Conselho de Ética não pode virar palco de vingança
"As ações contra os deputados Chico Alencar (Psol-RJ) e Jean Wyllys (Psol-RJ) constituem um precedente perigoso para a transformação do Conselho de Ética num ringue para acertos de contas entre os polos ideológicos da Câmara", diz a colunista Tereza Cruvinel; "O Conselho não existe para isso mas para efetivamente julgar os desvios de conduta dos deputados. Transformá-lo em campo de duelo será desqualificar o principal instrumento de controle da conduta dos deputados num tempo de alto déficit de confiança na atividade parlamentar"; ela afirma ainda que as ações foram claramente motivadas pela "tropa de choque" de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que neste momento tenta se safar no Conselho de Ética
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A abertura de processo de cassação do mandato do líder do PSOL, Chico Alencar, ocorrida anteontem (11/11) foi uma aberração. Uma evidente retaliação da tropa de choque de Eduardo Cunha contra um dos autores do pedido de cassação do presidente da Câmara. A representação foi assinada pelo deputado Paulo Pereira da Silva, presidente do SD e aliado ostensivo de Cunha. Ontem, aportou no conselho denúncia contra o deputado Jean Willys, também do PSOL, por seu enfrentamento com um dos expoentes do conservantismo que vem impondo a agenda reacionária em questões de comportamento e valores, o deputado João Rodrigues (PSD-SC).
Na sessão de ontem foram sorteados os deputados Sandro Alex (PPS-PR), Sérgio Brito (PSD-BA) e José Geraldo (PT-PA) como possíveis relatores do processo contra Alencar. Após a indicação, pelo presidente José Carlos Araújo, o relator terá 10 dias para apresentar um parecer acolhendo ou não a denúncia. Pode-se discordar de quase tudo em relação a Chico Alencar mas não de seu rigor ético. Ele está sendo acusado de ter usado funcionários da Câmara em sua última campanha eleitoral. Doações de integrantes de sua equipe, que com ele naturalmente têm afinidades político-ideológicas, fizeram doações à campanha que estão sendo questionadas.
João Rodrigues, todos se lembram, foi flagrado em maio assistindo a um vídeo pornográfico no plenário da Câmara durante votação da reforma política. Há poucas semanas ele e Jean Willys bateram boca depois que o deputado do PSD subiu à tribuna para criticar a participação do parlamentar no Big Brother Brasil.
“Um parlamentar que defende perdão para drogas, que defende que adolescente pode trocar de sexo, mesmo sem autorização dos pais. Isso não é deputado, é a escória deste país, mas ocupa lugar como deputado", disse João Rodrigues.
Willys, reiterando sua condição de homossexual, que o outro atacou dissimuladamente, não deixou por menos:
“Homens decentes não assistem a vídeo pornô em plena sessão plenária. Homens decentes não são condenados por improbidade administrativa por roubar dinheiro público, como o deputado foi. Portanto, quem não tem moral para representar o povo brasileiro é ladrão. Eu vou dizer uma coisa: qualquer programa de televisão é mais decente do quem rouba dinheiro do povo na sua administração pública. Qualquer programa de televisão é mais decente que deputado em vez de honrar o voto e o dinheiro público fica usando a sessão plenária para assistir filme pornô", ·.
Ontem, Rodrigues acusou Willys de quebrar o decoro parlamentar e pediu sua cassação. As ações contra os dois deputados do PSOL constituem um precedente perigoso para a transformação do Conselho de Ética num ringue para acertos de contas entre os polos ideológicos da Câmara. O Conselho não existe para isso mas para efetivamente julgar os desvios de conduta dos deputados. Transformá-lo em campo de duelo será desqualificar o principal instrumento de controle da conduta dos deputados num tempo de alto déficit de confiança na atividade parlamentar.
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