Contra-ataque à Russofobia: o Nascimento do Movimento Internacional Russófilo (MIR)

A Rússia, mais que a maioria dos países, tem um enorme e não-utilizado potencial de recursos de soft-power na incomum riqueza de seus feitos

Sede do Ministério das Relações Exteriores da Rússia
Sede do Ministério das Relações Exteriores da Rússia (Foto: Valery Varifulin/TASS)


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O Arcebispo Vigano, Sergei Lavrov e outros luminares dão partida à um promissor movimento de base global que poderá se tornar muito, muito grande. Russófilos de quarenta países se reuniram em Moscou.

Tenho imenso prazer em apresentar o primeiro relatório amplo e detalhado, em língua inglesa, escrito por uma pessoa muitíssimo bem- informada, sobre o Movimento Internacional Russófilo, lançado no mês passado em Moscou.

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 Esse projeto, que conta com o apoio do Ministério das Relações Exteriores russo, visa a contra-atacar as implacáveis ondas de russofobia e de cultura do cancelamento desencadeadas pelos suspeitos de sempre, desde o início da Operação Militar Especial (OME) na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

 Como os leitores poderão verificar, esse é um projeto de informação multipolar, capaz de se tornar uma inspiração para o Sul Global. A ideia é a de nos contrapormos à arrogância e à intolerância com uma postura afirmativa, com profundas raízes na cultura, nos valores civilizacionais e na visão de um sistema mais equitativo de relações internacionais.

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 Chegou a hora de mudar a narrativa.

(Pepe Escobar)

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Desde o início da operação militar russa na Ucrânia, em fevereiro do ano passado, a mídia da elite globalista lançou-se freneticamente à tentativa de mostrar a Rússia tal como ela existe hoje e tudo o que é russo –governo, presidente, cultura, história, religião - como a epítome de todo o mal. Como era de se prever, essa tentativa vem fracassando estrondosamente.  Percebendo uma brecha, uma figura pública búlgara de grande proeminência resolveu tornar global seu movimento russófilo, que já existe há vinte anos, contando com o aplauso e o incentivo do governo e de influentes elites russas. Se o movimento ganhar tração, o que é uma possibilidade muito real, a Rússia e seus muitos amigos e admiradores em todo o mundo terão conseguido uma poderosa vitória de Relações Públicas contra as elites globalistas.   

O recentemente criado Movimento Internacional Russófilo, que usa seu acrônimo francês MIR (Mouvement International Russophile), que em russo significa 'paz' ou 'mundo', celebrou seu congresso fundador em março, em Moscou, com uma brilhante série de bem-organizados eventos públicos fartamente cobertos pela mídia russa, que deu destaque a amigos e delegados de 42 países.

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A festa de boas-vindas foi tipicamente russa, com brindes espirituosos, um rico bufê, excelente música e dança cossacas, vodka e champanhe abundantes e uma atmosfera de altíssimo astral. A Sra. Zakharova, conhecida por seu amor ao balé folclórico russo, não desapontou e claramente adorou a oportunidade de cair na dança,  em um merecido descanso de seu cotidiano ocupado por guerras de informação nas quais ela é campeã.

No dia seguinte, o MIR realizou seu congresso de fundação no grande átrio envidraçado do principal museu da Rússia, dedicado a seu poeta favorito, o gênio russo Alexander Pushkin. Políticos russos peso-pesado deram boas-vindas aos delegados, a começar pelo Chanceler Sergei Lavrov e, novamente, pela Sra. Zakharova, seguidos por diversos presidentes de partidos políticos russos, autoridades do primeiro escalão do governo, pelo proeminente empresário Konstantin Malofeev, pelo influente filósofo político Alexander Dugin, e pelas calorosas boas-vindas do Chefe da Igreja Russa, o Patriarca Kiril, apresentadas pelo Sr.  Malofeev.

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Um discurso memorável em um dia de grandes discursos partiu do italiano Arcebispo Vigano, anteriormente Núncio Papal nos Estados Unidos e um franco crítico do Papa Francisco, que proferiu um discurso de dez minutos por video link, chamando a Rússia de "o último bastião da civilização contra a barbárie". Para a tradução em inglês do discurso clique aqui. Aqui vai um bom resumo do discurso.  

