Congresso quer Moro zumbi e cabeça de Dallagnol
A jornalista Helena Chagas afirma que, "nesse momento, o establishment político olha com cautela a ofensiva do ministro Sérgio Moro junto ao Congresso para dar grau máximo de politização ao assunto – e se manter na pasta da Justiça – e aposta suas fichas na previsão de que a primeira cabeça a rolar será a de Deltan Dallagnol"
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Por Helena Chagas, para o Divergentes e o Jornalistas pela Democracia - O caso Vaza-Jato está longe de um desfecho, e seus rumos vão depender das próximas revelações sobre as conversas indecorosas da força-tarefa interceptadas pelo The Intercept. Nesse momento, o establishment político olha com cautela a ofensiva do ministro Sérgio Moro junto ao Congresso para dar grau máximo de politização ao assunto – e se manter na pasta da Justiça – e aposta suas fichas na previsão de que a primeira cabeça a rolar será a de Deltan Dallagnol. A corda arrebenta do lado mais fraco, e este é agora o do procurador, alvo de ações no Conselho Nacional do Ministério Público.
Uma punição a Deltan livra a cara de Moro, o outro lado das conversas impróprias captadas? Não necessariamente, mas distrai a platéia.
Moro não teve o apoio explícito do presidente Jair Bolsonaro nas primeiras horas do escândalo, mas teve dos filhos do presidente e – bem importante – da ala militar do governo, traduzido num twitter de seu guru máximo, general Villas Boas. Isso quer dizer que o ex-juiz se safou? Também não.
O destino de Moro está hoje nas mãos do Congresso Nacional, onde boa parte dos parlamentares há tempos acalenta o sonho de pegar o ex-juiz da Lava Jato na esquina. Curiosamente, foi esse mesmo – Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre à frente – que ontem ofereceu a mão a ele, concordando em marcar para a próxima semana uma audiência na amena Comissão de Constituição e Justiça do Senado e brecando, a princípio, as iniciativas para criação de uma CPMI para investigar as relações impróprias dentro da Lava Jato.
Como dizia Ulysses Guimarães, ali no Congresso não tem bobo – os bobos ficaram para suplente. E o que vai ficando claro é que o Legislativo, em vez de reduzir a pó o ex-super Moro, quer mantê-lo em seu colo, bem quietinho, imobilizado, quem sabe como uma dócil criatura de estimação.
Se Moro sobreviver no cargo, ficará tão fraco politicamente que não vai mais oferecer perigo para os acusados da Lava Jato e de outros casos. Seu pacote dificilmente sairá do lugar, sua indicação para o STF pode ser barrada pelos senadores – se é que será feita por Bolsonaro – e agora terá grandes chances de prosperar e ser aprovado o projeto que pune o abuso de autoridade de juízes e procuradores.
É esse o script que estava sendo escrito ontem: um filme no qual o super herói vira zumbi.
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