Conciliação, alianças amplas e reformismo moderado

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1) Está absolutamente correto dizer que a ofensiva sobre o ex-presidente Lula e as imagens do depoimento do ex-ministro José Dirceu na Operação Lava-Jato, assim como a situação dele, tem razão na estratégia de conciliação, de alianças amplas e reformismo moderado.

2) O que, na prática, significa atrair setores empresariais e firmar parcerias com o centro político interessados num projeto que combine estabilidade monetária, crescimento econômico e distribuição de renda, promovendo direitos, serviços e políticas públicas, é a causa do noticiário político de 29/01 de 2016.

3) No #LulaEuConfio porque patrocinou um projeto com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), decisivo para gerar 20 milhões de empregos, tal como o Bola-Família, que ejetou 64 milhões de brasileiros da fome e pobreza extrema. Com a Política de Valorização do Salário Mínimo, eles puderam comprar carro, geladeira, fogão, máquina de lavar, televisão e viajar de avião. Os filhos de pedreiro puderam sonhar em ser engenheiros. Com ele, o Brasil passou de devedor a credor do FMI, saindo do Mapa da Fome da ONU. Comendo churrasco com Bush (sem medo de destoar dele para condenar a Guerra do Iraque), escutando "He is the man" de Barack Obama, impulsionando o fortalecimento do Mercosul, Unasul e CELAC, semeando os BRICS, o País conquistou a sede da Copa 2014 e das Olimpíadas de 2016, ao mesmo tempo que descobria petróleo na camada do pré-sal.

4) Para que isso acontecesse, o PT precisou encarar o fato de que as alianças políticas e sociais a que se circunscreveu em 1989, 1994 e 1998 não tinham dado conta do tamanho social e ideológico e importância geopolítica do Brasil e, ao mudá-la, conseguiu transitar de um partido-movimento de sindicalistas, ativistas pelos direitos humanos e democratas de esquerda para ser uma alternativa real de poder, capaz de disputar, vencer eleições e governar em democracia, de onde saíram muitos prêmios Prefeito Criança (comemorados por tantos prefeitos revolucionários) e propostas factíveis para a credibilidade popular, na lógica de inversão de prioridades com participação social.

5) José Dirceu, em 2012, disse que era mais importante ganhar eleições do que um julgamento. Lula teve um industrial de vice e, por muito tempo, foi muito bem visto em Wall Street e chegou a cogitar ser colunista do New York Times. José Dirceu, após sair do governo, levou grandes empresas de "know how" nacional para atuar no exterior. Lula, idem.

6) Nunca tive dúvidas de que José Dirceu estivesse sendo trucidado justamente porque trouxe o PT à conciliação, alianças amplas e reformismo moderado (e por aquela foto em que doma o touro de Wall Street). Como assim querer aceitar as regras do jogo democrático (ainda que se queira melhorá-lo) e se preparar para vencer eleições e governar?

7) Lula é alvo do desespero de seus algozes porque eles perceberam que, com o Impeachment arrefecendo e o cenário econômico em vias de ter a melhora mínima para repor a esperança, o PT não sofreria a fragorosa derrota nas eleições municipais deste ano e, pior do que isso, o retrato do velhinho poderia ser recolocado nas paredes das moradias do Minha Casa Minha Vida em 2018.

8) Em suma, se não fosse a estratégia de conciliação, alianças amplas e reformismo moderado a vida seria mais fácil. Pequeno, "idealista", "puro", o PT seria tratado com destaque na grande imprensa de oposição por suas ideias e quadros. Afinal, não haveria bipartidarismo de conteúdo verdadeiramente oposto por aqui.

9) Só que o tradicional pacto entre as elites foi forçado a ceder para um pacto nacional, com representação dos trabalhadores e dos mais pobres, das minorias (e maiorias) oprimidas conscientes de seus direitos a serem positivados e dos empresários e políticos que seguem num projeto com estabilidade monetária, crescimento econômico e distribuição de renda, promovendo direitos, serviços e políticas públicas.

10) Esta crise política da qual a Lava-Jato é causa e efeito é o sinal de que é preciso atualizar este pacto. Aliás, o mundo todo está neste caminho, assim como foi o contrato social em torno do keynesianismo e liberalismo político no pós-II Gerra Mundial, vide as eleições nos EUA, a situação da Espanha, Portugal, Grécia, Inglaterra ou Argentina, opondo conservadores e progressistas com risco da ascensão de uma extrema-direita como resultante, assim como nos anos 1920/1930. Por isso, é imprescindível unir os progressistas do mundo, mas isso é outra história.

11) Talvez um dos elementos dele em território nacional seja a realização de reformas. Reformas pactuadas, com liderança deste campo social e político que governa, para manter a capacidade do Estado de seguir combinando estabilidade monetária, crescimento econômico e distribuição de renda, promovendo direitos, serviços e políticas públicas. Ou seja, precisamos de mais estratégia de conciliação, de alianças amplas e reformismo moderado, agora à luz do V Congresso do PT: ir das caixinhas ao sistema de planejamento democrático, com uma frente social nos locais de trabalho, estudo e moradia, transitando das políticas públicas à reformas de base.

12) Para não permitir que a estratégia de conciliação, de alianças amplas e reformismo moderado siga governando e preservando o espaço progressista de fato na sociedade é que os sirenes dobram.

13) Neste contexto, são interessantes três aprendizados.

- República se baseia também na ideia de uma pessoa, um voto. E, para votar, há que se ter preferências políticas, que se desdobram de uma ideologia sobre o mundo. Portanto, é natural que haja direita e extrema-direita no serviço público. O problema é não combater que haja condução política e ideológica de uma Operação. Este pode ser um erro anti-republicano decisivo.

- A democracia exige tranquilidade ao se identificar que há pobres, trabalhadores e empresários, tal como políticos, que, em geral no mundo, se alinham em dois grandes blocos opostos e a resolução deste conflito se dá mediante a possibilidade de alternância de poder.

- A política não tem como resultante essencial o apocalipse. Não é por não fazer isto ou aquilo que as democracias, também regra geral no planeta, deixam de ser polarizadas por projetos contraditórios. Salvo não haver algo como em 1964, o PT seguirá não só existindo como sendo o pólo alternativo ou oficial, assim como os Democratas, o Labour Party, o socialismo francês, chileno, espanhol ou português; como o peronismo argentino (que foi agredido por uma ditadura, mas não se descontinuou pelo advento de um novo grande partido progressista, como o PTB foi vitimado). Com momentos de fluxo e refluxo.

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