O chanceler russo Sergey Lavrov proferiu o discurso principal do evento. Ele começou lendo a mensagem enviada ao congresso pelo presidente Putin. A  íntegra do texto pode ser encontrada aqui. Entre seus comentários, destacamos essa resposta espirituosa tão característica de Lavrov:   

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Somos todos adultos aqui. Não tentemos ser condescendentes como nossos colegas ocidentais o são quando exigem publicamente que todos, inclusive países que representam grandes e antigas  civilizações, sigam suas ordens.   

É essa a diferença entre nós e aquilo em que a civilização ocidental, tão obcecada com sua grandeza e excepcionalidade, vem degenerando. Ela agora luta pela própria vida, fazendo todo o necessário para se aferrar ao domínio global que lhe escapa das mãos.   

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Os Estados Unidos (convenhamos, anglo-saxões) tomaram em suas mãos as rédeas do poder e não mede palavras ao dizer à Europa que ela deve esquecer sua autonomia estratégica. Não há autonomia estratégica para vocês!  Todos vocês farão o que nós mandarmos.  

Um grande número de europeus embebidos das tradições dos clássicos do vasto continente que temos em comum não está disposto a renunciar às conquistas de nossa cultura e de nossa história comuns, nem à luta pelos direitos tão necessários aos povos de nosso planeta, incluindo os de nosso vasto continente eurasiático.    

Falaram também membros fundadores do MIR, inclusive o conhecido jornalista brasileiro Pepe Escobar, o empresário Pierre de Gaulle (neto do ex-presidente francês), a escritora italiana de grande popularidade, acadêmica, ativista e presidente da Sociedade Teuto-Árabe, a Princesa Dra. Vittoria Alliata, e o político e ativista alemão Waldemar Herdt (ex-membro do Bundestag pelo AfD).

A fala da Dra. Alliata, que comparou a russofobia à islamofobia, também foi muito bem recebida, dando uma ideia do alto nível da oratória que marcou o evento.  A íntegra do texto pode ser encontrada aqui, e aqui segue uma   entrevista informativa (impressa) concedida por Alliata a um site noticioso cristão  russo (Tsargrad).

Após os discursos, os delegados fundaram formalmente o movimento e elegeram seu corpo diretor.   

Escrevendo para o evento para a Zerohedge, Escobar expôs suas razões para se filiar ao MIR:

Sou membro-fundador, e meu nome consta da carta. Em minhas quase quatro décadas como como correspondente estrangeiro, jamais fiz parte de qualquer movimento político/cultural em qualquer país do mundo. Nômades independentes são uma raça bravia.

 Mas isto é extremamente sério: as irredimivelmente medíocres  e autodenominadas "elites" do Coletivo Ocidental pretendem nada menos que cancelar a Rússia ao longo de todo o espectro.

 No pasarán.

Aqui vai um link para uma  entrevista com a Dra. Alliata concedida para o RT.  

 Aqui vai o link para um vídeo de todo o evento (em russo).

A Igreja Ortodoxa Russa oficial também foi fortemente representada no congresso,  tendo enviado quatro representantes. Aqui vai um link para uma matéria veiculada em um noticiário russo tratando da questão (em russo).

Mais tarde, na mesma noite, delegados e amigos novamente se reuniram para bebidas e jantar na 'Casa de Recepções' do Ministério das Relações Exteriores, uma extraordinária mansão em estilo neogótico do século XIX, localizada no centro de Moscou, que antes pertenceu a um dos homens mais ricos da Rússia tzarista e hoje é usada pelo ministério para eventos sociais de gala.  Lavrov e Zakharova estiveram novamente presentes ao lado de outros luminares, e colocaram-se à disposição dos convidados, por horas a fio, para animadas conversas e trocas de ideias. Em um tom sem nada de cerimonioso e formal, a ocasião ofereceu um exemplo vívido de como a Rússia oficial usa o charme pessoal e a diplomacia de maneira incomumente eficaz.

Entre outros nomes importantes que participaram do evento estão a jornalista alemã, sensação das mídias sociais,   Alina Lipp, o ativista e empresário russo Alexey Komov, o ator americano Steven Seagal, o padre da Igreja Cristã Ortodoxa americana Fr. Joseph Gleason, e o jornalista alemão da imprensa alternativa Thomas Roeper, que escreveu sobre o evento para o público alemão.

