Conservadorismo e pontas de faca



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No fortalecimento do conservadorismo, instalado no cenário brasileiro por meio de Jair Bolsonaro, certos sintomas perversos se fazem sentir pouco a pouco, à maneira de uma epidemia de doenças graves. Alguns episódios recentes, como a violência de um garoto de 13 anos numa escola paulista, esfaqueando professoras e alunos, colocam-nos nas manchetes internacionais com destaque de anomalias não invejáveis. Aquilo parecia um surto de loucura, não obstante se deixasse acompanhar de traços de racismo e vingança em consequência de bullying. A professora que o imobilizou e impediu o pior, consultada pela imprensa, expressou o tamanho da sua dor. “Tenho dó do menino” – disse, quando se esperava, ao contrário, que apenas comunicasse o seu repúdio. Bom sinal. Sinal de que, no meio da tragédia, apesar de tudo, bons sentimentos persistem. 

No entanto, o ódio levado à escola, infelizmente, não representa um caso isolado. Guardadas as devidas proporções, há algo dele na CCJ da Câmara dos Deputados ao receber Flávio Dino, nosso Ministro da Justiça, quando este se viu confrontado com jovens de nervos à flor da pele, com sangue escorrendo pelos caninos. Eles haviam comparecido ao evento em pé de guerra, com as facas afiadas nos dentes, para colher os louros de seu comportamento aguerrido. Comandados pelo Ex à distância, pretendiam demonstrar que ficariam à altura de seus velhos e violentos discursos à época do cercadinho. Sem dúvida, não esperavam encontrar um adversário superior, não pela sede de vingança ou pela veemência dos discursos, mas pela experiência e pela habilidade na argumentação. Em quatro horas, tempo que durou a sessão, uma vergonha para a política brasileira, Flávio Dino desmontou as tramas de mentiras urdidas e devolveu as armadilhas a seus donos que, incomodados, tiveram de deixar o recinto frustradíssimos. O Ministro se revelou capaz de lidar com a turba de indignados, adeptos da tortura como o seu chefe, e colocá-los na defensiva, como se não passassem de jovens desencaminhados. O filme de terror acabou surpreendentemente num dócil e previsível happy end. Contudo, violências exercidas a tal ponto correm o risco de degenerar, como ocorreu em São Paulo. Dos fatos, salve-se o exemplo da professora de educação física que controlou o atacante, sem perder a humanidade. Afinal, nos dois lados da moeda ela parece estar com carradas de razão. Não se intimidou e não perdeu a sensação de tristeza que nos acomete quando, sentindo que não erramos, declaramos mesmo assim um inquebrantável afeto pela humanidade. 

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Para quem julga que as ações humanas se afirmam pela força, sem o contrapeso da sensibilidade, a guerra se mostra inevitável. Esta é uma diferença aguda que se verifica no contraste entre o antes e o agora, na versão Lula X Bolsonaro. Desgosto, neste último, só o atinge através de uma adversidade que lhe fira a pele, porque a dor dos outros efetivamente não o atinge. Lula, ao contrário, se posiciona em favor dos desfavorecidos, é solidário com eles e age para lhes diminuir o infortúnio. A longo prazo, a solidariedade se agiganta. Alguns obstáculos não bastam para lhe curvar a espinha. É preciso mais, muito mais, para verdadeiramente entender o que somos. 

 

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