CNBB deve denunciar no Sínodo da Amazônia as péssimas intenções de Bolsonaro
O governo Bolsonaro anuncia um conjunto de obras para dar a entender que está levando algum desenvolvimento econômico para a região. Em vez do progresso, no entanto, tais obras devem atender principalmente os interesses de grandes empresas do Centro-Oeste
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Com medo de ser denunciado no Vaticano em outubro durante o Sínodo da Amazônia por suas péssimas intenções de ampliar o agronegócio e, por consequência, o desastre ambiental e social na região da grande floresta amazônica, hoje já devastada em mais de 20%, o governo Bolsonaro anuncia um conjunto de obras para dar a entender que está levando algum desenvolvimento econômico para a região.
Em vez do progresso, no entanto, tais obras devem atender principalmente os interesses de grandes empresas do Centro-Oeste em ampliar a produção e a exportação de sua indústria totalmente mecanizada de grãos, que só tem ampliado nas últimas décadas o desmatamento da maior, mais rica e mais bonita floresta tropical do mundo.
As obras anunciadas se constituem nas construções de uma hidrelétrica na cidade de Oriximiná (PA) para abastecer de energia as grandes empresas da Zona Franca de Manaus e de uma ponte sobre o rio Amazonas na cidade de Óbidos (PA) para ligar as duas margens do rio Amazonas. Além disso, promete ampliar a rodovia federal BR-163 (Cuiabá-Santarém) de Santarém até a fronteira do Suriname, criando mais um caminho para o escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste e cumprindo o que governo alega ser parte da integração da região Norte.
Na parte Ocidental da Amazônia, não há obras previstas por enquanto, mas os governos do Acre, Rondônia e Amazonas já pressionam o governo federal para recuperar a BR-319, antiga rodovia federal que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM). Trata-se de uma rodovia que deu a partida para a devastação do Amazonas, considerado o maior estado florestal do mundo, mas que também já apresenta elevado e crescente índice de desmatamento florestal.
Vale acrescentar que o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), filho do maior empreiteiro do Amazonas, Eládio Cameli, está levando secretários e grandes empresários do agronegócio de Rondônia para transformar o estado natal de Chico Mendes coberto por 87% de floresta num grande plantio de soja, que vai se somar à pecuária de três milhões de cabeças de gado já existentes no estado para, ambos, pressionarem por mais derrubadas.
No frigir dos ovos, a simulação de desenvolvimento do governo Bolsonaro para a Amazônia deixou um rastro de pólvora de alto teor explosivo no meio político da capital federal, onde a oposição no Congresso já manifesta interesse de investigar o escândalo que alguns políticos da oposição já apelidaram de "CNBBGate" de Bolsonaro.
O escândalo veio embutido na série de reportagens publicada no último domingo pelo jornal O Estado de São Paulo mostrando que a Agência Nacional de Inteligência (Abin) resolveu participar com agentes infiltrados de reuniões preparatórias para o Sínodo da Amazônia, que acontece em outubro, em Roma, por receio de que o evento seja “instrumentalizado” pela esquerda para fazer críticas à política de Bolsonaro para os índios e o meio ambiente da região.
Uma política, aliás, que só tende a agravar a situação de velho oeste ainda predominante na maior parte da Amazônia, onde o poder da bala, da droga, da corrupção, da grilagem, do latifúndio, das fazendas, das mineradoras, dos plantadores de soja e do tráfico de influência nos poderes públicos contribui diretamente para a ampliação da devastação ambiental tem transformando num grande inferno a vida de milhões de índios, seringueiros, ribeirinhos e dos demais povos que a habitam e a defendem secularmente.
Com ou sem a Abin e os fantasmas criados nas cabeças ocas dos velhos generais de Bolsonaro saudosos da ditadura militar e temerosos da pacífica CNBB, os bispos brasileiros que irão ao Sínodo da Amazônia não só precisam, como devem alertar e denunciar ao Papa, à Roma e ao mundo o clima da tragédia referida acima na região, lembrando que a floresta em pé vale muitas vezes mais como geradoras de emprego e renda para a sua população nativa do que ela derrubada pelos grandes empreendimentos do agronegócio, totalmente mecanizados e enriquecedores apenas de algumas poucas famílias abastadas.
Nossos religiosos também não podem esquecer de lembrar ao mundo a essencialidade da grande floresta para o equilíbrio climático da Terra e para a geração das chuvas preciosas que ela manda anualmente para alimentar a vida e a produção dos milhões de habitantes do Centro-Sul e do Sul do Brasil e da América do Sul.
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