"Confesso que vivi, vi e ouvi"



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Fui advogado do sindicato dos eletricitários em 1989 e 1990, já havia passado pelo sindicato dos metalúrgicos em 1987 e 1988. 

No sindicato havia diretores muito qualificados. Vicente Andreu, que anos depois foi presidente da SANASA e da ANA e o Arthur Henrique, que foi presidente da CUT anos depois. Havia também o Bira Dantas, um dos melhores ilustradores, caricaturistas, cartunistas e quadrinistas do Brasil cujo sorrisão genuíno iluminava até os dias cinzas. O meu ‘chefe’ no jurídico era o Nilson Lucilio, de quem eu trazia as melhores e mais fraternas lembranças do tempo da faculdade. Nilson foi secretário dos negócios jurídicos quando Toninho foi prefeito.O sindicato era ao lado a livraria jurídica JULEX, onde ficava boa parte do meu salário. Deixei o sindicado e fui trabalhar na administração com o Jacó, foi minha primeira experiência nessa quadra (para mim e para minha família foi muito bom, pois o trabalho no sindicato, apesar de muito gratificante, me obrigava a viajar e fazer audiências em todo o estado e ficar tempo demais longe da Celinha e dos meninos, num momento delicado). Quem se empenhou pela minha ida para o gabinete do Jacó foi o Lio, José Ricardo Brizola Nogueira Dias, “parceiro e amigo querido, que viajaste tantas canções comigo”.

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Bem, chegando ao gabinete fui trabalhar com o Dr. Paulo Souza, procurador de Sumaré, que veio para Campinas abrigar-se da perseguição que sofria do então prefeito de Sumaré Paulino Carrara. Ele chegou pelas mãos do Adail Rollo – presidente do Mario Gatti e que havia sido candidato a prefeito naquela cidade -, aprendi muito com o doutro Paulo. Eu revisava projetos de lei, redigia decretos, acompanhava processos administrativos e fazia uma interlocução com alguns vereadores sobre os projetos. 

Cheguei ao gabinete num momento de enorme estresse político: o vice-prefeito havia rompido com o Jacó, o Diretório Municipal e Jacó se engalfinhavam numa luta sem tréguas. Pensei muitas vezes: “o que estou fazendo aqui?”, mas acabei vivendo, vendo e ouvindo muita coisa que aconteceu de meados de 1990 em diante.

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É importante lembrar que tudo era novo para todos, a constituição de 1988 instituiu um novo Brasil, seguiu-se a ela a constituição estadual em 1989 e a lei orgânica do município em 1990, havia muito debate em razão das ‘novidades’ trazidas pela jovem democracia reconquistada em 1985, tudo era debatido com paixão.

Bem, no primeiro ano da administração ocorreram eleições presidenciais e Lula foi candidato. Um dos ataques que se fazia a Lula era dizer que faltava competência e experiência ao PT. Jacó se preocupava com isso e dizia que em todas as prefeituras petistas, eleitas em 1982 e 1988, havia muito trabalho, empenho e competência, maior ou menor em algumas áreas, mas incompetência não.

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Já escrevi sobre as realizações da administração de 1989 a 1992, acertos e erros, mas não é esse o assunto hoje; vou compartilhar a minha opinião sobre o que aconteceu entre Jacó e parte do diretório municipal que levou à desfiliação de um petista histórico e fundador do partido.

Eu penso que o PT, Jacó e a cidade foram vítimas de uma disputa pelo controle da burocracia partidária em Campinas. Foram usadas e amplificadas as acusações do vice-prefeito e do ex-secretário municipal de finanças contra Jacó. 

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Além disso, o diretório queria que a prefeitura fosse uma trincheira ideológica de oposição ao Collor e a Quercia, mas Jacó, tinha consciência que o trabalho do executivo era atender toda a cidade e que o debate ideológico deveria ser feito no parlamento municipal estadual e no congresso nacional e não pelo executivo, a quem caberia implantar políticas públicas que nasceram desse debate com a sociedade. 

Parte do diretório, de forma infantil, passou a fazer oposição ao governo e Jacó passou a ser chamado de corrupto, dentre outras coisas impublicáveis, ou seja, a desqualificação e destruição de reputação de forma pública não é exatamente uma novidade. 

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Não estou aqui dizendo que há santos e anjos na “vida real”, mas Jacó deixou o PT, inúmeros petistas deixaram o partido e há uma ferida aberta até hoje.

Jacó estava à frente do seu tempo. Ele era capaz de fazer pronunciamentos duros contra a política econômica do Collor, como fez, mas isso não o impedia de conversar com os ministros e trazer verbas para a cidade, tanto que trouxe verbas federais e estaduais. Isso possibilitou a urbanização da Norte Sul (obra inaugurada pelo Prefeito Orsi, que quando era vereador votou contra o projeto que autorizava o empréstimo junto a CEF). 

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Jacó foi acusado de ‘apoio velado a Fleury’, candidato do PMDB ao governo, porque subiu no palanque com o Quércia dias antes do 2º turno que elegeu o Fleury. Jacó dizia que quando um governador ou o presidente visita uma cidade para inaugurar qualquer coisa, o prefeito tem o dever que subir no palanque para ocupar o espaço a que a cidade tem direito. Eu me lembro ainda da visita do Collor a Campinas. Jacó foi recebê-lo em Viracopos – um dia conto algumas coisas pitorescas, divertidas mesmo, do “antes e do durante”.Durante a visita Collor pediu para que Jacó falasse com Meneghelli para que se sentasse à mesa de negociação; eu ouvi o Jacó dizer ao Collor: “não concordo com sua proposta”, mas ele atendeu à solicitação do presidente da República, tanto é verdade que na TV ele disse que pensaria muito antes de se sentar à mesa com o governo e com os empresários.

Jacó dizia que os agentes públicos no executivo não deveriam tolerar ataques à democracia, nem esquecer do passado, do autoritarismo, da repressão e das torturas, mas também não deveriam praticar a política do revanchismo barato – oposição sistemática (a que ele sofreu do PSDB em Campinas enquanto foi prefeito) e que Lula sofreu na campanha de 1989.

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Essas são as histórias e reflexões que compartilho hoje. 

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