Contra todo tipo de violência
O colunista do 247 Emir Sader avalia que o crescimento da violência na política - "que já esteve presente na política brasileira durante a ditadura militar" tem ressurgido com "a possibilidade, cada vez mais real, do Lula ser candidato e, nesse caso, como favorito para voltar a ser presidente", o que, segundo ele, "desatou uma onda de reações cada vez mais violentas por parte da extrema direita. Abandonada a esperança que tinham da prisão do ex-presidente, passaram a se valer de agressões físicas", diz; para ele, caso a violência não seja combatida sistematicamente poderá "levar o país por um caminho sem retorno de desagregação social"
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A violência é detestável. Todo tipo de violência. É a imposição da forca física sobre o outro, sobre os outros. Costuma substituir o argumento, a persuasão, o convencimento. Não por acaso quem apela a ela, quem a utiliza, carece do que propor, carece de capacidade de convencimento. E por isso apela para a força física, para a violência. Na política, nas relações pessoais, nas políticas de governo, a violência é detestável e tem que ser sistemática e vigorosamente combatida.
O século XX foi marcado, na sua primeira metade, por uma guerra prolongada – dividida em duas partes, que levou de roldão os países que se consideravam os mais civilizados do mundo, disputando o controle das regiões periféricas do capitalismo. Na segunda metade, parecia estabilizar-se um tanto os conflitos mundiais, a partir do equilíbrio entre duas superpotências.
Foi no final da guerra fria, quando os EUA se tornaram a única superpotência, que a violência no mundo, a multiplicação de epicentros de guerra se estendeu. E, ao mesmo tempo, a adoção de um modelo econômico – o neoliberal – que abandonou o reconhecimento dos direitos das pessoas e a distribuição de renda, que a crise social se estendeu por todo o mundo, com o aumento da pobreza, da desigualdade e da exclusão social.
Os sistemas políticos, por sua vez, foram perdendo legitimidade, pelo abandono da atenção aos interesses da maioria pobre da população. A violência urbana se incrementou, associada ao tráfico de drogas e às atitudes exacerbadas de muita gente, na relação com os outros – seja nas relações domésticas, seja nos jogos de futebol ou nos assaltos de rua.
A violência coletiva e a individual tem em comum o uso da força para se impor aos outros. Ela esteve presente na política brasileira durante a ditadura militar, em que as razões do golpe forma rapidamente transformadas no seu contrário – de defesa da democracia ameaçada em destruição da democracia -, com o regime abandonando seu discurso e apelando para a forca bruta. Com as terríveis consequências que teve para o Brasil de todos os pontos de vista: aumento da desigualdade social, liquidação das organizações políticas e sindicais, intervenção no Congresso, no Judiciário, nas universidades, militarização do Estado, entre outras.
A partir da derrubada da Dilma Rousseff da presidência, o governo instalado não cumpriu com nenhuma das suas promessas – retomada da confiança e do crescimento econômico, fim da corrupção, instalação de um governo de "notáveis", entre outras,- ficando reduzido a porcentagens de apoio mínimo. A aproximação das eleições foi gerando pânico entre os que participaram da derrubada da ex-presidente e se comprometeram com o governo Temer, que buscou candidatos de fora da política tradicional, até desembocar em nomes tradicionais, sem possibilidades de vitória, e no fortalecimento do candidato de extrema direita.
A possibilidade, cada vez mais real, do Lula ser candidato e, nesse caso, como favorito para voltar a ser presidente, desatou uma onda de reações cada vez mais violentas por parte da extrema direita. Abandonada a esperança que tinham da prisão do ex-presidente, passaram a se valer de agressões físicas.
É uma extrema direita que não tem nada a propor ao país, salvo o uso de mais violência, a extensão do direito de acesso a armas, além de medidas extremamente conservadoras em vários níveis. Sem conseguir apoio – o fracasso da ida do seu candidato, Jair Bolsonaro, a Curitiba, medir forças com Lula, confirma isso -, passaram a níveis mais agressivos, com disparos de tiros contra a Caravana do Lula ao Sul do país.
Esses ataques acenderam o sinal de alarme em vários setores, que se dão conta de como o fascismo foi deitando raízes em setores da classe média e que isso fez surgir grupos armadas de extrema direita, que colocam em risco qualquer tipo de convivência entre forças políticas diferenciadas.
Essa violência substitui os argumentos, o debate democrático, a contraposição de proposta distintas para o pais. Tem que ser combatida sistematicamente, para evitar que sua propagação leve a que a crise social existente se desdobre em enfrentamentos armados generalizados, com atentados e outras formas de ação violenta, que poderiam levar o país por um caminho sem retorno de desagregação social.
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