Confesso que saí
"Sim, senhoras e senhores, na bela e aprazível Porto Alegre, onde o direito de ir e vir, além de outras liberdades democráticas sempre foi defendido com unhas e dentes por bravos gaúchos de outrora agora é crime pessoas com mais de 60 anos saírem à rua!", critica o jornalista Alex Solnik
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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia
A foto da página 6 da “Folha de S.Paulo” de hoje contraria todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde e corre o risco de contaminar até quem a vê: mais de 30 pessoas, algumas de máscara, outras sem, sentadas a menos de 2 metros umas das outras, quase batendo ombros, participam de reunião comandada por Bolsonaro no Palácio do Planalto, o epicentro do coronavírus no Brasil.
Em outro caderno da mesma edição, a foto que ocupa quase metade da página B3 mostra uma senhora de cabelos brancos, vestindo bermuda e blusa, sendo abordada por dois policiais militares numa ensolarada praça de Porto Alegre.
Antes da chegada dos guardas ela estava sozinha, passeando seu cão, ao que tudo indica. Não havia ninguém a menos de dois metros dela. A praça parece deserta. Por que então foi abordada por policiais?
Porque cometeu o crime de sair à rua.
Sim, senhoras e senhores, na bela e aprazível Porto Alegre, onde o direito de ir e vir, além de outras liberdades democráticas sempre foi defendido com unhas e dentes por bravos gaúchos de outrora agora é crime pessoas com mais de 60 anos saírem à rua!
Os guardas estavam lá para comunicar, gentilmente, à senhora que saiu para passear o cão que deveria voltar imediatamente para casa se não quisesse ser multada em até R$429,00!
É inacreditável! O que a OMS recomenda é evitar aglomerações, não uma pessoa sozinha passear e tomar sol no parque! As pessoas idosas precisam andar e tomar sol. Médicos recomendam. Até presos têm direito a banho de sol.
Além de estarem sujeitos ao vírus, ao desemprego (seu ou de familiares) ainda ficam sujeitos a pagar multa por andar na rua! Qual é o fundamento disso? O prefeito determinou e pronto?
Espero que esse mau exemplo não seja adotado em São Paulo, mas temo que será, a julgar pelo que ouvi na coletiva de ontem do governador João Dória.
A repórter da TV Cultura da qual não me lembro o nome afirmou estar vendo “muitos velhinhos batendo perna por aí” e perguntou se o governador não faria nada para coibir esse abuso! Falou assim mesmo, o que me deixou na dúvida se ela queria proteger ou estigmatizar “os velhinhos”.
Apesar de fazer parte da turma dos mais de 60, Doria deu razão à jovem repórter, os velhinhos não podem bater perna por aí, não.
Já estou vendo o dia em que terei que sair à rua clandestinamente, com cabelos pintados de preto e rosto sem rugas, graças a uma plástica rejuvenescedora para parecer um Peter Pan, à noite, é claro, apenas para tomar um banho de lua.
Também não esquecerei de escrever um livro de memórias relatando minhas escapulidas chamado “Confesso que saí”.
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