O entusiasmo pelo MIR chega até o Sr. Putin que, em 2019, condecorou Malinov com uma medalha rara, a "Ordem da Amizade". Àquela época, Malinov falou a Putin sobre seu desejo de criar um movimento russófilo global, ideia essa que o Sr. Putin vigorosamente endossou.   

A questão central é se, após um lançamento tão bem-sucedido, o MIR de fato irá funcionar e executar o trabalho necessário ao cumprimento de sua promessa. O patrocínio entusiástico por parte do establishment russo é compreensível e, de fato, os benefícios  diplomáticos, de poder brando e de relações públicas são óbvios. Seria um suprema derrota para o Ocidente se, frente à maciça campanha da mídia globalista para isolar a Rússia, milhões de pessoas de todo o mundo, em especial nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, o território das elites globalistas, rejeitassem essa demonização e dissessem que, na verdade, elas gostam e admiram bastante a Rússia por uma longa série de razões. É precisamente essa a expectativa do  MIR.  

A Rússia, mais que a maioria dos países, tem um enorme e não-utilizado potencial de recursos de soft-power na incomum riqueza de seus feitos culturais, cristãos e históricos ao longo dos séculos. Sua literatura, música, balé, dança, arte, esportes são lendários e amplamente amados e admirados, e é pouco provável que essa admiração venha a sucumbir à rotineira campanha globalista de demonização. O surgimento da Rússia como a principal defensora da Cristandade tradicional é uma outra fonte importante. As décadas de defesa da soberania e dos movimentos anticoloniais do Terceiro Mundo  conquistaram para a Rússia amigos e admiradores por todo o mundo.

Tudo leva a crer que o MIR é a ideia certa na hora certa, coincidindo, em meses recentes, com um notável aumento do apoio e da simpatia pela Rússia no Ocidente e por todo o mundo, em resposta ao conflito na Ucrânia. Embora, à época do início da intervenção militar, há quatorze meses,  a propaganda globalista ocidental reinasse suprema, gerando uma forte simpatia pela Ucrânia, de lá para cá as populações ocidentais tiveram mais tempo para entender melhor o conflito e, com os fatos amplamente divulgados na internet, muitas pessoas passaram a tomar o partido da Rússia. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Ocidental, o apoio à Rússia vem crescendo e atingindo níveis significativos, tais como 30% nos Estados Unidos, pressionando a capacidade do establishment neocon de levar adiante a guerra.   

Na semana passada, um mês após a fundação do MIR, tivemos a oportunidade de conversar com o Sr. Malinov em Moscou, e perguntar a ele sobre os avanços sendo feitos pelo MIR, e o que os russófilos de todo o mundo podem esperar no futuro. Ele nos confirmou que os trabalhos estão avançando à toda, com base em alguns planos bastante notáveis.  

Especificamente, está sendo montado um website global em múltiplas línguas, através do qual os membros podem manter contato com o movimento e receber informações sobre as atividades mais recentes, permitindo que as pessoas se inscrevam e se  tornem membros. Vem sendo planejada também uma série de eventos online ao longo de todo o ano,  incluindo 'mesas-redondas' sobre uma infinidade de assuntos relacionados à cultura e à história russas. A primeira será uma discussão online de 24 horas de duração sobre a multipolaridade, programada para 29 de abril. O evento será aberto a pessoas de todo o mundo que desejarem participar. Detalhes sobre como se inscrever podem ser encontrados aqui.

Uma mesa-redonda física está sendo planejada na Sérvia para fins de junho, também com participação online.  O mais importante é que vem sendo discutida a possibilidade de organizar petições, uma delas, possivelmente, um abaixo-assinado com um milhão de assinaturas exigindo o fim das sanções contra a Rússia, o que forçaria, nos termos da lei, um debate sobre a questão no Parlamento Europeu. A 'diplomacia popular' será de importância central para o MIR, incluindo o incentivo ao turismo na Rússia e a simplificação do procedimento de obtenção de vistos de turista. Em janeiro de 2024, o Sr. Malinov pretende realizar um grande evento em Moscou, trazendo centenas de pessoas de todo o mundo unidas pela russofilia.   

