Contra a perseguição ideológica nas universidades
Nestes tempos de crise profunda, foi preciso que um crítico literário saísse de suas necessárias publicações para a tarefa mais urgente urgentíssima de contundente denúncia. Acompanhem as palavras deste grande abaixo-assinado, e depois o assinem sem medo, mas com indignação
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O autor do abaixo-assinado a seguir, que se transforma em um autêntico manifesto, um “Eu acuso”, é o crítico literário Alcir Pécora. Trata-se de um estudioso respeitado em todo o mundo culto do Brasil a Portugal, especialista nas obras do Padre Vieira, professor titular da Unicamp. No mundo literário, Alcir Pécora é um mestre respeitado por suas críticas que não obedecem às igrejinhas da moda no Rio-São Paulo.
Professor de formação humanista, ele não poderia ficar em silêncio diante dos assaltos e perseguições que agora correm contra a universidade brasileira, cujos exemplos mais próximos da sua vida são as universidades paulistas, vítimas dos bolsonaristas locais, do governador Doria, aquele que como apresentador de tevê era apenas um puxa-saco da elite, até a mais recente CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo, movida à ideologia fascista.
Nestes tempos de crise profunda, foi preciso que um crítico literário saísse de suas necessárias publicações para a tarefa mais urgente urgentíssima de contundente denúncia. Acompanhem as palavras deste grande abaixo-assinado, e depois o assinem sem medo, mas com indignação:
“E se afrontar a Constituição é inadmissível num estado de direito, o que dizer de uma comissão parlamentar que pretende fazer triagem ideológica dos membros da comunidade universitária? Aqui, violenta-se a Constituição e ainda a própria ideia de democracia, onde a liberdade de credos religiosos e de convicções políticas é inalienável de cada cidadão pleno da república. A ideia de reprimir cientistas e pensadores que fossem eventualmente “de esquerda”, em si mesma, é repugnante e tem de ser repudiada – não pelos que se consideram de esquerda, que, diga-se, nem de longe são maioria na Universidade –, mas por todos que ainda prezam a força do ideal democrático e republicano. Não é a esquerda que é atingida com uma aberração parlamentar como essa, mas o próprio coração da democracia, pois se trata de um ato de traição inaceitável por parte de representantes eleitos e legítimos apenas enquanto vige a ideia de democracia.
A ameaça intimidadora e esdrúxula do deputado Wellington Moura de ‘analisar como as questões ideológicas estão implicando no orçamento’[sic], dado perceber ‘um predomínio da esquerda nas universidades’ é tão ostensivamente desinformada como ofensiva à mais singela ideia de cidadania numa república democrática. O que ele imagina como ‘análise’? Pedir atestado ideológico para saber se o dinheiro gasto com a pesquisa é adequado? O que ele pensa: que os maiores cientistas e intelectuais do país farão ou não um trabalho de pesquisa financeiramente justificado de acordo com o voto que deram na última eleição? Que o médico que pesquisa o câncer, o físico que estuda o neutrino ou o historiador ou o crítico literário que estudam história cultural hão de gastar bem ou mal dependendo de ler a mesma cartilha ideológica do governador ou de seus acólitos? Não há nada mais absolutamente contrário à ideia de boa ciência do que a tentativa de controlar politicamente os seus laboratórios ou os seus dados e estudos. Tal propósito é, pela sua própria natureza, antidemocrático e fascistoide, ainda que esconda o seu nome vergonhoso com a preocupação fiscalista ou de gestão eficiente”
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