Como teria dito João Gilberto

A visita de João Gilberto aos novos baianos
A visita de João Gilberto aos novos baianos (Foto: Reprodução)


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Na estrada, seguindo no sentido sertão-praia, conversamos sobre A visita de João Gilberto aos Novos Baianos, livro de Sérgio Rodrigues. Estrada esburacada, trechos em obras e uma poeira dos infernos. E se há alguma coisa que salva esse tipo de viagem é o bom papo estabelecido e cultuado entre motorista e carona, com o auxílio luxuoso de uma boa playlist. Durante um percurso que dura três horas, costumamos ouvir de tudo, numa seleção musical que vai de Gretchen a Rolling Stones, passando por Miles Davis, Maysa e, claro, os Novos Baianos. Seguimos.À frente, uma placa indica que estamos no limite entre os municípios de Ocara e Aracoiaba, o que me faz lembrar o livro O Mel de Ocara: ler, viajar, comer, de Ignácio de Loyola Brandão, assim como da “festa das almas”, que acontece sempre do dia 1º para o dia 2 de novembro, quando o sagrado e o profano se encontram nas noites de Ocara. Enquanto corríamos (respeitando os limites de velocidades, claro), assim Moraes Moreira vinha nos chamar, enquanto corria o carro. E é assim que no toca fitas do carro, digo, no streaming, a beleza singular da voz do baiano invade o carro do colega Jobson Queiroz, dizendo: “Quem nasce no morro/não morre no asfalto/Lá vem o Brasil descendo a ladeira/Na bola, no samba, na sola, no salto/Lá vem o Brasil descendo a ladeira”.

Diz-se que a frase “Lá vem o Brasil descendo a ladeira” teria sido dita por João Gilberto, quando numa madrugada acompanhado de Moraes, teria visto uma mulher descendo a ladeira com uma lata na cabeça, mas sem descuidar do suingue ao caminhar. Seja qual for sua origem, é daquelas canções que impede que qualquer ser vivo permaneça inerte enquanto a escuta. A representação do país como uma passista que evolui do alto de uma ladeira até tomar a avenida é uma das composições mais belas da MPB. Ao ouvir os versos “e toda a cidade que andava quieta/Naquela madrugada acordou mais cedo/Arriscando um verso, gritou o poeta/Respondeu o povo num samba sem medo”, percebemos o quanto eles se amoldam à atual realidade brasileira, pois nos lembram de quando o país esteve quieto, amedrontado e refém do ódio.  

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É importante, no entanto, não confundir o sentido de “descendo a ladeira” da canção de Moraes, com a expressão “rolando ladeira abaixo”, pois enquanto o primeiro é positivo, o segundo é negativo. Se no primeiro caso (seu sentido não é negativo!), temos uma mulher do povo como representação simbólica do país, com suas lutas, particularidades e seus contrastes indo à luta, no segundo o que se tem é a derrocada e o fracasso. Assim, enquanto o Brasil em pleno movimento, com tanta cadência desce a ladeira, muitos daqueles que atentaram contra sua democracia rolam ladeira abaixo, agora investigados, cassados ou presos. Entre tantos, lembramos DD, figura abjeta, que um dia se arvorou paladino da justiça, na luta contra a corrupção no Brasil. O problema é que, como diz aquele ministro do STF: “esses combatentes da corrupção gostam de dinheiro”. E quem imaginaria que a operação conduzida por tais combatentes teria em si os “germes do fascismo”? 

Ao contrário do Brasil, DD caiu e rolou ladeira abaixo, voltando para o nada de onde nunca deveria ter saído. Como garoto branco, rico e mimado que sempre foi, DD continua dando piti e culpando o mundo, Lula e o PT por todos os seus malfeitos. DD nasceu e “morreu” no asfalto, mas mesmo “morto” ainda precisa ser investigado e preso. Enquanto ele e seus asseclas esperneiam, lá vai o Brasil descendo a ladeira. E nem adianta a extrema direita culpar, atacar e vaiar o governo Lula, pois vaia de extremista não vale.

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