Como seres vivos, os impérios também morrem

Brigam republicanos e democratas, um mais neofascista outro mais neoliberal, ambos servindo, com métodos pouco diferentes, o mesmo interesse: dominar o mundo

(Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)


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Embora Marx tenha dito corretamente que a história do mundo é a história da luta de classes, é também correto dizer, noutro sentido, que a história do mundo é a história da sucessão de impérios. Ora, os impérios são seres vivos, e como tais, nascem, crescem, amadurecem e fenecem. Nada é imortal, nada é infinito, a não ser como no poema de Vinicius de Moraes “infinito enquanto dure”.

Quem se lembra hoje que um paisinho pequeno, perdido nos confins das estepes asiáticas já dominou grande parte do mundo? Ao falar de poder, no século XXI, alguém se lembra da Mongólia de Gesgis Kan (séculos XII e XIII) com sua cavalaria ligeira e seus arcos recurvos como invencível potência de guerra? Quem se lembra que os mongóis venceram a Grande Muralha da China, ocuparam o maior império de então, o “Império do Meio” e depois partiram para o oeste, ocupando partes importantes da Ásia e da Europa?

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E mesmo antes deles, quantos não foram os grandes impérios persas, com Ciro, Dario, Xerxes? Mais tarde o macedônico iniciado com Felipe e cuja grande expansão se deu com o filho Alexandre, o Grande, que da Europa conquistou grande parte Oriente Médio, da África e da Ásia, sucedido pelo Império Romano? E o Império Otomano que em 1453 conquistou Constantinopla, Grécia, grande parte do Oriente Médio, pondo fim ao que restava do Império Romano?

No mundo moderno pós Idade Média os grandes impérios espanhol e português, tento sido este o mais extenso até então em terras descontínuas, alcançando pela primeira vez na história todos os continentes? Da Europa colonizou grande parte da América, montou inúmeras colônias na África, fincou pés firmas na Ásia, especialmente da Índia e na China e alcançou a Oceania onde colonizou o Timor Leste.

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Depois veio o Império Inglês sob o qual o sol nunca se punha, pois estava nos quatro cantos da terra, e teve grande durabilidade. Seus resquícios ainda são notados hoje pela comunidade britânica de nações (os súditos da rainha ou do rei) e pequenas colônias ainda mantidas na América (como as Ilhas Malvinas) e noutros cantos, mas hoje mero capacho do império dominante. Na Europa outros impérios tiveram grande importância, como o francês no século XIX e menores como o austríaco e/ou austro-húngaro, destruído pós I Guerra Mundial. Lembremos que a Áustria chegou a ter influência extra continental: no século XIX, o imperador D. José mandou seu irmão mais novo, para ser Maximiliano I, segundo imperador do México, executado em 1867 pelos guerrilheiros patriotas mexicanos.

Então vieram as duas tentativas alemãs de expandir-se e formar grande império, causando a I e a II Guerra Mundial. Esta mudou a face da Europa (que se considerava o “centro” do mundo) e quem emergiu como os maiores lucros da guerra formam os EEUU, que lutou na terra dos outros, perdeu muitos filhos, mas nunca teve seu território continental ameaçado. O único ataque surpresa aconteceu conta a base aeronaval de Pearl Harbor (1941), na colônia asiática do Havaí, quase arrasada pelos japoneses, forçando-os a entrar na guerra. Não foi o que mais lutou, estes foram os soviéticos, os que venceram no campo de batalha, mas tiveram sua terra arrasada e perderam 20 milhões de vidas!

