Como entender a aterradora falta de consciência dos corruptos?

Como fica a consciência dos corruptos que roubam milhões dos cofres públicos ou os empresários que superfaturam por milhões de reais os projetos e pagam propinas milionárias para  agentes do Estado?

Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin
Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin (Foto: Leonardo Boff)


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Como fica a consciência dos corruptos que roubam milhões dos cofres públicos ou os empresários que superfaturam por milhões de reais os projetos e pagam propinas milionárias para  agentes do Estado? Pior ainda: como fica a consciência daqueles perversos que desviam centenas de milhões de reais da saúde? E aqueles desumanos que falsificam remédios e condenam à morte aqueles que deles precisam? Sem esquecer os desvergonhados que roubam da boca dos escolares a merenda, sabendo que para inúmeros pobres representa a única refeição do dia? Muitos desses corruptos são apenas denunciados. E fica por isso mesmo, rindo à toa. Não raro são cristãos e católicos que por seus crimes continuam mantendo Cristo na cruz nos corpos dos crucificados deste mundo.

Para entender esta maldade temos que considerar realisticamente a condição humana: ela é simultaneamente dia-bólica e sim-bólica, compassiva e perversa. No linguajar concreto de Santo Agostinho, em cada um de nós há uma porção de Cristo, o homem novo, e uma porção de Adão, o homem velho. Depende do projeto de nossa liberdade dar mais espaço a um ou a outro. Assim pode surgir uma pessoa honesta, justa, amante da verdade e do bem. E pode crescer também uma pessoa maldosa, corrupta e distante de tudo o que é bom e justo.

Mas não precisava ser assim. No mais profundo de nós mesmos, não obstante a ambiguidade referida, vige uma primeira natureza  que se expressa por uma bondade fontal, por uma tendência para o justo e o verdadeiro. Quanto mais penetrarmos na nossa radicalidade, mais nos damos conta de que essa é a nossa essência verdadeira, a nossa natureza primeira. Mas sem sabermos como e porquê, ocorreu algo em nosso processo antropogênico – desafio permanente para os pensadores religiosos e os  filósofos de todas as tradições – que fez com que a nossa natureza primeira decaísse e se pervertesse. Immanuel Kant constatava que somos um lenho torto do qual não se consegue tirar uma táboa reta.

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Criamos, em consequência, uma segunda natureza feita de maldades de todo tipo. Esta terminologia se encontra já em Santo Agostinho, em Santo Tomás de Aquino e posteriormente retomada por Pascal e por Hegel. Ela está presente em todas os povos e instituições e, num certo nível, em cada um de nós. Ela resulta da sequência continuada e uniforme de nossos maus hábitos, gerando uma verdeira cultura de distorções. É a cultura do negativo em nós. É o reino da corrupção que se naturalizou.

Personalizemos esta segunda natureza. Se alguém se habituou a mentir, a enganar a roubar, a corromper ativamene e a se deixar corromper passivamente, acaba criando em si esta segunda natureza. Rouba sem se dar conta de que esta sua prática é perversa e anti-ética porque prejudica os outros ou o bem comum. Pratica tudo isso sem culpa e sem remorsos, porque nele a corrupção virou natural, uma segunda natureza. Continuam caras-de-pau como se observa nos nossos corruptos que emagrecem, não pela má consciência que os corrói por dentro, mas pelas péssimas condições das prisões.

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Além deste dado da condition humaine decadente, o sociólogo Jessé Souza no livro  a sair A elite do atraso: da escravidão à Lava-Jato nos fornece um dado de nossaprópria história: a escravidão. Esta coisificava os escravos considerando-os “peças”, objeto de violência e de desprezo. ”Sua função era vender energia muscular, como animais”(J.Souza). Esse desprezo  foi transferido aos nordestinos, aos pobres em geral  e aos LGBT entre outros discriminados.

Nos tempos recentes, boa parte  dos endinheirados se sentiu ameaçada pela ascensão destes condenados da terra; começou a se irritar poque os via nos shoppingscenters e nos aeroportos;  para eles bastava o ônibus e jamais o avião. Aqui já não se trata de corrupção financeira, mas de corrupção das mentes e dos corações, tornando as pessoas desumanas.

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Finalmente, por uma mudança de rumo de nossa política ante os crimes de colarinho branco, os donos de grandes empresas e outros políticos que fizeram, em grande parte, suas fortunas pela corrupção, estão sentido o peso da justiça, o rigor das prisões e o escárneo publico. Estão atrás das grades, fato  é  inédito em nossa história.

O sofrimento sempre dá duras lições. Oxalá, pelos padecimentos, a primeira natureza, a consciência, venha à tona e se descubram reféns da segunda natureza decadente que eles mesmos criaram. Mudem de sentido de vida e devolvam o dinheiro roubado. E como teólogo digo: no momento supremo de suas vidas, enfrentarão, trêmulos, os rostos das vítimas que fizeram porcausa de suas corrupções e que morreram antes do tempo, na verdade, foram por eles assassinadas. As fortunas não os salvarão. E então como ficarão?

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