagem simbólica. Ocorre que milhões e milhões de pessoas acreditam piamente em tais escrituras antigas, adotam as palavras tais quais, diriam os advogados de plantão, de uma forma "ipsis litteris".

Não é exclusividade dos cristãos mais ortodoxos, longe disto, as religiões mundo afora são muito competentes quanto a elaboração de teorias originais elucidativas, destrinchando cada minúcia da gênese de suas crenças e dogmas embrionários. Um dogma: verdade inquestionável, ofensivo sequer citar. Um tabu social e moral.

Os kardecistas intelectuais, letrados e mais tratáveis, moderados, não ficam tão atrás no quesito teorias anticientíficas. Ocorre que muitas, ou quase todas as teorias espíritas, demonstram dados supostamente comprobatórios de uma experimentação profundamente científica, assim pelos seguidores alegado.

Que seja, a eles e a elas o benefício da dúvida. Que venham mais comprovações, tanto quanto venham, ou não, as comprovações de que é possível vivermos de luz, por exemplo. Sabe-se bem sobre o citado, gente que jura viver sem se alimentar, nutrir-se de raios solares. Há um pouco de tudo, bem mais do que nossa vã filosofia possa compreender, já dizia Shakespeare.

Livros e mais livros disponíveis sobre espiritismo, milhares, muitos deles descrevem em pormenores como se dá o processo mediúnico, a escolha anímica dos encarnados mais aptos e sensitivos, o processo de psicografia, tanto quanto o processo de curas espirituais por almas que habitam o éter, cirurgias mediúnicas com bisturi, sangue e tudo o mais.

Tudo está explicado e teorizado pelos kardecistas. A funcionalidade da laringe, o mecanismo espiritual ao qual os entes desencarnados vibram energias, magnetismos, e sensibilizam os órgãos do corpo de médiuns submissos, fazendo-os vocalizar frases em idiomas oriundos de almas e tempos muito distantes.

Ciência e anticiência. Que venham mais e mais corroborações ou refutações. Assim se faz o método científico. Há dados que indicam que cristais de água congelada se comportam estruturalmente peculiares de acordo com a exposição do líquido universal, seja sob ambiente circundante caótico, sereno, poluído ou límpido. Bem interessante. A se conferir.

Desde o criacionismo, terraplanismo, teorias QAnon, a Terra contemporânea vilipendiada por seres reptilianos de galáxia distante acá dentre nós neste exato momento. Desde tais teorias até outras que mais afetam o dia a dia dos cidadãos e cidadãs, tem-se um pequeno passo. Aí então vacina é conspiração, o céu está habitado por drones que se disfarçam de pássaros para nos monitorar, até o espetacular e, diga-se de passagem, interessantíssimo adrenocromo.

O criacionismo deu a deixa, foi o teste, o popular "Se colar, colou". Mais colou do que fracassou, teve sim sua aderência esperada em boa parte da sociedade. Então não nos espantemos, não achemos absurdo, sequer anticientíficas, as outras tantas teorias aparentemente forçosas e estapafúrdias.

Engolimos a deixa, o teste, colou. O criacionismo hoje tão propalado pelas igrejas neopentecostais usuárias dos dividendos econômicos e políticos dos governos na ocasião. Os engodos contemporâneos venceram esta batalha até o presente momento.

Seres reptilianos da galáxia XYZ habitando carnes de terráqueos banqueiros poderosos pedófilos satanistas mundo afora, isto não pode ser algo mais absurdo do que o criacionismo bíblico que muitos e muitas de nós já engolimos há tempos.

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