Comissão da Verdade propõe uma soma cujo resultado será zero

Quanto aos cerca de 100 ogros remanescentes, podem dormir tranquilos: a única Justiça que ainda poderá alcançá-los é a divina



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A Comissão Nacional da Verdade entregará seu relatório final depois de amanhã (4ª feira, 10). Segundo apuraram os repórteres Lucas Ferraz e João Carlos Magalhães, em notícia publicada apenas no site da Folha de S. Paulo (vide íntegra aqui), dele constará o nome de aproximadamente 300 agentes do Estado responsáveis por assassinatos, torturas, estupros, ocultação de cadáveres e outras barbaridades perpetrados pela ditadura militar.

Já a conselheira Rosa Cardoso da Cunha fala em "quase 380", incluindo todos os ditadores que usaram a faixa presidencial. Os ainda vivos devem girar em torno de uma centena.

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Suponho que o relatório cumpra sua finalidade de deixar registrado para a posteridade quem violentou as leis e normas da vida civilizada durante aqueles anos medonhos. Era o mínimo que a CNV tinha obrigação de nos entregar. Resta verificarmos o quanto acrescentou ao que já se sabia graças a outras iniciativas (desde o extraordinário trabalho do grupo Tortura Nunca Mais até as investigações jornalísticas) e em que medida apenas sistematizou o anteriormente apurado.

Restos mortais dos resistentes executados e pulverizados pela repressão ditatorial, nenhum foi encontrado. Deveriam ter chamado o combativo Ivan Seixas que, com recursos infinitamente menores, produziu resultados infinitamente melhores no episódio das ossadas de Perus...

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Proteção às testemunhas-chave não foi o forte da CNV. Duas acabaram sendo assassinadas em circunstâncias altamente suspeitas.

Quanto aos cerca de 100 ogros remanescentes, podem dormir tranquilos: a única Justiça que ainda poderá alcançá-los é a divina.

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Resistentes dizimados: carrascos continuarão impunes.

A CNV decidiu pedir sua responsabilização, mas não a revisão da anistia de 1979. Ou seja, propôs uma soma cujo resultado será zero.

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Saiu pela mesmíssima tangente dos ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi, quando o Ministério de Lula medrou em 2008.

Naquela ocasião, foi vencida a corrente que defendia a revogação do simulacro de anistia imposto mediante chantagem pelos tiranos em plena tirania (a moeda de troca eram os presos políticos que seriam libertados e os exilados que receberiam permissão para voltar) e sua substituição por uma anistia de verdade, decidida por um estado de direito. Então, os dois principais derrotados, para salvarem a própria imagem, apontaram às vítimas sobreviventes e às suas famílias o ilusório caminho dos tribunais.

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Cantei a bola de que ficariam patinando sem saírem do lugar, pois a Lei da Anistia, enquanto vigesse, seria obstáculo intransponível à punição dos torturadores. E o Supremo Tribunal Federal, numa das decisões mais estapafúrdias e escabrosas de sua História, confirmou sua validade em 2010.

Os sucessivos episódios de desacatos militares e panos quentes aplicados por Lula e Dilma me levam a cantar mais esta bola: apesar de as mudanças na composição do STF ter sido suficiente para a reversão de algumas decisões do julgamento do mensalão, o mesmo espírito de alterar o antes decidido não se aplicará ao reconhecimento ou não da bizarra anistia que igualou algozes e vítimas.

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Foi irresponsável deixá-lo desprotegido

Os processos contra torturadores que vencerem os obstáculos das instâncias iniciais continuarão sendo fulminados pelo Supremo, como vem sucedendo até agora.

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Os togados talvez saíssem de sua cômoda inércia se houvesse disposição, por parte dos paisanos palacianos, de pagarem pra ver, expondo os blefes da caserna. Mas, não há e seria ingenuidade pensarmos que haverá num ano que se prenuncia tão turbulento (por outros motivos) como o de 2015. Então, a tendência é de que uns permaneçam empacados e os outros fingindo que a encrenca não lhes diz respeito. Alguém duvida?

Houve outro prognóstico meu, na mesma linha, que os fatos confirmaram. Em janeiro, quando vazou para a imprensa a informação de que a Comissão da Verdade estava dividida quanto a propor ou não a cassação do habeas corpus preventivo que os tiranos e seus esbirros outorgaram a si próprios em 1979, eu já previ o desfecho da comédia (vide íntegra aqui):

"Temo que a revisão da Lei da Anistia venha a ser recomendada pela CNV apenas na hipótese de derrota [eleitoral] da Dilma; seria um dos vários abacaxis a serem colocados no colo do(a) sucessor(a).

E que, vitoriosa, ela não queira nem ouvir falar do assunto, com a CNV abstendo-se de causar-lhe aborrecimentos".

Na mosca!

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