Conflito na Ucrânia está longe da solução política

Militarização do país pelos EUA e a Otan e “fórmula” inócua de Zelensky impedem qualquer plano de paz

Presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) mais tropas russas em solo ucraniano ao fundo
Presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia) mais tropas russas em solo ucraniano ao fundo (Foto: Reuters)


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José Reinaldo Carvalho, 247 - O conflito militar na Ucrânia está longe da paz. No início da semana, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, deixou claro que deposita suas esperanças de paz apenas num futuro incerto. "Infelizmente, acredito que neste momento não é possível uma negociação para a paz. As duas partes estão convencidas de que podem vencer e estão completamente envolvidas na guerra", disse Guterres.

Mesmo considerando simplista a afirmação do tíbio chefe da ONU quanto às razões pelas quais a paz está distante, ele não deixa de ter razão.  

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Na mesma semana, a Rússia celebrou mais um Dia da Vitória na luta contra o nazifascismo, ocorrida em 9 de Maio de 1945, com a rendição do exército alemão ao glorioso Exército Vermelho da União Soviética. O presidente Vladimir Putin proclamou em discurso na Praça Vermelha, em Moscou,  durante a Parada Militar comemorativa, que a Federação Russa continuará resistindo à guerra das potências imperialistas ocidentais, que não escondem o propósito de enfraquecer, fragmentar e derrotar a Rússia. 

Em diferentes ocasiões, desde que desencadeou a Operação MIlitar Especial, em 24 de fevereiro do ano passado, o Kremlin continua declarando-se disposto a negociações, mas a ênfase de sua retórica e o vetor principal de sua ação é completar a missão a que se propôs - neutralizar a ameaça de guerra das potências ocidentais, para o que é indispensável desmilitarizar a Ucrânia e torná-la um país neutro. Igualmente, a Rússia persegue intensamente seu plano de libertar totalmente a região do Donbass, o que ainda exige um ciclópico esforço militar. 

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Putin responde à acusação de ter violado o princípio da autodeterminação das nações com a Operação Militar Especial na Ucrânia, caracterizada pelas potências ocidentais como "invasão" e "agressão", reafirmando sua adesão ao Direito Internacional e elevando o tom da crítica à postura daquelas potências de impedir o surgimento de centros de desenvolvimento fora da sua esfera de dominação. Explicita, assim, estar em linha com as tendências predominantes da época, de soerguer o mundo multipolar. 

Ao mesmo tempo, o país está imerso na luta para contornar os efeitos nefastos das sanções econômicas e da ofensiva para isolá-lo, o que inclui manifestações torpes de russofobia e de choque de civilização, eivado de discurso de ódio por parte de estadistas e propagandistas a soldo das potências imperialistas.  

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Outra razão que nos leva a crer que estamos distantes da paz é a posição ucraniana, reiterada na última quinta-feira (11) por Volodimir Zelensky, em audiência com Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula. O presidente-fantoche declarou que a paz só será possível com o fim da "agressão" russa e terá que ser imposta segundo a "fórmula" ucraniana. Isto explica por que desde março do ano passado não há negociações objetivas entre as partes em conflito, das quais a Ucrânia se retirou unilateralmente.

A razão principal paa a descrença na possibilidade de paz a curto prazo é a posição dos Estados Unidos e seus aliados dentro e fora da Otan e União Europeia. Fazem uma aposta de longo prazo na ulterior militarização da Ucrânia e se preparam para uma escalada. 

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"O Departamento de Defesa anunciou um novo pacote de assistência à segurança para reafirmar o firme apoio dos EUA à Ucrânia, inclusive para reforçar suas defesas antiaéreas e sustentar suas necessidades de munição de artilharia", diz um comunicado oficial do Pentágono emitido na última terça-feira (9). O valor total da ajuda, calculado tanto para cobrir necessidades urgentes quanto para apoiar o Exército ucraniano a longo prazo, chega a US$ 1,2 bilhão. O pacote, de acordo com o departamento de Defesa dos EUA, inclui equipamentos adicionais de defesa antiaérea e munição, equipamentos para integrar o sistema de defesa antiaérea ucraniano com armas ocidentais, munição para combater veículos aéreos não tripulados, projéteis, serviços de empresas comerciais que fornecem imagens de satélite, bem como treinamento de militares ucranianos e manutenção de equipamentos. "Os Estados Unidos seguirão trabalhando com seus aliados e parceiros para fornecer à Ucrânia recursos a fim de atender às suas necessidades imediatas no campo de batalha e aos requisitos de assistência à segurança de longo prazo", informa o comunicado. No dia seguinte, os Estados Unidos e o Reino Unido aunciaram que fornecerão mísseis de longo alcance ao regime de Kiev. 

É óbvio que tais ações não auguram sequer a abertura de diálogo, menos ainda a possibilidade do cessar-fogo imediato ou a paz a médio ou longo prazos. No horizonte das potências imperialistas o que se vislumbra e se planeja é a continuidade da guerra. 

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A Rússia já deixou claro, por seu lado, que armamentos e pessoal especializado da Otan instruindo as forças ucranianas serão alvo legítimo de seu contra-ataque. Putin reafirmou que a Operação Militar Especial foi desencadeada precisamente para impedir que as potências imperialistas ocidentais transformem a Ucrânia em um enclave antirrusso militarizado. 

É nesse cenário que emergem as propostas de paz da China e do Brasil. A China tem dado claros sinais de que, mesmo não sendo parte do conflito, está empenhada pela paz. Ofereceu para isto um roteiro de 12 pontos e realiza conversações com todos os lados. A ação diplomática de Pequim inclui a reafirmação da parceria estratégica com Moscou, conversações diretas com Kiev e uma intensa rodada de diálogo com as potências europeias, designadamente a Alemanha e a França. Na disjuntiva entre guerra e paz, seria desejável que aflorassem as contradições geopolíticas entre as potências imperialistas e a Europa se desacoplasse dos EUA. 

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Em tal cenário, os bons ofícios de países como Brasil, China e outros parceiros no âmbito do Brics e do G20, são bem-vindos e um sinal de que não se deve perder a esperança nem cessar a busca de uma solução política para o conflito. Mas é necessário ter o máximo de compreensão da realidade, percepção aguda do quadro político e não alimentar ilusões.  

Somente propostas realistas levarão ao fim do conflito. Pretender impor condições à Rússia como pressuposto para realizar negociações é inócuo e significa fazer mesmo que involuntariamente o jogo belicista das potências imperialistas. Resoluções vazadas na exigência de que a Rússia se retire dos territórios do Donbass e da Crimeia equivalem a uma decisão de prolongar o conflito. Serão lidas em Moscou como inócuas ou mesmo como provocação. 

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Não existem planos de paz por parte das potências imperialistas lideradas pelos Estados Unidos. A "fórmula" de Zelensky consiste em militarizar ainda mais a Ucrânia com o abastecimento permanente de armas e especialistas militares dos seus aliados ocidentais, a fim de acumular forças para atacar a Rússia. Quanto aos Estados Unidos e a Otan, a "fórmula" tem sido até agora dobrar a aposta de guerra na Ucrânia, enquanto urde outros planos de guerra no Indo-Pacífico e na Ásia, estes tendo por alvo direto a China.  

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