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Assim o império dos EEUU que teve sua origem mais antiga, pois já se expandia desde a conquista de parte do território mexicano, a compra do Alasca etc, se consolidou no pós guerra vindo a se constituir indiscutivelmente na mais poderosa potência do mundo. Afinal possui um grande território, uma economia preservada e preparada para a guerra, sendo então o único país detentor da bomba atômica, artefato que usou para destruir as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Assim nasceu, cresceu e se consolidou como potência hegemônica no mundo. Na Europa com os pés bem fincados, criou a OTAN para multiplicar seu poderio militar, reforçar seus interesses expansivos e conduzir a guerra fria e quente contra o nascente bloco socialista do leste europeu liderado pela União Soviética. Na Ásia, do domínio militar do Japão foi fácil ampliar seu poderio e implantar extensa rede de bases militares. Na América, bem na América desde a doutrina Monroe no século XIX, já estipulava “A América para os americanos”. Apenas não explicitava a doutrina que a intensão era ser toda a América para os EEUU... Restava treinar os marines para invadir países e a CIA para derrubar governos “hostis”. E assim tem reinado, considerando-se donos do mundo. Travou dezenas de guerras na Ásia, Oriente Médio, África e América Latina. Para o império do norte a guerra passou a ser necessidade vital, pois são elas que alimentam o complexo industrial-militar, base fundamental da economia estadunidense. 

Hoje, visto historicamente, o império dos EEUU ainda não completou um século, e já encontramos muitos sinais de que após seu amadurecimento e da plenitude do seu domínio, começa a fenecer. Seu domínio, para o futuro, é uma quimera.

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Primeiro as contradições internas da sociedade estadunidense. Milhões de pessoas, negros, latinos, membros dos povos originários, nativos diversos – sofrem cada vez mais com a pobreza, o desemprego a falta de saúde pública, de habitação, de meios de subsistência. Cidades outrora poderosas como Detroit, centro da indústria automobilística, chegou a decretar falência por ter se transformado num cemitério de fábricas. É quadro típico do desenvolvimento capitalista. Na fronteira terrestre do México pretende construir extenso muro para impedir a entrada de imigrantes, os quais são tratados como bandidos, aprisionados, deportados, quando não morrem de tiro ou dentro de caminhões baús nos quais foram transportados pelos “coiotes”. O “sonho americano” vai se transformando cada vez mais num pesadelo.

Brigam republicanos e democratas, um mais neofascista outro mais neoliberal, ambos servindo, com métodos pouco diferentes, o mesmo interesse: dominar o mundo, submeter o mundo, fazer com que o mundo os obedeça. Enquanto isso a situação interna se deteriora. Até quando o povo dos EEUU suportará?

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A velha Europa que durante muitos séculos se considerou o centro do mundo (daí o “euro-centrismo”), hoje é uma mera serviçal da grande potência do norte. Desde a economicamente poderosa Alemanha, à tradicional Grã-Bretanha, à rebelde França, e todos os demais servem aos interesses econômicos e geopolíticos dos EEUU. Restava a Escandinávia que manteve certa neutralidade durante muitas décadas, agora querem reforçar o carro de guerra da OTAN. 

Ora, a OTAN foi constituída formalmente para se contrapor ao Pacto de Varsóvia (o Pacto de autodefesa dos países socialistas do leste europeu). Vencida a disputa, liquidado o Pacto de Varsóvia e a própria União Soviética, a OTAN perdeu seu sentido, deveria ter sido igualmente dissolvia. Porém foi mantida para alimentar o carro de guerra dos EEUU, sua pretensão de domínio completo do mundo. E serviu muitas vezes para massacrar povos europeus, como foi o genocídio promovido pela OTAN conta a Sérvia que sofreu quase 90 dias de bombardeio (dia 24 de março fez 24 anos de seu início). Hoje, trava a guerra contra a Rússia usando os ucranianos como bucha de canhão, e atendem às determinações dos EEUU de boicotarem a economia russa, numa atitude criminosa, unilateral e sem resultado efetivo, mas que se volta principalmente contra seus próprios povos, privados de energia farta e barata que vinha dos russos. 

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Estas contradições, quando vão estourar, fazendo com que os países europeus voltem a ser nações independentes, autônomas, e não meros serviçais dos EEUU? Não é assunto para futuro distante. Os povos europeus começam a tomar consciência desta realidade.

A aspiração dos povos, nos quatro cantos do mundo, por sua independência, autonomia plena, liberdade, é cada vez maior. Isso acontece em quase toda a Ásia, África e América Latina. A África, último continente a libertar-se plenamente do colonialismo, viveu ainda por muitas décadas sob o domínio do neocolonialismo e do neoliberalismo. Mas duns tempos a esta parte começou a retomar sua consciência de povos milenares, com direito a liberdade plena e a estão construindo.