Raízes búlgaras

Malinov (Wikipedia), 54, uma figura de destaque em sua Bulgária natal, vem promovendo profissionalmente a russofilia por quase toda a sua vida pública. Ele observou que, assim como na Sérvia vizinha, a afeição pela Rússia é uma poderosa corrente política na Bulgária, em razão dos muitos séculos de irmandade eslava e ortodoxa cristã (os povos russo e búlgaro descendem das mesmas tribos eslavas) que unem a Bulgária e a Rússia há mais de 1500 anos.  

A Bulgária é o berço da língua eclesiástica, o Antigo Eslavo Eclesiástico,   usado nos cultos, nas orações e nas Bíblias da Rússia (na qual os russos incluem a Ucrânia e Belarus), da Bulgária e da Sérvia. De fato, a Bulgária, assim como a Sérvia, recuperou sua independência do Império Otomano graças a um considerável sacrifício russo nas Guerras Russo-Turcas, e a Bulgária, assim como a Sérvia, foi um importante refúgio para os Russos Brancos que fugiam da tempestade  bolchevique.  

Malinov participou da fundação do movimento russófilo búlgaro, em 2003, que vem tendo papel importante em sua vida desde então, consistindo, de fato, em uma força significativa da política interna búlgara.   

Malinov diz que há anos vem pensando em construir um movimento russófilo, e que a decisão de dar partida foi tomada em setembro do ano passado, quando ele discutiu a questão com o chanceler russo Sergei Lavrov, quando ambos participavam do descerramento da estátua de Santo Alexander Nevsky (+1263), um dos heróis militares e religiosos mais queridos da Rússia, no ministério das relações exteriores em Moscou.  

Malinov começou a fazer  lobby junto às lideranças políticas russas para que elas apoiassem um movimento russófilo global em 2018, no  Fórum de Livadia, uma conferência anual promovida pelo Conselho da Federação, o equivalente ao Senado dos Estados Unidos, realizado no famoso palácio real do mesmo nome na Crimeia, uma residência favorita do último Tzar e de sua família, que desde então foram canonizados. Esse evento anual teve início depois que a Crimeia votou em favor de juntar-se à Rússia, com o objetivo de reunir amigos da Rússia de todo o mundo.  

A organização búlgara de Malinov, "Russófilos", tem filiais por todo o país, e organizou eventos públicos ao ar livre, que chegaram a atrair 40 mil pessoas. Aqui vai um link para seu  website e um artigo Wikipedia sobre ela.  Suas atividades incluem manter monumentos públicos à amizade russo-búlgara, identificando importantes datas históricas a serem comemoradas com eventos públicos, mesas-redondas e concertos, publicação de livros e artigos, divulgação de material para televisão e filmes, informando as pessoas sobre a Rússia, inclusive em escolas e jardins da infância.

Durante toda a sua carreira, Malinov fez política partidária na Bulgária, principalmente no Partido Socialista Búlgaro (PSB), um sucessor social-democrata do Partido Comunista Búlgaro, atuando principalmente em mídia e publicações. Ele foi o bem-sucedido editor do jornal do BSP, o Duma, do New Times, a mais antiga revista social-democrata do mundo, do periódico Indicador Contemporâneo, das edições búlgaras da Gazeta Russa (o veículo oficial do governo russo, e do ‘Le Monde Diplomatique’ a venerável revista esquerdista e antiglobalista francesa, de propriedade majoritária do  Le Monde, um dos principais jornais franceses. Malinov foi também representante do BSP no parlamento búlgaro. Ele rompeu com o BSP em 2015, por discordar de sua postura cada vez mais pró-Estados Unidos na questão russa.

Quanto à sua posição política, Malinov insiste que o paradigma direita-esquerda  está ultrapassado, e só continua existindo para controlar e manipular as pessoas.  Ele é abertamente cristão, usando um crucifixo ortodoxo de ouro na lapela, e pontua de referências cristãs seus discursos e conversas. Em seu discurso de abertura no congresso, Malinov afirmou que sua visão da russofilia é a aceitação da verdade e da decência, exemplificados pela Rússia, contra a falsidade e o mal, exemplificados pelo que ele chama da " ditadura neoliberal" que está no poder no Ocidente.  

