Cobrança apressada de provas contra golpistas só ajuda bolsonarismo

"Ao multiplicar editoriais exigindo que Moraes apresente 'provas' sobre a conspiração de empresários, a mídia presta serviço ao bolsonarismo", diz Moreira Leite

(Foto: ABR | Reprodução)


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ara começar, é bom reconhecer que os diálogos já conhecidos contém indícios graves e consistentes sobre uma trama contra a democracia. Não são conversas vagas sem propósitos claros. Nem é muito difícil entender o que as gravações estão dizendo. 

As conversas formam um roteiro com começo, meio e fim. Mestre do jornalismo brasileiro, Elio Gaspari, autor da indispensável serie de 5 volumes sobre a ditadura de 64, dizia que há uma uma providencia  elementar para compreender casos difíceis, sem lógica aparente e enredo obscuro: ordenar os fatos em ordem cronológica e assim avaliar seu sentido e significado. É dessa forma que se pode compreender  os já divulgados  dialogos de celular entre empresários bolsonaristas. 

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Lidos em separado, parecem frases soltas, um caos.  Ordenadas pela data em que os diálogos foram travados, elas ajudam a contar uma história com começo, meio e fim. 

A primeira fala divulgada, com data de 17 de maio, é uma frase de quem está dentro de uma  conversa sem subterfúgios a respeito de um golpe de Estado no país.  O empresário Marco Aurélio Raymundo, dono da Mormaii, que vende roupas de surf em franquias espalhadas por  11 estados brasileiros mais o Distrito Federal, deixa claro que já tomou partido na discussão. Argumenta que deve-se aguardar um conflito violento, entre lados opostos da vida política, pois é "utopia" pensar que "as coisas se resolvem 'na boa'". Ele prossegue: "Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se torna sangue de heróis. A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ' bonzinhos' sempre foram dominados...Quando o mínimo de regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou (se) vai valer pontapé no saco e dedo no olho". 

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Com data de 10 de junho, três semanas depois do "pontapé no saco e dedo no olho"de Marco Aurelio Raymundo, aparece uma intervenção de Vitor Odisio, engenheiro e CEO da Thavi Construção. Se a primeira falava sobre o que fazer, esta situa o quando e o como."Tem que intervir, esquecer o TSE, montar uma comissão eleitoral (como quase todos os países do mundo fazem), votação em papel e segue o jogo". 

Em 31 de julho, ocorre o que podemos chamar de roda de conversa. As posições estão claras em torno de um plano para o 7 de setembro.  "O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top", elogia Raymundo, fabricante de roupas de surf, "e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro."

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Ivan Wrobel, proprietário da construtora W3 Engenharia, manifesta a mesma opinião. Explica que o desfile militar terá a função de amedrontar a Justiça Eleitoral:  "quero ver se o STE (TSE) tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na avenida Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público". 

A convicção golpista é tão profunda que até surge uma voz de lamento para dizer que já se perdeu muito tempo. 

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"O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo, (em) 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais", diz Andre Tirsso, do grupo Sierra, especializada na venda de imóveis de luxo.  

Ninguém pode imaginar que uma articulação desse vulto, destinada a derrubar a ordem constitucional de um país que o maior PIB da América do Sul e uma influencia diplomática correspondente será revelada no fim de uma investigação tradicional e corriqueira. Pelo contrário. 

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Será preciso penetrar nos segredos das fatias mais poderosas da sociedade brasileira, um mundo que possui vários segredos, armadilhas e rotas de fuga -- sem falar num cofre em condições de oferecer qualquer quantia para comprar a própria impunidade. Será preciso contar com uma vontade política de ferro, capaz de impedir recuos acovardados e estimular avanços bem orientados. Lances de sorte -- como depoimentos espetaculares de delatores -- podem ajudar mas a experiencia ensina que não se pode contar com isso. O grande erro -- ou esperteza exagerada, acobertada por palavrório cívico -- seria desprezar o valor dessas conversas e fingir que nada representam. 

Há muito para explicar e para descobrir. 

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Alguma dúvida?

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