Com ajuda de Alexandre de Moraes, Bolsonaro sobrevive ao combate do fim do mundo
"O aguardado combate do fim do mundo em torno da pedofilia de Bolsonaro não ocorreu", escreve o jornalista Mario Vitor Santos
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Por Mario Vitor Santos
No primeiro debate entre Lula e Bolsonaro pelo segundo turno das eleições presidenciais inaugurou-se uma forma de interação inédita entre presidenciáveis.
Os candidatos tiveram muito mais oportunidades de livremente escolher temas, trocar perguntas, fazer acusações, se movimentar, se dirigir às câmeras, se encarar e até se tocar, sem a intervenção direta de mediadores em dois blocos grandes, de trinta minutos cada.
Na maior parte do debate, estiveram apenas restringindo por genéricos limites de tempo total disponíveis igualmente para cada um.
Liberados, os candidatos puderam se mostrar como são, de uma maneira inédita. Lula exibiu seus trunfos habituais, em especial no primeiro bloco, mas Bolsonaro, travado e tenso, revelou-se de uma fragilidade impressionante.
Neste mesmo primeiro bloco, o presidente em exercício parecia incapaz de encaixar ou devolver os golpes que Lula desfechou sem parar, em especial sobre o desempenho do presidente na pandemia.
Ficou sem resposta a acusação de provocar por negligência no mínimo 400 mil mortos. Errou dados, por exemplo, da inexistência de mortes de crianças por COVID 19, tendo mostrado um despreparo constrangedor para um presidente da República, mesmo sendo ele. Vale notar a fala de Bolsonaro seguidamente esforçada por uma tosse insistente. Justo quando o tema era uma epidemia de insuficiência respiratória. Coincidência?
Bolsonaro falhou de novo ao não conseguir sustentar a escandalosa mentira sobre a autoria da transposição do São Francisco. Com números (81% da obra concluídos em seu governo contra 3% de Bolsonaro), Lula desmontou o estelionato. E como reagiu Bolsonaro? Deu-lhe parabéns!
Bolsonaro também não conseguiu responder aos dados trazidos na área de segurança por Lula, lembrando que construiu cinco presídios de segurança máxima contra nenhum do atual presidente. O mesmo ocorreu com a pergunta de Lula sobre criação de universidades (18 novas, com 173 campus universitários) e institutos federais (360). A essa altura, Bolsonaro, mesmo tendo conseguido atingir Lula no tema da corrupção, já tinha a guarda baixa. Constrangido, procurou pôr a mão ou dar tapinha nas costas de Lula. Estava na verdade exposto a um nocaute que não ocorreu. Lula gastou todo seu tempo com temas repetitivos. Com cinco minutos finais de tempo para atacar sem nenhum segundo para resposta de Lula, muitos temeram um massacre. Mas Bolsonaro simplesmente mostrou como é raso e alheio aos temas do governo.
Repetiu golpes a esmo de surrada cantilena anticomunista, distante dos problemas da população, o imenso tempo lhe sendo como um suplício interminável e pesado. No novo formato, Lula tem que melhorar em áreas como gestão do tempo, e precisa treinar pôr em jogo muitos mais temas de governo passado e futuro, como as propostas para a economia ou para a diplomacia.
Bolsonaro tem trunfos recentes na área dos preços e da atividade, mas segue com grandes vulnerabilidades na qualidade do emprego e na sustentabilidade de suas medidas eleitoreiras. O aguardado combate do fim do mundo em torno da pedofilia de Bolsonaro não ocorreu, com a ajuda de última hora da censura imposta pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.
Pesquisa do Atlas Intel mostra que o derrotado no debate, na opinião de grupos focais formados por eleitores indecisos, foi Bolsonaro. É o resultado de seu desempenho precário. Pior que ele só os jornalistas do debate e seus veículos, mas essa é outra conversa.
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