Malinov ressaltou sua crença de que os povos do Ocidente são oprimidos por uma elite maligna, e que não se deve confundir o povo do Ocidente com seus governos. "Não confundam povo e governo", diz Malinov. Ele conta que insistiu nessa visão quando conversou com Putin em 2019, e Putin concordou com ele, passando a repetidamente mencionar esse tema em seus discursos subsequentes.  

 O ponto principal que quero comunicar nesta entrevista são três ideias simples, que encarnam a ideia de russofilia defendida por Malinov: "valores tradicionais", "estados nacionais fortes"  e "mundo multipolar". Ele desenvolve essa ideia dizendo que "ser russófilo significa ser patriota em seu próprio país, porque a Rússia significa a multipolaridade". Malinov afirmou que essas ideias simples funcionam com todas as religiões e com todos os sistemas políticos do mundo, e que após muita reflexão, ele resumiu os princípios de sua organização nesses três pontos, precisamente porque eles podem ser abraçados por todos os países.  

Ao ouvir Malinov e suas declarações públicas, fica claro que seu cristianismo é sincero, e que seu alfinete de lapela não é exibição. Sua conversa é pontuada por referências à sua fé. "Trata-se de uma batalha espiritual", declara ele, afirmando que irá dirigir o MIR com base nos princípios de "humildade, honestidade e transparência".  

Apesar da total neutralidade do MIR no tocante às religiões, não se pode deixar de notar um tom cristão na atmosfera. Os membros fundadores Malinov, Herdt, e Sorlin são cristãos muito conservadores. Konstantin Malofeev e Alexander Dugin também o são e, além disso, monarquistas cristãos ortodoxos convictos. Aqui segue um discurso recente de Dugin proferido no Conselho Mundial do Povo Russo, onde essa visão cristã é claramente colocada. A Igreja Ortodoxa Russa enviou quatro representantes, e o principal canal de televisão cristão cobriu o evento. Um outro delegado era um padre ortodoxo palestino.   

Malinov é formado em história, e sua discussão sobre as raízes da amizade russo-búlgara revela uma sofisticada compreensão da história europeia, de filosofia política e da teologia cristã ortodoxa. De fato, Malinov dá a impressão de ser um homem imerso em jornalismo, mídia e ideias.  

Ele insiste na ideia de que a Rússia é o veículo ideal para levar paz e compreensão a todo o mundo, por fazer parte tanto do Ocidente quanto do Oriente. Ele afirma que países como a Rússia e a Bulgária, ao longo dos séculos, precisaram aprender a conviver com vizinhos às vezes hostis, e que a mentalidade cristã ortodoxa é mais "delicada e nuançada", mais focada na cooperação e no consenso que o Ocidente, mais categórico e divisionista.

Perguntado sobre o movimento que vem florescendo entre as elites russas visando a abrir a Rússia para a imigração vinda do Ocidente, principalmente pessoas de etnia russa (segundo os russos, isso inclui também a Ucrânia e Belarus), Malinov diz que tem conhecimento do fenômeno e o endossa, mas que esse não será o foco principal do MIR. É significativo que o vice-presidente do MIR, o político alemão Waldemar Herdt, participa ativamente desse movimento, o que indica que podemos esperar alguma sobreposição.  

Voltando aos detalhes organizacionais, Malinov ressalta que vem conduzindo o MIR lenta mas firmemente. Ele conta que foi inundado de comentários entusiásticos desde a inauguração pública ocorrida no mês passado, partindo principalmente de pessoas que querem saber como podem participar e se envolver no movimento.  Ele advertiu sobre a possibilidade de expectativas exageradas, ao mesmo tempo em que assegurava que tudo está bem encaminhado e ocorrerá a seu tempo. Em termos mais específicos, ele disse esperar que uma decisão final sobre as atividades do MIR e o programa para o próximo ano será feita em inícios de maio.  

Malinov diz que, apesar de haver muito interesse, cidadãos russos não poderão se tornar membros do MIR. "Os cidadãos russos já são russófilos, ou pelo menos deveriam ser".  "Queremos que este seja um lugar onde pessoas de outros países registrem seu afeto e sua admiração pela Rússia".  

