Compra de petróleo pela China bate recorde. O que isso quer dizer?
"A China como maior importadora do mundo de petróleo, pode estar repetindo com essa commodity, o que há alguns anos passou a fazer com o minério de ferro, em que ela consome mais da metade de tudo que é produzido no mundo", diz o colunista Roberto Moraes. Conflitos com os EUA "podem vir a exigir reservas estratégicas maiores de energia", avalia
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As importações chinesas de petróleo bateram todos os recordes nos últimos dois meses. Fato que contribuiu para o aumento da demanda global e para a recuperação, em parte, do preço do barril no mercado internacional. Há cerca de uma década, a China se tornou o maior importador mundial de petróleo, sendo os EUA, o maior consumidor global.
Em abril passado, a demanda global chegou a cair próximo de 20 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), por decorrência, o preço chegou a ficar negativo, por excesso de produção e limitada capacidade de estoque nos reservatórios, em sua maior parte instalados junto aos terminais portuários. Ontem (22/07) o barril de petróleo tipo brent alcançou US$ 44.
Os volumes de importação de petróleo chinesas foram colossais. Em maio a importação da China chegou a 11,34 milhões de barris por dia (bpd) de petróleo bruto. Em junho avançou para 12,9 milhões de bpd, mais de quatro vezes toda a produção (só de petróleo) do Brasil.
A China nem todo o 1º semestre de 2020, a despeito da redução das atividades econômicas e da consequente demanda de petróleo no mundo, aumentou em 10% suas importações de petróleo, em relação a 2019, ficando na média do semestre, num volume de 10,95 milhões de bpd.
Como a demanda por petróleo e derivados se reduziu em todo o mundo neste 1º semestre, esses recordes de importação precisam ser explicados. Há pistas. Evidentes que essas razões não exclusivas e nem conclusivas, porque em se tratando de geopolítica energia e seus interesses estratégicos econômicos e especulativos, nada se situa no nível das certezas. Há sim, muitas hipóteses, com as quais se dialoga em busca da realidade.
Segundo a colunista do site Oil Price, Tsvetana Paraskova, as refinarias chinesas, gigantes estatais e independentes, na província de Shandong, se aproveitaram do petróleo barato em abril para entrega em maio, junho e julho, para estocar grandes volumes. Fazendo com que as importações chinesas de petróleo batessem esses extraordinários recordes.
Clyde Russell, colunista da Reuters, por outro lado, afirma que a China acumulou petróleo a uma taxa de 1,88 milhão de bpd entre janeiro e maio, um aumento de cerca de 670.000 bpd em relação ao mesmo período do ano anterior de 2019, quando o volume era estimado em 1,21 milhão de bpd. Em junho, essa taxa pode ter chegado a 2,77 milhões de bpd.
Esse aumento dos volumes atuais de estoques de petróleo cru da China, sugere que ela tenha sido bem ampliada. Tanto em termos de reservatórios (tanques), quanto de estoques em cavernas submarinas. A China não informa os seus níveis de estoque nem em termos de armazenamento comercial, nem quanto as suas reservas estratégicas, ainda mais diante do atual e crescente conflito com os EUA.
Paraskova também afirma que as refinarias chinesas também processaram em junho, uma quantidade recorde de 14,08 milhões de bpd de petróleo bruto (bem próximo do seu limite em torno de 15 milhões de bpd), o que pode também sugerir grandes estoques de derivados e combustíveis, até porque as exportações chinesas se reduziram em 29%, em junho de 2020, quando comparado ao mesmo período de 2019.
A China tem o 2º maior parque de refino do mundo, refletindo o fato de ser o maior importador de óleo cru e segundo maior consumidor mundial. Os EUA tem o maior parque de refino do mundo com capacidade para processar 18,5 milhões de bpd.
Voltando às hipóteses do recorde de compra de petróleo pela China nos últimos meses, mais uma última hipótese deveria ser investigada. A China como maior importadora do mundo de petróleo, pode estar repetindo com essa commodity, o que há alguns anos passou a fazer com o minério de ferro, em que ela consome mais da metade de tudo que é produzido no mundo.
A grande capacidade de armazenagem de minério junto aos seus portos, permitiu à China com uma economia planejada, atuar como regulador de preços, imputando uma sazonalidade, tal o seu volume de negócios deste mineral. Uma sazonalidade tipo aberta, ou variável no tempo, conforme os preços internacionais, suas estratégias e o seu consumo interno país, para sustentar o crescimento da produção de aço internamente e para exportações.
Quando a China começa a comprar mais minério de ferro, os preços vão subindo, quase na mesmas proporções dos seus aumentos de estoques. Quando fecha a torneira (mesmo parcialmente das compras) o preço cai, porque os 50% restante da demanda mundial é bem pulverizada, apesar do setor siderúrgico - que gera demanda de minério de ferro - ser bastante oligopolizado e concentrado em alguns países.
É possível, que a China esteja aproveitando essa fase de colapso de preços do ciclo petro-econômico, com pequenas oscilações desde 2015, para avançar nessa mesma estratégia de aumentar bastante sua capacidade de estoque.
Um outro motivo, a cada dia mais real, é em relação às precauções da ampliação dos conflitos com os EUA. Eles podem vir a exigir reservas estratégicas maiores de energia (e petróleo é a melhor para ser estocada), considerando inclusive, a sua condição de maior importador mundial.
Portanto, a China é hoje, bastante dependente em termos de energia das compras de outros países, que podem também vir a ser pressionados a reduzirem, ou mesmo cortarem as vendas de petróleo aos chineses, por um esquema de bloqueio comercial, prática cada vez mais comum da atuação geopolítica dos EUA em várias regiões do mundo.
Há sinais, que a mesma preocupação norteiam setor de alimentos, tendo em vista a segurança alimentar de sua enorme população e o grande volume de compras de soja, carne e outros de produtores externos, incluindo os EUA.
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