Concentrado de Macbeth

O Macbeth de Joel Coen é para ser visto como uma variação em tom menor e concentração maior. Mas, ainda assim, um prazer para os olhos e os ouvidos

A Tragédia de Macbeth
A Tragédia de Macbeth (Foto: Divulgação)


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A meio caminho entre o teatro e o cinema, A Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth) é um espetáculo notável, mesmo se não traz nenhuma grande novidade como versão fílmica da peça de Shakespeare. Mesmo a presença de atores negros já tinha sido pioneiramente adotada em 1936 pelo "Voodoo  Macbeth" de Orson Welles, com elenco inteiramente black da companhia Negro Theatre Unit de Nova York.

Aqui temos Macbeth (Denzel Washington), Macduff (Corey Hawkins) e sua família, além de dois ou três súditos de algum destaque vividos por atores pretos. A cor da pele, porém, em nada interfere na caracterização dos personagens, que falam estritamente o texto de Shakespeare. A ausência do acento britânico parece trazer as falas para mais perto do nosso tempo – e Denzel aproveita bem isso para fazer as palavras fluírem de sua boca maceradas como de costume. 

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Frances McDormand (esposa do diretor Joel Coen) como Lady Macbeth põe em cena sua persona anfíbia, que tanto pode encarnar um anjo quanto uma serpente. Mas há quem ache que não houve química entre ela e Denzel, o que prejudicaria sua parceria sangrenta na morte do rei Duncan e em todos os crimes que se seguem. Pode ser, mas ela também está muito bem.

Não vou entrar aqui em considerações sobre a peça, mas quero destacar algumas opções interessantes de representação. As bruxas condensadas em uma só, tendo as outras duas como reflexos ou meros espectros, é uma solução criativa. Assim também o figurino e a postura do nobre Ross (Alex Hassell), que o assemelham a um pássaro cujas asas (abaixadas) pendem ora para o lado de Macbeth, ora contra ele. Os pássaros, aliás, são referências constantes aos maus agouros, à culpa e à loucura. 

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Uma extrema concentração de recursos adveio da filmagem integralmente em estúdio, em preto e branco, utilizando uma cenografia desnuda e geométrica. O vazio cenográfico amplia a evidência do texto e estiliza a cena admiravelmente. Por vezes tive a sensação de estar vendo estruturas arquitetônicas pós-modernas filmadas pelos fotógrafos de Cidadão Kane ou dos filmes de Carl Dreyer.
No aspecto cênico, minha única decepção foi com o avanço da floresta de Birnam, ataque final ao bastião de Macbeth. O apertado corredor de folhagens concebido ficou muito longe do efeito sugerido por Shakespeare. De maneira geral, o Macbeth de Joel Coen é para ser visto como uma variação em tom menor e concentração maior. Sem muito som, nem muita fúria, mas, ainda assim, um prazer para os olhos e os ouvidos.
>> A Tragédia de Macbeth está na AppleTV+

O trailer:

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https://www.youtube.com/watch?v=0exRGGBDKoM

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