O MIR elegeu um corpo diretor em seu congresso de fundação, que inclui, entre outros:  

Presidente – Nikolai Malinov – Bulgária

 Vice-presidente:

 Membros:

 Países representados no congresso de fundação:  

  1.   Albânia
  2.   Argentina
  3.   Áustria
  4.   Armênia
  5.   Belarus
  6.   Brasil
  7.   Bulgária
  8.   Chipre
  9.   República Tcheca
  10.   Egito
  11.   França
  12.   Geórgia
  13.   Alemanha
  14.   Hungria
  15.   Índia
  16.   Indonésia
  17.   Israel
  18.   Itália
  19.   Quirguistão
  20.   Líbano
  21.   Látvia
  22.   Lituânia
  23.   Mali
  24.   Moldova
  25.   Montenegro
  26.   Polônia
  27.   Romênia
  28.   Senegal
  29.   Sérvia
  30.   Eslováquia
  31.   África do Sul
  32.   Espanha
  33.   Sudão
  34.   Síria
  35.   Suíça
  36.   Transnístria
  37.   Turquia
  38.   Estados Unidos
  39.   Venezuela

 
Entre os grandes países que não tiveram representação estavam Japão, China, Austrália e Canadá. Malinov acredita que, em breve, a maioria dos países do mundo estará representada na organização.  

Um órgão noticioso da imprensa escrita russa trouxe um excelente relato do congresso, conseguindo captar a atmosfera e as ideias ali colocadas:

"O emblema escolhido para no novo movimento é também significativo – uma bailarina jogando ao ar um satélite, envolvida nas cores da bandeira russa. A escolha desse símbolo teve como intenção enfatizar que se trata da união de pessoas em torno de uma cultura.

A lista de convidados também expressava a mesma ideia – o poeta e diplomata senegalês Suleiman Anta Ndiay e a passional princesa siciliana Vittoria Alliata di Villafranca, o cosmopolita geopolítico esquerdista do Brasil Pepe Escobar e o e primeiro-ministro da Eslováquia Jan Czarnogursky, e o Prelado italiano Carlo Maria Vigano, que vê a Rússia como o último baluarte de salvação para o mundo que vem resvalando inexoravelmente para o satanismo, o trans-humanismo  e a degeneração.

Ser russófilo não significa  apoiar incondicionalmente  a política da Rússia, sua liderança e sua ideologia. Trata-se de algo totalmente diferente. O leitmotif dos discursos foi uma ideia expressa de maneiras diferentes: a Rússia é uma civilização de mil anos, uma grande cultura, habitada por um povo belo, sincero, talentoso e bom. Sua impressionante história teve todos os tipos de reviravolta – algumas trágicas e monstruosas, outras belas e sublimes. E esse código cultural, que deu à humanidade tantos gênios e tantas grandes obras de arte, abriu as portas para profundas experiências religiosas e para experimentos sociais inovadores, contribuiu para a expulsão dos ataques mortíferos do nazismo europeu e lançou as bases para a expansão da civilização sobre vastas extensões da Eurásia, merece ser amado e admirado.  

O Congresso dos Russófilos foi dedicado precisamente a esse amor. A seguinte frase foi dita por um dos participantes: o amor não é apenas o reverso do ódio, o amor não tem oposto, ele a tudo absorve. Sim, os participantes, de quando em quando,  também mencionaram sua oposição à russofobia. Mas a essência da questão não é a luta contra a russofobia. A Rússia não pode ser reduzida a uma única coisa – a este ou aquele líder político e suas políticas.  A dialética da história russa é variada demais.  O povo russo, tendo reunido outros povos eurasianos em torno de si, não tem um destino linear. Ele, como um ser vivo, move-se por diferentes caminhos, errando, chegando a impasses, e novamente retornando ao caminho correto – sempre em busca de si mesmo e da mais alta verdade.

Muitos discursos trataram da ordem mundial multipolar. Sergey Lavrov esboçou a visão estratégica russa de uma futura ordem mundial. Segundo ele, essa ordem só pode se basear na verdadeira democracia, no respeito pelo direito internacional e em levar em conta a autodeterminação de todas as civilizações, povos e culturas da humanidade, indo além da hegemonia de qualquer um dos lados.  Historicamente, a Rússia é uma sociedade multipolar como essa. Centenas de povos e culturas nelas são preservadas, diversas confissões religiosas coexistem pacífica e harmoniosamente – Igreja Ortodoxa, Islã, Budismo, Judaísmo. A Rússia jamais conheceu guerras religiosas nem a opressão de povos em razão de sua etnia.  Mesmo a expansão das fronteiras russas até o limite natural do continente se deu de forma geralmente pacífica: os russos incluíam outros países em uma única união fraternal, aceitando-os em pé de igualdade com os demais – com os que haviam se juntado aos russos em estágios anteriores. Foi assim nos tempos soviéticos, mas foi assim também na era do Império. A Rússia é um exemplo de multipolaridade em sua própria identidade histórica.  

