CPI e a busca do tempo perdido

A Anvisa que antes tinha caráter científico, agora trabalha como agente do governo. O que o presidente deseja é executado pelo órgão



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Quando Proust escreveu Em busca do tempo perdido, não tinha nossa do buraco governamental em que estamos enfiados. Você pode traçar um paralelo entre um dos contos do livro, como em ‘A Prisioneira’ ou ‘A Fugitiva’, que retratam um constante reajuste de tudo aquilo que nunca será perfeitamente ajustado. Você viver em um país onde as cabeças pensantes são aquelas que acreditam que a Terra é plana e que estamos em uma batalha constante contra o Comunismo é a banalização do mal. Estamos vendo a mitificação do mal, a autocelebração de uma sociedade vazia. Tudo pode acontecer, sem significados, podem falar o que quiserem, podem mentir como quiserem e mudar narrativas quando quiserem. Esse é o tamanho do problema.

A Anvisa, que sempre, historicamente, foi um órgão científico a favor da vida, vive seu pior momento com a direção Bolsonarista. Todos os órgãos do governo, por mais credenciais do passado que tiveram, hoje precisamos analisar cada ato com cuidado. Em março de 2020, no começo da Pandemia, Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já participava de manifestação pública de apoio ao e não utilizou nenhuma máscara ou medidas de proteção. Pelo contrário, estava indo contra todas as medidas de proteção que um chefe de um órgão importante e científico deveria demonstrar. 

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Uma grande chance de avançarmos com a vacinação em massa está sendo procrastinada pela Anvisa. A vacina Sputinik V , que tem 91,6% de eficácia, cuidadosamente testada, aprovada pela OMS e utilizada por mais de 60 países, está sendo procrastinada pelo país. A desculpa, em um momento de emergência sanitária, é de que não foram preenchidos os requisitos de segurança. A despeito do discurso de Paulo Guedes, falando que o vírus foi fabricado na China e que a vacina americana é a melhor, põe em risco não só a diplomacia por mais insumos, mas oferece mais dados para a CPI da COVID.

A Anvisa que antes tinha caráter científico, agora trabalha como agente do governo. O que o presidente deseja é executado pelo órgão. Só em 2019 o número de agrotóxicos teve a maior série histórica e dos mais de 400 venenos aprovados, estamos dentre os perigos de intoxicação com inclusive venenos rejeitados na Europa e Estados Unidos considerados proibidos e letais. Apenas com três meses. Já os técnicos da Anvisa que se dizem autônomos, estão sendo pressionados politicamente a barrarem essa possibilidade. Isso foi procrastinado com a Coronavac, meses atrás, com técnicos tendo que visitar a fábrica, causando mal estar internacional e quase não termos nem essa possibilidade de vacinação. 

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Enquanto o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, se humilhou ao tomar a vacina escondido para não contrariar o presidente, somos o terceiro país em mortes diárias pelo vírus. Será que devemos trocar o nome da Sputinik V para Agrotóxico Sputinik V, para que a Anvisa libere em poucas horas? Tudo por que o nosso órgão Bolsonarista, vem pedindo documentação diferente do que é pedido para outros órgãos reguladores. Tudo para procrastinar ao máximo a liberação que governos estão tentando pessoalmente comprar para acabar de uma vez com esse problema, já que a comissão da presidência e o Ministro da Saúde não movem uma palha sobre o combate a pandemia. 

Já o ministro Lewandowski autorizou o governo da Bahia a realizar a importação mesmo sem o aval da agência, para salvar vidas. A CPI da COVID que tanto assusta Bolsonaro tem material vasto, que deve render toneladas de provas em papel. Apesar de termos mais de 3 mil mortes diárias, devemos lutar para tirar a condução negacionista para uma eficaz o mais rápido possível, afinal a esperança é a última que morre.

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