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Da mesma forma a América Latina. Embora o império do norte ainda promova golpes se não mais no velho estilo militar mas nas novas formas das “guerras hibridas”, e mantenha politicas belicistas contra vários países, seu domínio é cada vez menor. Contra Cuba fracassou com a tentativa militar de invasão (Baia dos Porcos), mas mantêm a base militar de Guantánamo e o cerco econômico genocida contra a ilha heroica, assim como faz com as tentativas de subordinar a Venezuela, a Nicarágua, Honduras, submete o Panamá, provoca o México, mantêm bases militares em vários países. O último golpe que promoveram na Bolívia dada suas riquezas minerais, foi derrotado pelo povo que agora fez justiça contra os serviçais estadunidenses. Mas a maioria dos governos, principalmente dos grandes países latinos da América, estão hoje em mãos de seus povos que querem liberdade, como no México, Venezuela, Colômbia, Brasil, Argentina e outros.

Finalmente, entre as principais causas a demonstrar o início do fenecimento do império do norte, está a multipolaridade do mundo!

O mundo hoje não é mais unipolar, onde apenas uma grande potência dominante em todos os aspectos determina o que todos devem fazer e pune os seus desafetos! O mundo hoje é multipolar, queira ou não o império do norte. Ora, o mundo era unipolar quando o império EEUU era o mais forte em todos os sentido: a maior economia, a força nuclear e militar mais potente, o que goza de maior prestígio e domina a ONU, o que é exemplo econômico, social, ambiental e político para todos os povos. Assim, a voz dos EEUU valia mais que a de qualquer outro país ou bloco, fosse ele europeu ou qualquer outro. A grande maioria dos países situados na Ásia, África e América Latina, nunca foram considerados no mundo moderno. Mas as coisas têm mudado. Alguns destes países alçaram importantes posições. O Brasil chegou a ser a 7ª economia do mundo. É bem verdade que por ação do império e seus agentes internos caiu bastante. Mas não pode voltar a sê-lo? A Índia vai se transformando numa importante potência industrial. Países como o Irã, a Indonésia, a África do Sul não podem ser ignorados. E os blocos que vêm se formando? A unidade latino-americana; a unidade dos africanos; da Ásia, os Brics... tudo é novo e muda a geopolítica mundial.

A economia chinesa, hoje a segunda maior do mundo, já ultrapassou a estadunidense em muitos aspectos, especialmente no desenvolvimento tecnológico, na tecnologia de ponta. Suplantar os EEUU em todos os aspectos, é questão de poucos anos. Com a grande diferença que os chineses não aplicam uma política neocolonialista como fazem os EEUU. Daí encontrarem mais facilidade nas relações com os países da Ásia, África e América Latina.

E no que diz respeito às armas? Os analistas de hoje, classificam a Rússia como a maior potência nuclear seguida muito de perto pelos EEUU. Estes ainda são os maiores produtores de armas em geral, chegando-se a avaliar seu potencial em 47% das armas produzidas no mundo, e possuem centenas de bases aéreas e navais em todos os continentes, nos quatro cantos do globo, pois ainda se consideram seus donos. Mas seu domínio vai diminuindo, se restringindo a cada dia. Em potência militar segue-se a China, com um poderio nuclear não desprezível e o maior exército do mundo. Armas nucleares são hoje possuídas por nove países, embora alguns ainda fracos, mas nem todos são serviçais do império do norte.

Por fim a aliança da China com a Rússia confirma a multipolaridade. Este é o único caminho verdadeiro para uma paz duradoura no mundo. Mas não devemos esquecer que uma fera ferida, sentindo o cheiro da morte, pode fazer misérias. Os povos precisam ficar vigilantes contra o império que começa a se esvair. No desespero, pode deflagrar uma guerra nuclear, o que será catastrófico para toda a humanidade. Lutemos pela paz!

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