Por essa razão, é natural que Moscou defenda uma ordem mundial equilibrada e policêntrica como essa. Ao mesmo tempo, os próprios russos estão prontos a corrigir seus erros, admitindo que em alguns períodos de sua história eles se desviaram desse alto ideal.

Por amor à Rússia, os participantes do Congresso dos Russófilos, de várias maneiras, enfatizaram que não deve haver ódio a ninguém. Esta não é uma aliança contra, é uma posição honesta e aberta da parte da humanidade que opta pela multipolaridade e rejeita qualquer forma de tirania intelectual. Os governos nem sempre refletem a posição da sociedade. E aqueles que se identificam como russófilos apenas expressam – livre e orgulhosamente – sua própria opinião. Qualquer pessoa deve poder escolher o objeto de seu amor, de forma soberana e independente.  

No Congresso dos Russófilos, nenhum orador expressou ódio ou sequer censura a outros povos, não foi pronunciada qualquer palavra em apoio à guerra ou à Operação Militar Especial lançada pela Rússia. Trata-se de uma guerra civil, afirmou a maioria dos participantes, e quanto antes ela terminar e houver paz, melhor. Não há nada pior do que a morte de pessoas. E não há nada mais sagrado do que a paz entre os povos.

"Foi essa a conclusão das pessoas que amam a Rússia e não se envergonham desse  amor".  

O Congresso também lançou um manifesto, que reflete ainda melhor a ampla simpatia que a Rússia desperta em todo o mundo e o enfoque do MIR:  

MANIFESTO dos fundadores do Movimento Internacional dos Russófilos

A Rússia tem muitos amigos por todo o mundo. Por razões históricas, civilizacionais e culturais, ela desperta sincera simpatia, respeito e até mesmo amor além de suas fronteiras.

Muitas pessoas de todo o mundo, guiadas por afetuosos sentimentos com relação à Rússia e o povo russo, interessam-se pela língua e pela cultura russas e tentam se comunicar e entender melhor o povo russo, buscando informações confiáveis e ideologicamente imparciais sobre a vida política e econômica da Rússia.  

Esses sentimentos, interesses e aspirações merecem respeito e todo o apoio. Guiados por esses sentimentos cordiais para com o povo russo, e também  

  •   levando em conta o papel significativo e a influência da Rússia no mundo moderno;
  •   declarando nosso respeito pela história, pela língua e pela cultura russas;  
  •   firmemente convictos de que a cooperação mútua fortalece nossos povos;
  •   e expressando nossa convicção de que sem um diálogo ativo e bem-intencionado, nosso mundo é incompleto e instável;

 Nós, russófilos de diferentes países, criamos o Movimento Internacional dos Russófilos, e iremos, por meio de sua constante expansão e fortalecimento,   

  •   promover a difusão da cultura russa e informações sobre  suas realizações;
  •   ajudar os amigos da Rússia de todo o mundo, em termos organizacionais e metodológicos, em suas atividades relacionadas à Rússia;   
  •   apoiar a divulgação de informações confiáveis sobre a Rússia e suas posturas frente a tópicos de nosso tempo;
  •   fortalecer a "diplomacia do povo", de amor e generosidade, em defesa de um mundo multipolar pacífico e harmonioso.  

 
Por meio da "diplomacia do povo", russófilos de todo o mundo podem ser extremamente úteis às instituições culturais, econômicas e sociais de seus países, promover a busca por compreensão mútua e atuar no combate à hostilidade, desinformação e desconfiança nos conflitos mundiais de nossos dias.

Nós, os fundadores do Movimento Internacional dos Russófilos, convictos de que não há alternativa razoável ao respeito e amizade mútuos entre os povos, conclamamos aqueles que veem nossa iniciativa como útil e necessária ao mundo a nos apoiar, assinando o presente Manifesto.

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