Como a flor que fura o asfalto, o nojo e o ódio



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Terminadas as eleições, o Brasil espera. E enquanto espera, acompanhamos as notícias que nos chegam a partir daquilo que tem sido encontrado pela equipe de transição do presidente eleito. A cada divulgação vai se comprovando o que sempre se soube a respeito das práticas nada republicanas do governo que sai, reconhecido por sua incompetência, disseminação de ódio, violência, desfaçatez, corrupção e desmonte da coisa pública. Enquanto escrevo, a voz de Luiz Gonzaga, como se diz no sertão, invade minhas oiças, vinda sabe-se lá de onde. Paro e escuto o mestre Lua cantar: “setembro passou/outubro e novembro/já tamo em dezembro/Meu Deus, que é de nós...”. Dou uma pausa, respiro fundo, abro a janela e quase grito quando um carro passa. Janeiro não tarda, penso aliviado.

De volta ao computador, releio as notícias. Para a surpresa de ninguém, não é que as tias e tios da mídia corporativa, todos aqueles e aquelas que ajudaram a eleger o nano presidente que agora sai, já voltam seus textos tacanhos para o presidente eleito. No caso, a preocupação “jornalística” não é com o “desaparecimento” do dinheiro da Saúde ou da Educação, muito menos o aparelhamento e destruição das Instituições, mas com o jatinho no qual o presidente eleito viajou ao Egito, quanto custou sua refeição em Portugal e o preço da blusa da futura primeira-dama. Curioso mesmo é que nada foi questionado acerca das farras milionários do atual presidente e sua primeira-dama, com a mesma ênfase que agora se vê em relação ao eleito.

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Como comprovação do que afirmamos, observe que Lula mal acabara de ser eleito e já pipocavam nos nossos jornais tsunamis de conselhos, todos eles vindos das figuras mais politicamente atrasadas da sociedade brasileira. Diziam (ainda insistem em dizer) coisas do tipo: “Lula deve fazer isso, não fazer aquilo, chamar fulano para ministro, ser menos isso, mais aquilo, e o teto de gastos, e o mercado” e blá blá blá blá blá. Toda essa ladainha do “sabemos o que ele tem que fazer”, pois somos brancos, ricos e “bem informados” nunca colou em Lula, que sabe muito bem o caminho das pedras, como comprovou em seus dois governos. E não foi pra ouvir e seguir essa patacoada retrógrada e escravocrata, que mais de 60 milhões de pessoas o elegeram pela terceira vez. Como o homem público que é, Lula não pode confirmar, mas podemos imaginá-lo no aconchego do seu lar, escutando Paulo Sérgio (1944 – 1980) entoar a canção Pro diabo os conselhos de vocês, cujo título não poderia ser melhor.

E eis que no próximo dia 12 Lula será diplomado, juntamente com Geraldo Alckmin, Presidente e Vice-Presidente do Brasil. Enquanto isso, acampamentos se mantém nas proximidades de alguns quartéis do Exército. Como vergonha pouca é bobagem, seus integrantes autodenominados de “patriotas” berram, oram e choram clamando por uma intervenção militar que não ocorrerá. E não ocorrerá, simplesmente por não ser esse o interesse do mercado. Golpistas civis e fardados não faltam. Mas se os donos do poder não querem golpe, então não haverá golpe. E não adianta ficar passando ridículo na rua, na chuva, em frente a um quartelzinho de sapé ou tentando contato com extraterrestres. Perderam! Diante de todo esse festival de besteiras que assola o país, como diria Stanislaw Ponte Preta, uma pergunta séria se faz necessária: quem está bancando todos esses ataques ao Estado Democrático de Direito? Paisanos e fardados ficarão impunes, para voltar a esfaquear a Constituição na primeira oportunidade que surgir? 

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A dor dos fascistas é que a maioria do povo brasileiro escolheu viver em um país decente e inclusivo, com cultura, saúde e comida para todos. O Brasil escolheu a vida. Assim, no dia primeiro de janeiro de 2023, Lula subirá a rampa do Palácio do Planalto pela terceira vez, como Presidente de todas as brasileiras e brasileiros. Serão tempos difíceis, não nos iludamos. Mas o que foi fácil na vida de Luis Inácio? O que tem sido fácil na nossa brasileira vida de sempre? Em meio aos escombros daquilo que já foi uma nação, Lula é, parafraseando o poeta, como a flor que fura o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. E floresce no solo de uma terra arrasada, mas de coração pulsante.

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