Conhecimento e liberdade

Escola estadual em São Paulo
Escola estadual em São Paulo (Foto: REUTERS/Carla Carniel)


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No filme Expresso para o inferno, de 1985, dirigido por Andrei Konchalovski, dois fugitivos de uma penitenciária se encontram a bordo de um trem, no Alasca, certos de que haviam localizado um meio de fuga. No entanto, o condutor sofre um enfarto e morre, e ninguém mais governa a locomotiva. O que era para ter sido uma oportunidade para a fuga se transforma em nova prisão, já que os envolvidos se conscientizam de que se encaminham para um desastre. As tensões, as brigas entre os dois, se acirram. Em determinado momento, uma terceira passageira que ali se encontra, funcionária da companhia, escandalizada, vira-se para eles e comenta: “Vocês parecem animais!” Ao que o outro, personagem encarnado por Jon Voight, responde: “Pior. Humanos”.

Eventos recentes ocorridos no Brasil, numa creche em Blumenau, evocam o horror a esse nível. Não pode haver outras comparações com o homem de 25 anos que invadiu a escolinha de machado em punho e matou gratuitamente quatro crianças indefesas. O escândalo tinha de tomar conta do país. No Palácio do Planalto Lula pediu um minuto de silêncio, já que as palavras pareciam insuficientes para expressar o tamanho da dor e da indignação. As dimensões do acontecimento surgiam com tal magnitude que logo vêm à tona sugestões de medidas coercitivas para “proteger” os alunos. Entre outros estratagemas, aventa o prefeito de Blumenau, por que não colocar um policial em cada escola? Era mimetizar o horror. Responder ao desastre equiparando-se a ele, pois estudantes não podem e não devem se sentir como se fossem detentos. Cabe lembrar que, em São Paulo, por exemplo, não há muito tempo incluíam-se psicólogos no seu corpo de equipe, gente especializada em detectar e tratar de problemas psíquicos, diagnosticando-os precocemente. 

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Também é bom recordar, por outro lado, que com o fenômeno do bolsonarismo, alguns políticos despreparados começaram a invadir os estabelecimentos de ensino para vigiar professores e discentes, na ânsia de intimidar e proceder a denúncias de ordem ideológica. Um deles, Gabriel Monteiro (depois cassado de seu mandato, acusado de estupro, na Câmara de Vereadores), visitou a Faculdade de Letras da UFRJ e entrevistou alunos, selecionando, a seu ver, entre os que prestavam e uma “suposta esquerda”. Outros estiveram no Colégio Pedro II com idênticos propósitos: exibir truculência e intimidar pessoas. E houve aqueles que saíram vaiados. Seja como for, cumpriram um papel lastimável, carregando ovos de serpente e preparando terreno para os horrores que agora tomaram conta do país. 

Os que gostam da ideia de “prender e arrebentar” exultam ante a possibilidade de reprimir os fantasmas do horror, sendo eles próprios, no entanto, representantes dele. Examinando-os bem, não se distanciam daqueles que na CCJ da Câmara dos Deputados, questionaram Flávio Dino porque visitara a comunidade da Maré. Conhecimento se realiza com consciência e liberdade. Opressão fica longe do tema. Se é para se chegar a tanto, melhor, quem sabe, trabalhar com grades e cadeias e espalhá-las aos quatro cantos onde antes simplesmente havia escolas. 

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