Contra o catastrofismo

"O catastrofismo é um caminho de derrota, de desânimo, de desmoralização, de renúncia. Temos consciência das difíceis condições que se dá a disputa atual. Mas não tínhamos condições menos difíceis durante o governo de FHC e fomos capazes de revertê-la e sair para o mais importante governo, até aqui, da história do Brasil. Porque tivemos tenacidade, flexibilidade de ação e capacidade de liderança. Elementos que temos hoje, para de novo reverter a situação a favor do povo, da democracia e do Brasil", diz o colunista Emir Sader

Ex-presidente Lula durante visita ao Museu Cais do Sertão, em Recife. Foto Ricardo Stuckert
Ex-presidente Lula durante visita ao Museu Cais do Sertão, em Recife. Foto Ricardo Stuckert (Foto: Emir Sader)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Tempos como este se prestam para todo tipo de catastrofismo. O capitalismo, na sua era neoliberal, em que a economia é dominada pelo capital especulativo, só produz recessão e desemprego. No Brasil, o acelerado processo de desmonte do Estado, dos direitos dos trabalhadores e dos programas sociais, acompanhado da judicialização da política, permite os piores presságios.

O pais está sendo destruído, o governo golpista consegue sobreviver, tenta aprovar leis que blindam sua continuidade para além das eleições, o "lawfare" contra o Lula se acelera. Vozes se multiplicam dizendo que não haverá eleições, que não vão permitir que o Lula volte, que tudo vai pro pior dos mundos. "Nada es igual, todo es peor", como diz o tango Cambalache.

Quase tudo o que se diz é real, embora as tintas às vezes sejam melancólicas e pessimistas demais. Mas o que fazer diante de um quadro tão difícil como esse? Se levarmos em conta essas vozes apocalípticas, não haveria nada a fazer. Resignar-nos a ser oposição impotente por tempo indefinido. Retirar-nos para nossos quarteis de inverno e esperar a tormenta passar – se é que ela vai passar, especialmente com a gente retirado.

continua após o anúncio

A intelectualidade e setores da classe média são propensos a esse tipo de melancolia, de pessimismo, de desanimo. Oscilam para cima e para baixo, afetados pela situação e pelas vozes de cronistas solitários, que pretendem, desde a academia, condenar o processo político a uma derrota prolongada.

Mas a realidade não é feita nem só de presságios pessimistas, nem do otimismo ingênuo. A realidade tem as duas caras. A realidade é contraditória. É aí que entra a política, a intervenção dos indivíduos, a possibilidade de reverter o curso da história, mesmo em condições adversas.

continua após o anúncio

Os governos antineoliberais na América Latina atuaram contra a corrente, a nível nacional, latino-americana e internacional. Conseguiram reverter a tendência a maior concentração de renda, a maior exclusão social, diminuindo as desigualdades no continente mais desigual do mundo. Conseguiram refortalecer o Estado, diante da dinâmica de enfraquecimento do Estado, aprofundar a integração regional e o intercambio Sul-Sul, opondo-se à tendência de Tratados de Livre Comercio com os EUA.

Diante da crise recessiva internacional de 2008, o Brasil não se resignou e agiu contra a tempestade, com políticas de fortalecimento dos bancos públicos, de intensificação do mercado interno de consumo de massas. Se tivesse ficado se lamentando e só denunciando, o Brasil teria sido arrasado.

continua após o anúncio

Por isso a análise política da realidade tem que levar em conta os fatores positivos e negativos, os nossos pontos fortes e os fracos, assim como os do adversário. O governo do Lula avançou, desde 2003, nos pontos frágeis do neoliberalismo: privilegiou as políticas sociais, fortaleceu o Estado, intensificou a integração regional e o intercâmbio Sul-Sul. Atacou nos elos mais fracos do neoliberalismo.

Isso faz a política, a intervenção da vontade organizada das forças sociais. Levar em conta as condições objetivas, a correlação de forças, mas não para se resignar a ela e sim para encontrar as formas especificas de intervenção, de concentração das forças na luta pelos nossos objetivos.

continua após o anúncio

Hoje as condições de luta são muito difíceis. Sofremos uma dura derrota, que interrompeu os nossos governos, nos golpearam duramente nos nossos pontos mais fracos, nos reduziram quase à impotência, nos deixaram na defensiva, a direta ganhou a iniciativa e impôs sua agenda. Conseguiu nos isolar de amplos setores da população, criou clichês contra nós que em parte até hoje perduram e dificultam nosso acesso para dialogar com esses setores.

A direita conta com o monopólio privado da mídia, com o Judiciário e a PF, com uma grande maioria a seu favor no Congresso e com a capacidade de iniciativa que a posse do governo permite. Embora ela tenha hoje divisões, é um bloco que se unifica em torno da política econômica do golpe e do pacote antipopular que o governo mandou para o Congresso.

continua após o anúncio

Mas há os elementos de debilidade do golpismo: seu programa econômico é profundamente recessivo e antipopular. O governo está composto pelo que mais corrupto tem a política brasileira. Seu prestigio internacional é zero.

Nós contamos com imensa rejeição popular do pacote do governo, com uma grande liderança popular que unifica a grande parte da esquerda, o deslocamento do centro das preocupações dos brasileiros do tema da corrupção para os temas sociais – o do emprego em primeiro lugar.

continua após o anúncio

No fundamental, é uma situação em disputa. Nada diz que o governo golpista vá sobreviver, nem que a esquerda retornará ao governo. Tudo depende da disputa neste e no próximo ano.

O catastrofismo é um caminho de derrota, de desânimo, de desmoralização, de renúncia. Temos consciência das difíceis condições que se dá a disputa atual. Mas não tínhamos condições menos difíceis durante o governo de FHC e fomos capazes de revertê-la e sair para o mais importante governo, até aqui, da história do Brasil. Porque tivemos tenacidade flexibilidade de ação e capacidade de liderança. Elementos que temos hoje, para de novo revertera situação a favor do povo, da democracia e do Brasil.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247