Collor, 22 anos depois
Uma relação distante com o Congresso e graves problemas na economia abriram espaço para perda de popularidade e enfraquecimento político. Daí para o surgimento de denúncias foi um saltinho
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Passado e presente sempre se encontram como se cobrassem conclusão e/ou continuidade dos fatos. Vinte e dois anos depois, o 32º presidente do Brasil, de 1990 a 1992, Fernando Collor, estava diante de sua própria história num julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta (24).
Voltando um pouco mais ao passado, Collor enfrentou uma eleição disputada, em 1989, com a opinião pública dividida principalmente entre ele, Leonel Brizola, Lula, Mário Covas, Paulo Maluf, Guilherme Afif Domingos e Ulysses Guimarães. Liderou o primeiro turno com 28,52% dos votos. Foi para o segundo com Lula. Venceu com 50,01% dos votos, apenas 5,71% a mais que o petista.
O governo Fernando Collor foi marcado pela implementação do Plano Collor e a abertura do mercado nacional às importações e pelo início de um programa de desestatização. Porém, uma relação distante com o Congresso Nacional e graves problemas na economia abriram espaço para perda de popularidade e enfraquecimento político. Daí para o surgimento de denúncias de corrupção no seu governo foi um pulo, na verdade apenas um saltinho.
O fato concreto agora é que o STF o absolveu por falta de provas. E mais: este foi o último processo existente do período em que governou o País. Agora, do ponto de vista jurídico, o passado foi "passado a limpo".
Como vivemos à época de intensas e imensas denúncias de corrupção – mensalão, Petrobras, PSDB em São Paulo e Minas Gerais, caso Gautama em Alagoas – o político Fernando Collor certamente terá discurso para enfrentar novos desafios.
Primeiro, como já anunciou, o retorno ao Senado Federal. Depois, pelo histórico de desafios eleitorais que já enfrentou, será que vai topar peitar o passado iniciado em 1989?
Bom, jornalistas que acompanharam direta ou indiretamente fatos históricos de grande repercussão – morte do empresário Paulo César Farias, o afastamento de Collor, enfim casos que mobilizam imprensa e opinião pública, por exemplo, percebem que muitas vezes somos levados pela emoção e pelas declarações na apuração dos fatos e dados.
Sobre isso, para ilustrar, em 2011, o jornalista Caco Barcellos, da Globo, parecia, durante um Seminário sobre "Poder Judiciário e Imprensa", promovido pela Escola de Magistratura da Justiça Federal da Terceira região, antever os erros cometidos pela imprensa ao se pronunciar sobre o preconceito de classe. Alguns detalhes reproduzo na íntegra, abaixo:
Caco Barcellos diferenciava o jornalismo investigativo e o declaratório. Dizia "que o investigativo é o do repórter ativo, que investiga antes de a informação se tornar pública, ouvindo os envolvidos e, a partir das declarações, começa a investigar, confrontar a declaração com os fatos que apurou. Declaratório é o jornalismo praticado na maioria das redações brasileiras. Basta uma fonte da área publica ou privada e isso, por si só, se torna uma notícia. E ao ouvir o outro lado, o que esse jornalismo declaratório consegue, na melhor das hipóteses, é criar uma polêmica. Aí ele deu exemplos desastrosos de jornalismo declaratório. "Um ocorreu no lado direito do espectro político e outro, no lado esquerdo. No lado direito, o impeachment do Presidente Collor se iniciou na imprensa com a entrevista de um irmão ressentido".
Concluindo, Caco Barcellos disse ainda que "a imprensa não provou uma linha do que ele disse. Collor sofreu uma punição política, mas não se provou nada contra ele. A denúncia judicial e a denúncia de imprensa devem ter sido, portanto, incompetentes. É no que dá o jornalismo declaratório".
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