Contrastes no final de campanha das eleições primárias na Argentina
Há grande expectativa de que nas Primárias de domingo, dia 11 de agosto, este cenário global que prenuncia uma vitória da Frente de Todos se reflita nas urnas. Porém, o poder midiático de Macri e a invasão da propaganda da sua chapa na internet é quase total
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Terminados os comícios de final de campanha das Primárias (PASO) das chapas dos candidatos a presidente da Argentina a partir de 10 de dezembro pelos próximos quatro anos, vislumbra-se um quadro amplo de diferenças, além dos números, dadas por algumas estatísticas de intenções de voto que dão diferenças de 41% por Fernández contra 37% de Macri, até outras que chegam a dar 10% a favor de Alberto Fernández. Os números não dizem tudo; além de excluir os sérios riscos de fraude nas urnas alertados pela Frente de Todos diante do novo método de apuração dos votos implantado pelo governo de forma pouco transparente.
O que é mais notável e contrastante é o clima, o conteúdo programático, e a composição social dos comícios das duas chapas majoritárias, claramente com dois projetos de país contrapostos: a da Frente de Todos e a da Juntos pelo Cambio.
Macri, deu um discurso na 4a. feira em Córdoba, governada pelo oficialismo, diante de um público reduzido, sem propostas para o futuro, até surtar gritando “Caralho!”, provocando avaliações negativas de psico-analistas sociais. No dia seguinte, no comício de fim de campanha, frente a um auditório vazio, no bairro portenho de Vicente López sua base eleitoral de classe média alta, junto à governadora Vidal e o prefeito Larreta da capital (ambos de Cambiemos), identificou-se como um “gato” membro do trio: somos o “gato, a leoa e o gatinho! E depois, Macri chorou. Muitos interpretaram o ato como “lágrimas de crocodilo!”, outros como impotência frente aos problemas que criou ao país – sem poder dar saídas – e à derrota eminente. O quê dizer quando já há 10 mil cientistas, 5 mil intelectuais e artistas famosos e 150 jogadores de futebol, incluindo Maradona, que assinaram pela “Frente de Todos”?
Por outro lado, os comícios finais da “Frente de Todos” contrasta pela alegria de multidões, decididas a reverter os rumos do país nos próximos quatro anos; contrasta pela riqueza de propostas econômicas imediatas a favor da maioria dos excluídos, como já citadas em artigo anterior, rumo à reversão do caos produzido pelo saqueio neoliberal do “Juntos para o Cambio”.
Em Rosário, populosa cidade da província de Santa Fé, diante do monumento à bandeira, foi o encerramento da Campanha pelas PASO da Frente de Todos com Alberto Fernández e Cristina Kirchner junto a todas as forças políticas da Frente e movimentos sociais, acolhidos por uma comovedora multidão. Assista aqui. Cristina Kirchner, candidata a vice-presidente, dirigente de massas imprescindível para o próximo governo, reiterou a importância dessa unidade das forças progressistas para a tarefa que se coloca e que “não será fácil”: “Fomos capazes de entender que era necessária a unidade de todos aqueles setores, de todos aqueles homens e mulheres que cremos que uma Argentina diferente é possível”. Alberto Fernández reconhece a generosidade de Cristina em construir esta Frente e, ao expressar ambos uma combinação de autocríticas e superação de divergências passadas para tocar em frente um projeto unificado popular e de pátria soberana, dizem que “os argentinos voltarão a ser felizes!”.
Uma das metas de Alberto Fernández é a Argentina Federal; ou seja acabar com o isolamento dos governos de província (sobretudo as mais pobres) em relação ao desenvolvimento nacional. Reuniu-se com 17 governadores, entre os em exercício, os reeleitos recentemente e os que virão em dezembro, e assinou inúmeros acordos federais com as províncias respectivas, caso, Alberto e Cristina sejam eleitos. Vale a pena conhecer a reunião e o clima emergencial de propostas concretas assumidas pela campanha da Frente de Todos com as províncias (estados).
Alberto Fernández completou a campanha das PASO em Córdoba, capital de uma província agroindustrial, governada pela oligarquia de “Cambiemos”, mas também centro de grandes rebeliões populares como o Cordobazo (1969) e batalhas históricas pelo ensino público. Com uma multidão de 12 mil pessoas transbordando o estádio Orfeo Superdomo, concluiu ovacionado com significativas palavras: “Entre a Educação Pública e os Bancos, eu escolho a Educação Pública. Entre a Universidade Pública e os Bancos, eu escolho a Universidade Pública. Entre a Saúde Pública e os Bancos, eu escolho a Saúde Pública. Entre os aposentados e os Bancos, eu escolho os aposentados. Entre os que trabalham e os Bancos, escolho os que trabalham. Eu sei quais interesses devo representar. E não vou fraquejar um só instante na defesa desses interesses.” Veja discurso completo.
E para coroar o círculo deste cenário final, Cristina Kirchner acompanhou o candidato a governador, Axel Kiciloff (ex-ministro da economia) e a vice, Veronica Magário (prefeita de La Matanza), no comício de Merlo, município pobre do subúrbio na Província de Buenos Aires. Apesar do enorme aparato de Juntos pelo Cambio em apoio à atual governadora Vidal, não se exclui a possibilidade de vitória de Kiciloff, que tem feito uma campanha corpo a corpo, exemplar, visitando dezenas de cidades no seu carro.
Há grande expectativa de que nas Primárias de domingo, dia 11 de agosto, este cenário global que prenuncia uma vitória da Frente de Todos se reflita nas urnas. Porém, o poder midiático de Macri e a invasão da propaganda da sua chapa na internet é quase total. Há também sérias preocupações de que manobras das forças governamentais nas urnas possam frustrar a possibilidade da vitória da Frente de Todos. Nesta quinta-feira a simulação do escrutínio provisório e a transmissão eletrônica dos telegramas a partir dos centros de votação, baseada no sistema da SmartMatic, contratada pelo governo, voltou a falhar. Diante disso a Frente de Todos acaba de apelar à justiça eleitoral para afastar urgentemente a empresa SmartMatic. Ao mesmo tempo, pôs em campo milhares de militantes e fiscais de urnas para tratar de impedir a fraude.
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